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Os ‘100 Dias’ com governos sufocados pela pandemia

Período em que por tradição se analisa as administrações públicas foi subjugado pela Covid

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
12 de abril de 2021 - 10h25

A rigor, governo algum consegue colher resultados ou implantar por completo políticas públicas eficazes em três meses e pouco. De toda sorte, os primeiros 100 dias são sempre acompanhados de análises e observações sobre as ações no referido período, particularmente quando se trata de novas gestões, – casos de não reeleição.

Contudo, em se tratando de um ano tão excepcional como 2021, marcado por uma pandemia sem igual e que não obstante iniciada em 2020 vem se recrudescendo de forma assombrosa nos últimos meses, – qualquer avaliação que se faça, por mais rudimentar que seja, está sujeita à imprecisão e ao erro.

Assim, salvo melhor juízo, apontar de forma abrangente erros e acertos do executivo municipal, seja em Campos ou em qualquer outra cidade, é tarefa que se afigura caminhar em terreno movediço e enganoso. Evidente, em se tratando de ações e situações pontuais, é possível enxergar aqui e ali melhor ou pior desempenho. Mas, ainda assim, com inevitáveis ressalvas para um lado ou para outro.

É simples. Infelizmente simples: a pandemia é um eletroímã que vem canalizando para si 100% das energias e deixando todo o resto à exaustão. Torná-la menos agressiva e tentar diminuir a transmissão do vírus tem sido uma luta inglória, que exige do setor público malabarismos de toda ordem, dia após dia, sem trégua.

Naturalmente os “100%” mencionados têm boa dose de hipérbole, tendo em vista que o básico da administração pública – seja em Campos, seja onde for – segue funcionando com as limitações que circunstâncias permitem.

A pandemia é um pesadelo de várias faces, porque ao mesmo tempo que tira vidas e atinge em cheio o sistema hospitalar, reflete, também, na economia, com períodos de lockdowns que debilita a atividade econômica e eleva o desemprego.

Trata-se, sem exagero, de um drama: de um lado, hospitais com 100% de taxa de ocupação e pessoas morrendo; de outro, fechamentos para diminuir a circulação de pessoas e tentar conter a transmissão do vírus, mas com sérias consequências para a economia.

Os 100 dias do governo Wladimir

Para o prefeito Wladimir Garotinho o cenário sofre a agravante do município acumular, há alguns anos, substanciais perdas de receitas, além de ter assumido a administração com salários atrasados. Diante de protestos, Wladimir não se furtou a falar diretamente com os manifestantes que cobravam a regularização – o que não é missão fácil – e está procurando colocar os salários em dia.
Enfrentando a partir de março o pior período da pandemia, é muito difícil aferir, em meio à tempestade perfeita, o nível de acertos das ações. Há os que defendem que o momento mais apropriado para o lockdown total teria sido janeiro – com restrições duras e prolongadas. Segundo esse entendimento, o resultado, talvez, fosse uma situação menos severa que agora. De certa forma, faz sentido. Mas, seja como for, não ultrapassa as fronteiras da especulação.

Também há de se interpretar como um simbolismo – uma tentativa de passar otimismo para a população – as imagens do prefeito Wladimir descarregando caixas de vacinas no aeroporto. Afinal, não é função do chefe do executivo tal tarefa, mas sim administrar o município. Mas, de toda sorte, há de se tentar entender o gesto do prefeito como de incentivo à vacinação… do esforço de todos em favor da imunização – e não algo diferente disso.

Enfim, trata-se de um período de batalhas intensas, onde erros fatalmente irão acontecer e são normais que aconteçam. Contudo, casos como a denúncia do Sindicato Estadual dos Professores da Educação (Sepe) – que envolve a morte, por Covid, da professora Denny Barroso, e que segundo o mesmo Sepe fazia parte do grupo de risco – é algo que, pela gravidade, a Prefeitura precisa apurar e esclarecer.

O espectro do desconhecido

Em linhas gerais, fato é que todos os governantes lutam contra a maior pandemia dos últimos 100 anos e que ora se encontra em seu pior momento. As batalhas são contra um vírus desconhecido, que se apresenta de diferentes formas, que mata implacavelmente, e que impõe a todas as esferas da administração pública atenção absoluta.

Os reflexos da crise sanitária sem precedentes são como uma gigantesca rocha que jogada ao mar produz ondas em todas as direções. Enfim, se em tempos de normalidade os ‘100 dias de governo’ não permitem análises senão superficiais e meramente indicativas de tendências, quase nada pode ser dito nos tempos atuais.

História – A origem dos “100 Dias” está na França, no ano 1815. Após fugir da ilha de Elba, onde estava exilado, o imperador Napoleão Bonaparte retorna a Paris e reassume o governo. Meses depois, forças aliadas derrotam Napoleão, que novamente é levado ao exílio, desta vez na ilha de Santa Helena. O período compreendido entre o retorno e o novo exílio ficou conhecido como o ‘Governo dos Cem Dias’ ou ‘Os Cem dias de Napoleão’.