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Mães e a experiência de dar à luz na pandemia: nascimentos aumentaram em Campos

Elas relatam o medo que sentiram ao se descobrirem grávidas; cinco mulheres contam comoventes histórias relacionadas aos seus bebês

Comportamento
Por Redação
12 de abril de 2021 - 0h01
Viajando com dois | Brenda precisou levar os filhos para outra cidade durante a pandemia

Se a gravidez já é, por si só, uma fase de receios e adaptações, durante uma pandemia, essas sensações se multiplicam. Já faz mais de um ano que a Covid-19 chegou ao Brasil e tirou a vida de mais de 800 pessoas somente em Campos. Mas, na contramão da tristeza gerada por essas perdas, outro dado chama a atenção: no mês de janeiro de 2021, quando se completaram 40 semanas do início da crise sanitária, foi registrado um aumento no número de nascimentos no município. Nesta reportagem, o Jornal Terceira Via ouviu os relatos de algumas dessas mulheres que se tornaram mães nesse cenário pandêmico e que precisaram de uma dose extra de coragem.

Assim como todos, Jennifer, Brenda, Laura, Bia e Mayan precisam lidar com o risco de contrair um vírus letal, mas, no caso delas e de outras tantas mamães recentes, esse medo é somado a outros, já esperados em uma gravidez.

Final feliz | Após sofrer dois abortos, Jennifer deu a luz à Ísis

Medo em dobro

A modelo Jennifer Bordone, por exemplo, sofreu dois abortos antes de engravidar da Ísis, que nasceu em junho do ano passado. “Quando a pandemia começou, de fato, fiquei apavorada porque não havia muitos relatos de grávidas e Covid. O medo de perder outro filho me consumiu. Aliás, eu tive de lutar contra dois medos: o do aborto e o da contaminação pela doença”, conta ela que não foi infectada até hoje.

Mas, mesmo após o parto, o receio continuava. “Fiquei apenas 24 horas no hospital, com receio de pegar a doença ali. Além disso, foi ruim não poder receber visitas ou decorar o quartinho da Ísis, porque, diante dessa pandemia, tudo é muito arriscado. Ainda assim, estou feliz porque eu e minha bebê estamos com saúde”, comemora.

Sem visitas | Fabiana relata a tristeza que sentiu por não poder estar perto da família e amigos na gravidez

O medo também tomou conta da mamãe Fabiana Nunes Cabral Monteiro. Ela relata a tristeza que sentiu por não poder estar perto da família e dos amigos mais próximos durante a gravidez. “Doía em mim não poder ver meus pais e irmãs. Quando eu os via, mesmo que a distância, meu coração chorava por não poder dar um abraço e receber o carinho físico que sempre tivemos. Inclusive, a minha gravidez era um sonho dos meus pais e eles não puderam aproveitar como gostariam por causa dessa pandemia. A todo momento eu achava que ia perder alguém da minha família, tinha medo de tudo…”, conta.

Hoje, embora o medo maior já tenha passado, os cuidados continuam. “Não aceito visitas e sempre que posso escolho ficar em casa. A maternidade já é uma experiência solitária, mas, diante desse contexto, tornou-se ainda mais”, declara.

Dois bebês no aeroporto

Já a mamãe Brenda Guimarães descobriu sua segunda gravidez quando Campos entrou em lockdown pela primeira vez, em maio de 2020. “Foi um susto para mim porque meu primeiro filho, o Lucca, era muito pequeno, tinha 1 ano e 3 meses e eu ainda amamentava! Mas fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo, muito preocupada com a Covid”, disse ela que teve um pré-natal tranquilo e sem complicações. Liz nasceu em janeiro de 2021.

Mas a dificuldade veio depois. Devido ao fato de o seu marido ser jogador de futebol e trabalhar no litoral do Paraná, Brenda precisou da ajuda da família para cuidar de casa e das crianças, até decidir ficar mais perto do marido. “Tive muito medo de ser contaminada ou mesmo de meus filhos contraírem o vírus no aeroporto, dentro do avião. Coloquei Liz no canguru e Lucca veio no carrinho até a hora do embarque. Tomamos todos os cuidados e as aeromoças foram muito atenciosas. Graças a Deus deu tudo certo”, lembra.

Mamãe Laura | Pegou Covid e José nasceu antes da hora

Grávidas com Covid

A dentista Laura Burla descobriu que estava grávida em março de 2020, quando iniciaram as medidas de contenção do vírus no Brasil. Por ser autônoma, ela precisou retornar ao trabalho em maio, mas a angústia acabou gerando algumas complicações na gravidez. “Primeiro minha pressão subiu. Depois, no final da gestação, acabei contraindo a Covid. Meu caso não foi grave, mas perdi líquido amniótico e o meu José nasceu antes da hora”, conta. O susto passou. Hoje José tem cinco meses, mas, até hoje, não recebeu visitas fora do círculo íntimo familiar.

A enfermeira emergencista Mayan Muniz Rocha está no 8º mês de gestação da Ayla. Ela trabalha na linha de frente de enfrentamento da Covid-19 no Hospital Dr. Beda e a notícia da gravidez lhe pegou de surpresa, embora tornar-se mãe já estivesse nos seus planos.

“Em janeiro de 2020, decidimos, eu e meu marido, tentarmos uma gravidez, mas, em março, nossa vida mudou radicalmente. Um turbilhão de informações, protocolos e treinamentos preencheram nosso dia a dia profissional. Fui estudar, me preparar e treinar a equipe de profissionais que atua comigo. Então decidimos adiar os planos, mas, em setembro, nossa pequena Ayla resolveu que, mesmo não parecendo ser o momento mais propício e seguro, era a hora de ela vir ao mundo. Estávamos muito felizes pela notícia divina da gravidez, mas, ao mesmo tempo, e agora?”, recorda.

Ela decidiu continuar atuando no setor de emergência e manter-se ativa nesse período, mas, em janeiro, recebeu o diagnóstico positivo para Covid. “Medos, angústias, inseguranças vieram à tona… Afinal não era só eu, tinha alguém dentro de mim em formação e que compartilha minha imunidade, minha energia e, naquela ocasião, também a doença. Mas graças a Deus, desenvolvi sintomas leves que pude me tratar em casa. Tivemos alguns sustos: corticoide venoso, anticoagulantes, um sangramento, muitos exames para acompanhá-la, mas graças a Deus ficou tudo bem conosco!”, disse Mayan que já está com 37 semanas de gravidez.

Mamãe na linha de frente | Enfermeira Mayan está prestes a dar à luz Ayla

“Tem sido desafio sim estar grávida em pandemia e ainda mais na linha de frente, mas essa experiência me transformou numa profissional melhor e não tenho dúvidas de que uma mãe melhor também”, concluiu.

Mais bebês em Campos

Levantamento da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro (Arpen-RJ), com base nos registros de nascimentos realizados nos 12 Cartórios de Registro Civil existentes no município, mostra uma alta de 5,94% nos registros realizados em janeiro de 2021.

Foram realizados 678 registros de nascimentos, número 5,94% maior que em janeiro do ano passado, que registrou 640 nascimentos. O número ainda é 6 pontos percentuais maior que a média histórica estadual do mês de janeiro desde 2002, que é de 0,41% ao ano, número que se repete quando se olha o período anual.

No estado do Rio de Janeiro, no entanto, os números de registros de nascimentos em janeiro tiveram queda. Foram realizados 14.659 nascimentos, número 19,3% menor que o registrado em janeiro do ano passado, quando houve 18.185 registros. O número é ainda quase 20 pontos percentuais menor que a média histórica estadual do mês de janeiro desde 2002, que é de -0,17% ao ano, número que se repete quando se olha o período anual. Os dados constam no Portal da Transparência do Registro Civil: (https://transparencia.registrocivil.org.br/inicio).