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A posse que não aconteceu e mudou os rumos do Brasil

Há 31 anos, na véspera de assumir Presidência, Tancredo Neves era hospitalizado em estado grave. Sarney assume em 15 de março e Nação se vê frustrada

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
15 de março de 2021 - 11h40

Não se faz o registro da internação e da morte de Tancredo Neves apenas pela data e fato históricos – episódios que por si mesmos representam uma das passagens mais trágicas e importantes da vida política brasileira. Mas, indo muito além e com boa dose de inferição, busca-se especular como aquele distante e triste evento estaria a repercutir até hoje no Brasil, particularmente quando o País se vê mergulhado em grave crise de governança.

É simples, ressalvando que o “se”, invariavelmente, encerra uma ficção ou exercício de futurologia. Mas, por outro lado, uma pedra mexida no tabuleiro em determinado momento, invariavelmente terá reflexos nos movimentos futuros. Logo, se Tancredo Neves tivesse tomado posse e governado o Brasil, naturalmente que os episódios hoje pretéritos teriam outro curso, outro desdobramento e outros resultados.

Não há como adivinhar. Não há como dizer que o governo Tancredo teria colocado o Brasil no patamar ‘x’ ou ‘y’. Mas, o que não se pode desprezar, é que o nome eleito em janeiro de 1985 para comandar o País foi Tancredo – e não José Sarney.

Independente de qualquer coisa, a legitimidade pertencia a Tancredo. Ele fora escolhido no Colégio Eleitoral. Nele o povo brasileiro depositara suas esperanças. Ele era o político que o Brasil queria. E ele era o nome que se opunha desde longa data à ditadura.

Sem querer apelar para adivinhação – como já dito – é bem razoável presumir que uma peça estranha, o maranhense José Ribamar Sarney, entrou num tabuleiro que não foi montado para ele e ficou por 5 anos na cadeira que estava preparada para o ex-governador de Minas e ex-ministro de Getúlio Vargas.

Não há como negar que troca de peça tão importante certamente produziu outro curso, outro traçado e, com um pouquinho de adivinhação, possivelmente não faria com o que o Brasil ficasse mais tempo em ‘estado’ de impeachment do que de normalidade.

Governo Sarney frustrou no começo e no final

Hoje, olhando pra trás, não há como negar que depois de 21 anos de ditadura, o governo Sarney foi quase um desastre. Diz “quase” porque o oligarca, ao menos, conseguiu fazer uma espécie de transição e levou o Brasil à eleição direta. Teve, nisso, seus méritos.

Mas, se a desconfiança sobre Sarney começou desde a interinidade em março e definitiva em abril, com a morte de Tancredo, ela se manteve ao longo dos anos porque, no final das contas, o Brasil passou a ter como presidente um amigo do regime dos generais, e não um opositor ao golpe de 64. De mais a mais, foi um governo foi muito ruim, lançou uma infinidade de planos econômicos que fracassaram e entregou o País ao sucessor, Fernando Collor, com cerca de 100% de inflação ao mês. É preciso repetir para não parecer erro: é “ao mês” mesmo.

Não fora a abrupta mudança de rumo – agora sim, fazendo adivinhação, mas adivinhação plausível – Tancredo teria governado e ‘feito’ o sucessor que, obviamente, não seria o ‘Caçador de Marajás’, Fernando Collor.

Poderia ser Brizola, ou Ulisses, ou Covas, ou mesmo Fernando Henrique. Mas não seria Collor. E na sucessão de Tancredo que não aconteceu, dificilmente Lula. Mais à frente, talvez. Mas não naquele momento hoje hipotético.

Então, voltando à realidade, tivemos a desordem econômica de Collor, suas transgressões e o impeachment. Itamar assumiu dando calmaria ao Brasil e indicando FHC, que governou com razoável habilidade. Lula assumiu no melhor momento da economia mundial e teve seus méritos. Mas veio o mensalão, depois o Petrolão e novo impeachment de Dilma. O vice Temer também teve que ‘se virar’ para não ser afastado e Bolsonaro, com as bobagens que diz, as omissões e a crise sanitária que se avoluma de forma catastrófica, também é alvo de pedidos de impeachment.

Enfim, a História tem seus caprichos e falar depois é fácil. Mas, de todo jeito, sem Collor, Lula, Dilma e Petrolão, dificilmente teríamos Bolsonaro. E, com Tancredo, possivelmente a sucessão de nomes seria outro.

Por ora, Jair Bolsonaro é candidato a ser um dos piores presidentes que o Brasil já teve. Torçamos que, pelo bem da Nação, reverta o quadro atual que é de assustador infortúnio.

VIA EXPRESSA

Teria feito 20 anos

Lançado em 2001, se ainda estivesse circulando o jornal O Diário teria completado 20 anos neste início de março. Depois de 2 ou 3 anos, o veículo passou a disputar a liderança na imprensa regional, via de regra ‘rodando’ o 1º caderno (noticiário) com 14 páginas, o DMais com 6 e os classificados entre 12 e 16.

Sempre com muitas Edições Especiais, a publicação priorizava a venda avulsa de banca e a parte industrial ajudava na sustentação, com a impressão dezenas de jornais ‘de fora’.

Depois de alguns anos, contudo, a equipe responsável pelos avanços do jornal se afastou, o veículo passou a declinar e definhou até desaparecer. O fechamento foi ‘maquiado’ com o anúncio da mudança para versão on-line, que tem sido prego de caixão para muitos jornais. A Tribuna da Imprensa, o Jornal do Brasil, o Jornal do Commércio e vários outros tentaram disfarçar a evidência que o cerrar das portas, na maioria das vezes, é sentença implacável.

Crise sanitária

Na edição de domingo passado – ainda constante na versão digital – a página indagou “Até onde iria Bolsonaro?”, num dramático alerta de que o recorde de mortes e o descaso para com a doença ultrapassaram todos os limites do suportável.

Na semana que passou o insuportável deu as caras: nos dias 10, 11 e 12, pela primeira vez desde o início da pandemia, o Brasil registrou mais de 2 mil mortos; a média móvel é recorde; a campanha de vacinação corre o risco de ser suspensa e o ministro Pazuello está em vias de ser demitido.

Não precisa bola de cristal. Todos estão vendo os horrores de um Brasil travado e de joelhos. Mas… até quando?

Como ficou?

O caso estarrecedor completou um mês e ocorreu na Zona Norte de São Paulo: o marido, Leonardo Ceschin, de 34 anos, teria matado a facadas a mulher, Erica Fernandes, também de 34, porque a esposa estava festejando a vitória de seu time, o Palmeiras, que derrotou o Santos e conquistou Libertadores da América. Leonardo nem é Santos: torce pelo Corinthians.

É sabido que a imprensa não ‘vive’ do fato comum, mas daquele que assombra; nem de episódios normais, mas dos que trazem grande perplexidade. Mas, como ficou a história, não se sabe.

Há outras versões, mas a predominante é a de que Leonardo teria confessado o homicídio porque ficou furioso com a ‘festa’ da mulher. Érica era mãe dos gêmeos Enzo e Lorenzo. Em resumo: gente está matando gente pelos “motivos” mais banais.

Folha de S. Paulo, 100 anos

Com atraso, a página registra os 100 da Folha de S. Paulo, transcorridos no mês passado. Trata-se, ao lado de O Globo, do Estadão, do Correio Braziliense, do Zero Hora e do Estado de Minas, de um dos mais importantes jornais do Brasil. Contudo, disputa com o carioca o topo.

A Folha de S. Paulo é dona de um dos maiores parques gráficos da América Latina – especializada, particularmente, na impressão de jornais ‘para fora’, e nas últimas décadas é o jornal que mais investe em aperfeiçoamento editorial.

Para o Luiz Frias – filho de Octávio Frias de Oliveira, que comprou o jornal na década de 60 e morreu em 2007, aos 94 anos, e irmão de Otávio Frias Filho, que morreu em 2018, precocemente, aos 61 anos – “o avanço da internet, com todas as suas consequências, não diminui, mas aumenta a importância do jornalismo profissional: ele segue indispensável, seja no papel ou no digital.” – disse.