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A 6 meses de completar um século, Mercado Municipal retrata o lado decadente da cidade

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
2 de março de 2021 - 10h05

Um dos mais importantes espaços histórico-cultural e econômico de Campos padece cercado por tapumes 

O projeto de restauração, ampla reforma e melhorias no Mercado Municipal de Campos segue emperrado e, por diferentes motivos e entendimentos conflitantes quanto ao modelo final que deverá exibir – contemplando ou não espaço para os ambulantes, etc. – fato é que há décadas o Mercado amarga a imagem decadente onde se vê a torre caindo aos pedaços, relógio quebrado, telhado em péssimas condições e o prédio, no todo, necessitando de profundos reparos para melhor funcionalidade e conforto dos permissionários e consumidores. 

A questão é que atravessando dificuldades financeiras e no meio de uma pandemia, dificilmente a Prefeitura poderá viabilizar algo minimamente compatível com evento de tamanha importância como o centenário do Mercado Municipal. Isso, quer pela impossibilidade de comemoração, quer no contexto de devolver ao povo um de seus mais valiosos espaços históricos, culturais e, principalmente, comerciais.  

Por ‘devolver’ entenda-se, naturalmente, condição de plenitude – a de favorecer que todos possam extrair do local o máximo de funcionalidade. E quando se dá destaque à perspectiva comercial não se está, de forma alguma, menosprezando o aspecto histórico-cultural, mas apenas realçando a questão econômica do Mercado, tendo em vista tratar-se do mais acessível e democrático ambiente disponível ao consumidor – em especial o simples do povo – na compra de produtos mais em conta e com grande volume de variedade. 

Subutilizado e maltratado, não segue exemplos de otimização 

Via de regra, os mercados municipais de maior tradição são, em suas respectivas cidades, prestigiados pontos turísticos que cumprem, ainda, a finalidade de fomentar ambientes de negócios.   

Constata-se exemplos bem nítidos no Mercado de São Paulo, conhecido como ‘Mercadão’ – inaugurado em janeiro de 1933 –, e no Mercado Central de Belo Horizonte, erguido em 1929 no coração da capital mineira.  

O paulista, em especial, é conhecido internacionalmente, sendo uma das referências mais marcantes da cidade. Amplamente divulgado, é ‘parada’ obrigatória para todos que visitam a cidade. Festejado pela qualidade e quantidade de seus produtos – pelas lanchonetes e restaurantes – é particularmente famoso pelas bancas de bacalhau importado e variedade de frutas. Impossível não citar, o tradicional sanduíche de mortadela é atração à parte, mas o bolinho de bacalhau não fica atrás.  

Prédio mostra o lado decadente da cidade 

Quando se fala em turismo, em produtos/comidas famosas e diversificação de negócios, é forçoso reconhecer que a tão longe o ‘nosso’ Mercado não foi. Não há notícias de pretensão de centro turístico – até porque não foi ‘trabalhado’ para isso – e tampouco inspirou nos governantes locais visão de que o espaço poderia e deveria ser explorado para além das funções básicas. 

De mais a mais, há cerca de 40 anos só recebendo remendos e ‘puxadinhos’ – o que faz com que nem mesmo consiga desempenhar suas finalidades primárias –  não há que se falar em aproveitamento turístico e outras janelas de oportunidades.  

Declínio – Numa outra face de abordagem, que não se circunscreve à questão laborativa ou ao aspecto arquitetônico-cultural, observa-se que a aparência do prédio mostra o lado declinante da cidade que, mesmo com altos e baixos, tem seus nichos de prosperidade e avanços. 

Assim, se a cidade exibe aspectos favoráveis – o que é uma verdade – o Mercado Municipal aparece como um dos símbolos do lado desfavorável. É dizer: encabeça uma espécie de ‘lista’ de pontos negativos.  

História viva – Na esteira de todo esse infortúnio não passa despercebido outro relevante enfoque: o Mercado Municipal é um bem público que, como poucos, conta a história da cidade. Tal qual a Catedral do Santíssimo Salvador, a Praça de São Salvador (apesar da ‘reforma’ desastrosa), o Chafariz e a Praça das Quatro Jornadas, o Liceu de Humanidades, a Igreja São Francisco, o Jardim São Benedito, o Palacete Finazinha Queiróz (Villa Maria), a Igreja da Lapa, o Palácio Nilo Peçanha e outros descrevem nossa vida… nosso acervo político, histórico-arquitetônico, cultural e econômico. E o Mercado Municipal, que data de 15/09/1921, é um dos mais significativos. 

De hoje até setembro não há tempo para praticamente nada. Talvez retirar os tapumes, limpar a área e fazer o possível para que o centenário não passe como se fosse um prediozinho insignificante, sem uma história para contar e um legado para deixar. 

No futuro, merece ser acolhido nos contornos do que representa aquele espaço que é do povo e um dia foi motivo de orgulho para o campista.