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Um ano de Covid e percentual de mortes já supera a gripe espanhola

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
24 de fevereiro de 2021 - 10h39

Do primeiro caso, em 26 de fevereiro de 2020, aos dias atuais, vacinação é a única boa notícia. Só que as doses estão acabando 

Na sexta-feira (26) o Brasil completa um ano desde a confirmação do primeiro registro de infecção pelo novo coronavírus. No longo caminho tortuoso, marcado por erros grotescos que colocam o País entre os piores do mundo no enfrentamento à doença, o programa de imunização iniciado na 2ª quinzena de janeiro foi o único passo na direção de conter o avanço da Covid. Entretanto, um passo curto, curtíssimo, porque as doses acabaram na maioria das cidades e a vacinação está sendo interrompida. 

A conclusão óbvia é que a imunização não fugiu à ‘regra’ da incompetência no combate à pandemia, visto que nem mesmo o ritmo extremamente lento da vacinação no Brasil impediu que os estoques fossem zerados. Logo, o processo de imunização acaba se tornando angustiante, tendo em conta que a luz no fim do túnel passa a ser uma luzinha e o ‘fim do túnel’ muito mais distante do que a expressão costuma representar.   

A escassez e a falta de doses corroboram a trajetória desastrosa das autoridades sanitárias do Brasil – particularmente do governo federal – que falharam também nos protocolos de compras de imunizantes e os resultados do atraso agora estão sendo sentidos: fomos para o fim da fila.  

O Ministério da Saúde deve receber a partir desta semana mais uma remessa de doses da CoronaVac. Contudo, face à lentidão com que as vacinas foram distribuídas – lembrando que os primeiros lotes de imunizantes estão sendo dirigidos apenas aos grupos prioritários – não era para haver falta a ponto de esgotar os estoques.  

Minoria ruidosa fez ‘Carnaval da Covid’  

Quase às vésperas de um ano do primeiro caso confirmado no Brasil, o ‘Carnaval da Covid’ expressou o desprezo de parte da população – talvez uma minoria, mas minoria ruidosa – pela pandemia e pelos mais de 243 mil mortos computados no Brasil até a quarta-feira de cinzas. 

O inconsciente coletivo faz parecer que não estamos sendo assolados pela maior pandemia dos últimos 100 anos. O ‘Carnaval da Covid’ mostrou que não existe um ‘novo normal’, mas o normal de sempre: gente insensível para com a dor alheia e o bem estar do próximo.  

Ao luto das centenas de milhares que choram seus mortos e à aflição de quem está com o pai ou a mãe numa UTI, respondem com seus batuques e aglomerações movidos a muita bebida. A máscara é adereço que serve ao deboche e os que passam filmando, quando não são agredidos, são ridicularizados. 

E ainda tivemos os ‘sem noção’, aqueles que por desinformação sequer sabem o que é uma pandemia ou o risco que correm, mas que também engrossaram a folia. 

Número de mortos equivale quase metade da população de Campos 

A pandemia já tirou até terça-feira (22) mais de 247 mil vidas, praticamente a metade da população de Campos – o maior município do interior fluminense –, estimada em 511 mil. Chega perto do total de habitantes de Macaé (261 mil) e é maior do que as populações juntas de seis municípios vizinhos: São Fidélis (39 mil), São João da Barra (37 mil), São Francisco de Itabapoana (42 mil), Italva (16 mil) e Itaperuna, cuja estimativa é de 104 mil habitantes. 

Com essas comparações é possível enxergar melhor, visualizar, o que são mais de 247 mil mortos. São 247 mil famílias – número que talvez já esteja sendo arredondado para 250 quando o texto chegar ao leitor. 

Ainda assim, nas praias aqui da região e Brasil afora, o carnaval que se pretendeu com aspas – mas não foi – percorreu os quatro dias de bares lotados, festas clandestinas e eventos que resultaram em aglomeração. 

Superando o percentual de óbitos da gripe espanhola   

Segundo registros históricos, entre 1918 e 1919 a gripe espanhola matou cerca de 35 mil brasileiros. Não havia hospitais públicos e a vacina só foi desenvolvida 24 anos depois. As autoridades sanitárias da época acreditaram que o avanço no tratamento da pneumonia e a mutação do vírus para uma estirpe de menor letalidade foram os responsáveis pelo desaparecimento do vírus. 

Contudo, a comparação percentual de óbitos entre ambas as pandemias mostra o quão letal está sendo a Covid-19: a gripe espanhola matou 35 mil pessoas quando a população era de 30 milhões de habitantes. Logo, 0,116%. Hoje, somos 211 milhões de brasileiros e a Covid já matou 247 mil, superando o percentual registrado há 100 anos.

É gravíssimo constatar que quando a gripe espanhola alcançou a referida proporção, deixou de existir, enquanto a Covid segue batendo recordes de óbitos, como quinta 5ª-feira (18), quando chegou a registrar 1.432 mortes nas últimas 24 horas. 

Registre-se, além de não contar com hospitais públicos, na época ainda não havia antibióticos, que só foram descobertos em 1928. 

Enfim, o retrospecto de um ano da pandemia é avassalador e o Brasil precisa, ‘para ontem’, virar a chave da imunização.   

Mandetta errou em seu prognóstico de “pior cenário”. Teich não disse a que veio e Pazuello cumpre ordens – Em um ano, três ministros da Saúde e o saldo de mais de 247 mil mortes. O Brasil tem um dos piores desempenhos do mundo no combate ao coronavírus e o plano de imunização, mesmo lento, está com os estoques no fim. O governo federal, que subestimou  a pandemia tratando-a por “gripezinha”,  segue obcecado por armas. Como o exemplo vem de cima, parte da população não se cansa de promover aglomerações e fez o ‘seu carnaval’ em meio ao luto de centenas de milhares de famílias. Numa comparação estarrecedora, a pandemia da Covid já atinge o mesmo percentual de quando a gripe espanhola desapareceu. Só que o novo coranavírus continua matando.