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Impeachment de Bolsonaro é só um pontinho no radar

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
5 de fevereiro de 2021 - 14h25

Ruídos e fissuras não faltam. Motivos políticos, comportamentais, sanitários e vários outros que colidem com a liturgia do cargo corroboram, em tese, para embasar pedidos de afastamento de Bolsonaro da Presidência da República. Mas, como ensina o dito popular, ‘na prática, a teoria é outra’.

Numa breve recapitulação para que o assunto possa ser melhor explicitado, a opção por Bolsonaro em 2018 não foi uma escolha que mirou no melhor candidato – no político mais qualificado – para conduzir os rumos do Brasil. ‘Cá entre nós’, longe disso.

De certo, o voto no deputado do ‘baixo clero’ teve o intuito de virar a chave para tirar o Brasil das mãos do PT – o partido que mentiu descaradamente ao povo para reeleger Dilma e assegurar 16 anos no poder, que escondeu a realidade econômica do País, que fez vista grossa ao escândalo do Petrolão, que permitiu que no Brasil se montasse um esquema gigantesco de corrupção e que afundou o gigante continental em recessão econômica sem precedentes. Foi contra tudo isso – mais as “inovações” esdruxulas fi ncadas no chatíssimo “política correto” e dissociadas das tradições do povo brasileiro – que o eleitor colocou Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Começo tumultuado – Não se esperava, entretanto, que desde o início do mandato episódios os mais bizarros fossem protagonizados pelo mandatário. Deles, todos sabemos. Frases como: rememorar o Golpe de 64; não houve ditadura no Brasil; fome no Brasil é uma grande mentira, democracia só existe porque as Forças Armadas permitem, eu sou a constituição, etc. Além do empenho para que o filho virasse embaixador em Washington, uma séria interminável de postagens infelizes no twitter, com direito a ataques gratuitos a chefes de Estados e ridícula tietagem a Trump.

Assim, Bolsonaro passou o ano de 2019 – de polêmica em polêmica, de bobagem em bobagem – onde até mesmo a reforma da Previdência foi muito mais para a conta da Câmara.

No ano seguinte, o Brasil – como o resto do mundo – foi subjugado ao novo coronavírus e diante da maior pandemia dos últimos 100 o presidente acabou, infelizmente, cometendo erros e enganos absurdos – inacreditavelmente absurdos – os quais estão ‘frescos’ na memória de todos e, portanto, desnecessário mencioná-los numa lista quase interminável. Mas, daí ao impeachment, são outros quinhentos.

Apesar dos pesares e do conjunto da obra, impeachment é quase ficção

A concretização de um impeachment – de qualquer impeachment – está muito mais ligado às circunstâncias do que aos motivos propriamente ditos. Em tese, razões não faltam para que o presidente Bolsonaro enfrente um processo de afastamento. Entretanto, as conjunturas falam bem mais alto.

De imediato, o deputado Arthur Lira, alinhado com Bolsonaro, deverá vencer a eleição para a Presidência da Câmara. Já aí, o assunto morre, porque é prerrogativa do presidente autorizar a abertura do processo. Sem que o presidente do parlamento decida, não há processo. Sem processo, não há impeachment. E ponto.

O povo – Para que a abertura do impeachment saia, por assim dizer, por pressão, é preciso que o povo vá às ruas e coloque o Congresso contra a parede. Não é o caso e a História nos mostra que nenhum presidente caiu por vias legais com um terço de aprovação.

Segundo o Datafolha, a aprovação de Bolsonaro recuou. Mas, ainda assim, 31% consideram o governo bom ou ótimo. Em outra linha de aferimento, enquanto 42% apoiam o impeachment, 53% são contra.

Leva-se em conta, ainda, que os 30% de Bolsonaro são de apoiadores ruidosos, extremados, que iriam ativamente às ruas para garantir sua permanência; enquanto os demais não teriam, possivelmente, a mesma contundência.

Collor e Dilma caíram porque sofreram baixa de popularidade para algo em torno de 10% a 12% – percentual extremamente pequeno – e, principalmente, por terem perdido as ruas. Bolsonaro tem mais que o dobro disso, pode subir com o avanço da campanha de imunização e com um novo auxílio emergencial em estudo. E, forçoso, reconhecer, tem um grupo de apoiadores fiel, barulhento e disposto.

Enfim, salvo pelo imponderável, não há espaço para Bolsonaro sofrer impeachment este ano e tampouco em 2022, que já será ano eleitoral. Exceção às circunstâncias aqui elencadas seria alguma “participação” do vice Mourão. Mas, além de muito improvável, estaria a se falar “teorias conspiratórias”.

Exceção – Talvez o único presidente a ter “caído” sem que tivesse perdido o apoio das ruas fora Vargas. Mas, além de tempos dissociados das vias constitucionais (1954), estava para ser deposto quando, ao se matar, reagrupou a população inteira em torno de seu nome e derrotou seus adversários. Logo, não caiu, mas triunfou politicamente.