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Janeiro Branco: O cuidar da mente e da vida

Campanha mundial preza pela Saúde Mental, qualidade de vida e pelo acesso às políticas públicas

Saúde
Por Redação
11 de janeiro de 2021 - 0h01

“Quem cuida da mente, cuida da vida”. Esse é o propósito da campanha Janeiro Branco que desde 2013 acontece neste mês, prezando pela saúde mental dos brasileiros e pelo acesso às políticas públicas. Em Campos, há um ano, existe a Lei Municipal n. 9.017/2020, de autoria do ex-vereador Cláudio Andrade, que estabelece uma semana no calendário da cidade para realização de eventos com o tema.

Além disso, o município também conta com espaços na rede básica de saúde, voltados para o atendimento e estímulo de pacientes. Iniciativa que precisa e deve ser amplamente divulgada para que a sociedade saiba que é possível tratar problemas psicológicos de forma gratuita.

Junto a este ponto, existe o grupo JB, formado por psicólogos voluntários, que inspirados pelo Janeiro Branco decidiram realizar atividades de conscientização a nível municipal. “A campanha no país começou em 2013, em Minas Gerais. Aqui em Campos, nós iniciamos as nossas atividades em 2008 e atualmente somos em torno de 25 profissionais e buscamos levar informações sobre o assunto à sociedade”, conta a psicóloga, Sandra Reis.

Segundo a especialista, anualmente, o grupo promove uma programação diversificada sobre o tema. Porém, devido à pandemia, este ano as atividades acontecerão no meio virtual. Estão sendo preparadas lives e palestras para transmissão no perfil no instagram, o @jbequipecampos, mas mantendo o formato da psicoinformação sobre as emoções. “Nesse tempo, nós percebemos um aumento dos transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Problemas que não se forem tratados pode ter fins muito piores. É preciso desmitificar tabus formados a respeito desses temas. Existe o preconceito de procurar tratamento, mas trazer informação ajuda muito. É importante falar sobre as nossas emoções para que não chegue a um nível extremo e frisar a necessidade de a gente olhar para o outro, nunca negligenciar e sim conversa. Temos que valorizar a nossa saúde mental e evitar que algo grave aconteça. É um meio de prevenção”, ressalta.

 

Denise Gondim

Casos graves
Pesquisadora do assunto, a psicóloga e psicanalista, Denise Gondim, escreve sua tese de doutorado sobre a atenção ao suicídio na rede pública de Campos. Ela acompanha de perto no trabalho diversos pacientes, sabe do crescimento no número de casos e apóia todas as formas de prevenção. “É um tema muito importante, ainda mais agora no Janeiro Branco. Eu faço parte de uma equipe de saúde mental do laboratório ampliado do Parque Imperial, que recebe pessoas em sofrimento psíquico e conta com psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais. Trata-se de um avanço muito grande para a cidade, porque nós saímos do modelo de que a saúde mental tem que estar dentro de um manicômio ou de um setor de psiquiatria”, comenta.

Denise revela a real dificuldade em se falar no assunto: as pessoas não querem se aproximar do problema. Para ela, a família às vezes percebe que tem alguém próximo passando por problemas, mas tem receio de sugerir ajuda. “É preciso entender que deve ser feita uma abordagem diferente nesses casos. Ao invés de julgar, é preciso dizer que você se preocupa com esta pessoa e quer vê-la bem. O suicídio é um assunto que não combina ainda culturalmente com uma abordagem espontânea de se falar. Porém, se existem políticas públicas que podem receber essas pessoas, que absorvem esses casos, até mesmo no início, é fundamental, inicialmente, que a sociedade saiba que existe esse acesso e posteriormente procure ajuda. E esses espaços devem ser divulgados para a população através da rede básica de saúde”, pontua.

Perdas
Os atos extremos, de acordo com a especialista, são situações que não emitem um aviso prévio, mas pode-se identificar alguns sinais de que algo não vai bem. “Eu percebo que as relações sociais aparecem muito no tom de acusação e de cobrança. Logo, essas motivações mais graves estão ligadas a algum sofrimento que pode ser depressão ou questões socioeconômicas. São pontos importantes que devem ser a preocupação das políticas publicas. Além disso, tem uma coisa que me chama sempre atenção, no momento que eu vou escutar alguém que está em sofrimento psíquico, que é a dificuldade em perder. Seja qual perda for. E isso, para algumas pessoas, não está ligada exatamente a algo importante. O profissional que trabalha não só com saúde mental, mas que escuta o paciente, ele tem que estar muito atento, sem julgamentos. Essa forma de acolhimento tem que dar importância àquilo que a pessoa está sentindo e falando. Antes de tudo, é preciso admitir que você pode falhar e que também pode pedir ajuda. Não somos fortes o tempo todo. Isso não é real. O fato é que a vida é muito dura mesmo. Com o pé na realidade, a pessoa pode pedir ajuda e ela tem acesso, seja na rede pública ou privada”, completa Denise Gondim.

Se você tem pensamentos suicidas, ligue a qualquer hora para o Centro de Valorização da Vida (CVV) por meio do número 188. As ligações são gratuitas para todo o país.