‘Retrospectiva’ seria definição inapropriada para matéria que não vai além de pôr em destaque uma meia dúzia de episódios entre tantos que marcaram 2020. Como tal, adverte o título: ‘Alguns dos fatos…’.
De início, o pensamento do signatário foi o de escrever um caderno de 8 a 12 páginas, que seria o básico-necessário para repercutir razoavelmente os fatos importantes de qualquer ano. Contudo, a impressão terceirizada e outras circunstâncias de ordem técnica, prejudicadas pela pandemia, tornaram inoportuno que se acrescentasse mais um caderno à presente edição.
Assim, em apertada síntese, buscou-se trazer ao leitor acontecimentos relevantes, sendo certo que a opção por uns importa deixar de fora outros igualmente significativos.
O mundo mudou
Há 12 meses o Brasil guardava grandes expectativas para 2020. Com a reforma da Previdência aprovada no 2º semestre – e mais adiante referendada pelo Senado – pensava-se superado obstáculo que ‘segurou’ o País ao longo de 2019, consumindo boa parte das energias do Congresso e do governo federal, e que, uma vez livre da pesada âncora, abriria caminho para uma era de prosperidade, de avanço econômico e de redução da desigualdade, com reflexo direto na melhoria dos serviços essenciais e na qualidade de vida da população.
Não se tratava de sonho, mas de esperança com base em projeções realistas. Mas… tinha uma pandemia no meio do caminho. Algo inesperado, totalmente fora do radar ou do pior dos pesadelos: o novo coronavírus que mudou o mundo, mudou o Brasil e pôs a todos de joelhos. Ninguém soube lidar com inimigo tão perverso; o Brasil, tampouco.
O atraso nas medidas de enfrentamento foi sobremaneira agravado pelo negacionismo da liderança maior que se colocou em franca oposição à ciência. Fechando o quadro de infortúnio, enorme fatia da população insistiu em desrespeitar as medidas restritivas, promover aglomerações em festas, bares ou lotando praias; resistindo, até mesmo, ao uso da máscara de proteção.
Descrição – Depois de dez meses, a narrativa da pandemia é catastrófica. A maior crise sanitária dos últimos 100 anos gerou disputas e desavenças políticas; desencadeou esquemas de corrupção como o pagamento de propina em contratos de saúde no Estado do Rio; aumentou o número de desempregados e paralisou a economia. E o que é tragicamente devastador: tirou vidas
Neste período, o Ministério da Saúde teve três titulares, sendo que o 2º, Nelson Teich, pediu demissão com menos de um mês. No geral, o combate à Covid revelou a incompetência das autoridades para conter a doença e fazer prevalecer as normas de restrição.
Até as vacinas foram politizadas e viraram objeto de polêmica. Tanta discussão fez com que o STF permitisse que a União, estados e municípios possam, se desejarem, declarar a vacinação obrigatória – o que também alimentou discórdia. Para a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e articulista de O Globo, discutir a vacinação forçada pode aumentar o medo nas pessoas e ensejar um movimento antivacina. “A discussão é extremamente negativa porque a população passa a ficar desconfiada e não percebe que a vacinação no Brasil sempre foi indiretamente obrigatória” – disse.
O vírus é sorrateiro, implacável e altamente complexo. Não precisava ser ‘ajudado’ por contendas e distúrbios para produzir o mal.
O resultado de todo esse desalinho é que o Brasil está virando o ano com cerca de 195 mil mortos.
O CLIMA EXTREMO deixaria duras marcas em várias cidades do Brasil. No mesmo mês de março, bairros periféricos do Rio e municípios da Baixada sofreram com as inundações que deixaram cinco mortes, centenas de desabrigados e o rastro de destruição que vem se tornando cada mais mais frequente com o temporais extremos resultado da agressão ao meio ambiente.
Na mesma fatídica reunião, Abraham Weintraub, na época titular da pasta da Educação, chama os ministros do Supremo de “vagabundos”: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.
Já Ricardo Salles, do Meio Ambiente, recomenda aproveitar a pandemia e ir ‘passando a boiada’:“(…)precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento…”
Além da saída de Moro, os episódios resultaram em abertura de investigação para apurar suposta interferência na PF e na queda de Weintraub do MEC. Salles permanece no comando do Meio Ambiente.
“Eu não consigo respirar” foram as últimas palavras de Floyd, transformadas em ‘grito de guerra’ contra o brutal assassinato e que reascendeu a grave questão do racismo estrutural nos EUA. Os atos se espalharam por diversos outros países, com justas manifestações logo endossadas pelos mais diferentes grupos sociais, que cobram combate ao preconceito, à discriminação e à desigualdade racial – algo inaceitável que ainda ocorra em pelo século 21.
O FLAMENGO levanta a taça de Campeão Carioca 2020, depois da vitória magra sobre o Fluminense de 1 a 0 e uma campanha pouco convincente para o elenco considerado o melhor do Brasil. Foi a 36ª conquista do Estadual, que isola o rubro-negro na liderança dos campeonatos estaduais. Depois de duas trocas de técnicos, o Fla termina o ano eliminado na Libertadores e Copa do Brasil, restando brigar pelo Brasileirão.
O GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO, Wilson Witzel, é afastado do cargo por suspeita de participação em esquemas de corrupção. A decisão (28/Agosto) foi tomada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) atendendo pedido da Procuradoria Geral da República, que apontou irregularidades em contratos de saúde feitos pelo estado, particularmente nos hospitais de campanha, medicamentos e respiradores.
A PGR denunciou nove pessoas, entre elas a mulher do governador, Helena Witzel, cujo escritório de advocacia, de acordo com os procuradores, teria “vínculo bastante estreito e suspeito com empresas envolvidas nos esquemas criminosos”. Já o MPF afirmou que o escritório era utilizado para intermediar o pagamento de propina para o governador.
ÔNIBUS E CAMINHÃO se chocam na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, em Taguaí, matando 42 pessoas. Foi o acidente com maior número de mortos nas rodovias de São Paulo em 22 anos. O ônibus transportava trabalhadores de uma confecção. Entre os mortos, 39 moravam na cidade vizinha de Itaí.
QUER POR COVID ou por outras causas, foram muitas as perdas ao longo do ano. Pelo motivo já citado de escassez de espaço, seria impossível retratar todas as destacadas personalidades de diferentes atividades do cenário local, nacional e internacional que perderam a vida neste ano tão difícil. Assim, fica o registro de pesar e luto por todos os que partiram.