O psicólogo Luiz Antônio Cosmelli já adianta que é preciso lembrar, antes de mais nada, que até os profissionais da saúde sofrem de ansiedade. É necessário ainda, segundo ele, entender a partir de que momento ela já começa a atrapalhar a rotina da população.
“A gente pode definir a ansiedade como uma sensação que você consegue controlar, dentro dos parâmetros normais, que acontece, por exemplo, em situações assim, como essa entrevista. Eu fico ansioso porque sei que vou transmitir informações para muitas pessoas, mas isso passa. Quando não é assim, se eu saio tremendo, não vou conseguir dirigir, ai essa ansiedade já está fora do meu controle. Eu não estou conseguindo fazer algo ou se nenhum evento que me dá prazer consegue estar dentro da normalidade, aí é hora de procurar ajuda, de alguma avaliação”, diz.
Problema atinge todas as idades
O especialista ainda relata que a medida que a tecnologia vem tomando conta e transformando a sociedade ao longo dos anos, nota-se um comportamento humano mais consumista, mais apressado e também mais impaciente. É preciso antes mais nada entender que ansiedade atinge pessoas de todas as idades e de diferentes classes sociais. Um problema que não escolhe paciente.
“Todas as camadas sociais estão passando por isso. É claro que uns tem mais recursos que os outros e conseguem de repente dar conta melhor das consequências disso, outros não e acabam tendo que conviver com isso. Nessa pandemia, tudo ficou mais voltado para o extremo. E eu acho que apesar de todo mundo falar para manter a calma e ter paciência, é impossível numa situação com essa. A pandemia é algo que nos mobiliza e de uma forma muito grave, porque você pode morrer por causa do vírus ou perder alguém que você ama. E se a gente relacionar isso com o modelo de sociedade que vem da metade do século 20 pra cá, ela acelerou o ritmo. As pessoas são mais tecnológicas e querem tudo rápido. Ninguém tem paciência para esperar nada. Você pega uma pandemia que diz que você tem que seguir regras, que não deve sair de casa e que não pode abraçar as pessoas. Como exigir? Como trabalhar isso? Eu acho muito difícil, não tem receita”, declara.
Responsabilidade
Mas talvez a receita ou a solução para amenizar o problema seria uma só. “É preciso pensar que nós podemos causar muito mal a outras pessoas com nossas atitudes. Se eu fizer a minha parte, eu posso ajudar. Temos que entender que essa fase vai passar, não vai durar para sempre e que existem muitas pessoas sofrendo. Muitos colegas da psicologia estão trabalhando sempre online, oferecendo psicoterapia gratuitamente. Tem muita gente tentando ajudar. Eu fico preocupado justamente com quem não tem acesso, porque a ansiedade não respeita limites e num momento como esse, ela pressiona muito. Imagina quem precisa trabalhar e sair de casa, quem tem muitos filhos? É necessário que todos nós tenhamos esse compromisso com o outro”, analisa.
A pandemia não é totalmente culpada
O psicólogo ainda comenta que é preciso ser honesto consigo mesmo. A pandemia piorou muitos aspectos da vida da população, porém, existem condições e comportamento atribuídos a cada pessoa que devem ser observados.
“A vacina está chegando e não podemos desperdiçar todo esse tempo que ficamos isolados por uma irresponsabilidade. É preciso colocar a mão na consciência. Estamos na reta final do ano, um tempo de muita reflexão. É recomendável que a gente acalme um pouco essa coisa que vem às vezes de fora, que provoca muito do ‘tem que ser agora’. Para controlar a ansiedade, não tem um remédio exato que serve para todo mundo. Não tem uma solução única e igual. A palavra de um amigo ajuda. A fé também, o esporte, a arte… Essas coisas contribuem muito, mas não há soluções e respostas exatas para todos. Se a sua ansiedade passa do ponto, extrapola os limites, deve-se procurar ajuda profissional. Porque, em alguns casos, tem muita coisa engasgada que não conseguimos falar. Porém, não coloque toda a culpa na pandemia. É a hora da gente poder enxergar o outro, poder olhar e não querer para o outro aquilo que você não quer para si mesmo. Mais do que nunca, a gente precisa entender que não vivemos sozinhos. Nós somos uma referência do outro. Se a gente puder enxergar isso, talvez possamos resolver alguns problemas”, aconselha.