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Um “Fórmula 1” construído em Campos

O carro do Manoel Luiz ganhou destaque em rede nacional

Geral
Por Rodrigo Viana
16 de dezembro de 2020 - 16h23

Manoel e a realização do seu sonho (Fotos: divulgação)

Manoel Luiz Machado Amaro tem 46 anos, é casado e tem uma filha. Nascido e criado na cidade de Campos dos Goytacazes, no Norte do estado do Rio de Janeiro, Manoel sempre morou no bairro Ururaí. É caldeireiro soldador, montador de estruturas metálicas e de equipamentos mecânicos, inclusive já trabalhou para grandes empresas do segmento de petróleo, como a norte-americana Halliburton. Também já atuou como líder de equipe em plataformas petrolíferas na Bacia de Campos e foi professor do Senai, instituição aonde se formou no nível técnico.

Atualmente sem emprego, dedica o seu tempo integral na construção de um projeto e na realização do seu sonho. Manoel construiu na garagem da sua casa um protótipo de um carro de Fórmula 1, mais do que a carenagem do carro monoposto de competição, ele tem toda a estrutura mecânica, elétrica, funciona, ronca alto e anda.

Uma postagem em uma rede social fez com que um amigo meu que viu, falasse-me sobre a existência do Manoel e do seu projeto. Assim, tratei de acompanhá-lo, mas ainda sem conhecê-lo pessoalmente… O desenrolar desta história fantástica que ganhou todo o Brasil e despertou até o interesse do Wilson Fittipaldi Jr., único brasileiro dono de equipe de Fórmula 1, que esteve na cidade de Campos/RJ e foi conhecer o projeto, você vai acompanhar nesta entrevista especial que ele me concedeu:

Manoel, como surgiu a sua paixão pela Fórmula 1?
A paixão pela Fórmula 1 vem desde a infância, quando o meu pai, na década de 80 – eu tinha em torno dos 7 anos -, assistia todas as corridas, nos tempos de Mauricio Gugelmin, Nelson Piquet, naquela disputa com Nigel Mansell e os grandes pilotos da época. Na década de 90, a mesma coisa, eu assistia as corridas com o meu pai e passei a me encantar com aqueles carros, os projetos, as mudanças, os desenhos, as velocidades alcançadas e, virou um vício. Acompanho os treinos e as corridas até hoje e o meu pai sempre presente, inclusive neste desafio de construir um protótipo de Fórmula 1 em casa. Sempre tive o sonho de assistir a uma corrida de Fórmula 1 no autódromo, mas as minhas condições financeiras nunca permitiram, imagine ter um carro da Fórmula 1 em casa, mas sonho é sonho.

Você também gosta das outras categorias automobilísticas?
Sou fã da Fórmula 1, mas também gosto das outras categorias, como a Stock-car… Na verdade, eu gosto de esporte a motor como um todo, inclusive também gosto de carro, assisto todos os domingos de manhã os programas sobre automóveis para ficar por dentro das novidades, lançamentos, novas tecnologias e os novos carros e superesportivos.

Quando e por que surgiu este sonho de construir um carro de Fórmula 1?
O sonho em construir este protótipo, conforme falei, veio desde criança, mas só com o tempo e a bagagem adquirida com anos de trabalho, atuando em projetos e montagens de sistemas complexos de equipamentos e estruturas, que não permitem falhas,senti-me preparado para dar início a este projeto. Porém, a parte mecânica e elétrica do automóvel, eu tive que aprender e me desenvolver na área, pois nunca mexi com nada parecido, ao contrário da parte estrutural. Agora, é muito gostoso eu ter o meu Fórmula 1 e saber que foi construído pelas minhas próprias mãos. Apesar das minhas limitações financeiras, consegui com muita criatividade e adequações bem resolvidas, encontrar soluções para fazê-lo com baixo custo.

Você teve inspiração em alguém para construir este projeto? Alguém te motivou?
A inspiração veio do Ayrton Senna, sou fã dele. Ele sempre me encantou pelo seu jeito de pilotar, a forma como ele lhe dava com a vida, com o ser humano, todos os exemplos que ele deixou para gente, mesmo sendo de uma família classe média alta, que tinha condições para mantê-lo no esporte, ele sempre tinha os pés no chão e sempre se mostrou ser uma pessoa simples. Ele foi inspiração para a vida e, isso foi me dando certeza, diante do desafio, tendo os exemplos e mensagens que ele deixou, que eu iria conseguir. Porém, um grande momento de motivação que eu tive, que foi de suma importância para mim, foi logo no início do projeto, tudo estava ainda devagar, quando o Rodrigo Viana, este colunista (rs), aparece-me de surpresa – eu ainda não o conhecia pessoalmente -, trazendo o Wilson Fittipaldi Jr. aqui na minha casa, para me conhecer e ver o carro. Aquilo mudou muito o meu olhar para o carro e, com as orientações do Wilson, vi que eu estava no caminho certo.Isso me deu um “gás” e, pensei: “agora você vai, porque está tudo certo, está muito bom”. A visita e a aprovação do projeto pelo Wilson, um ex-piloto de Fórmula 1 e o único brasileiro a ter uma equipe na categoria, a Copersucar-Fittipaldi, era a chancela que eu precisava. A partir daquele momento, eu pesquisei mais, dediquei-me mais, busquei tudo o que eu poderia fazer de melhor para colocar no projeto. Seguindo as dicas do Wilson, que abriu a minha mente, refiz muitas coisas e o projeto virou outro depois que ele me ajudou. Sem dúvida, ele me inspirou e me motivou muito para que tudo acontecesse no tempo certo.

Quanto tempo levou para desenvolver o projeto?
O desenvolvimento levou 3 anos, a ideia teve início em 2016.Foi um pouco complicado, no início, as mudanças que o carro de Fórmula 1 sofria de um ano para o outro, pois eu tinha que fazer sempre as adequações no projeto. Além de muitas fotos, consegui achar na época, uma miniatura de Fórmula 1 que poderia ser toda desmontada e montada, mas como não tinha escala definida, tive que fazer vários cálculos e ajustes baseados no tamanho real de um Fórmula 1, pois eu queria no meu projeto, as dimensões oficiais do monoposto de corrida. Depois foi a parte do tipo de material a ser utilizado, a sua viabilidade técnica e manuseio – a construção foi na garagem aberta da minha casa -, o custo, fui comprando aos poucos…A parte de construção mesmo tem 1 ano e 8 meses.

Quais foram as maiores dificuldades encontradas?
As dificuldades foram inúmeras, primeiro a parte mecânica e elétrica automobilística, que eu não entendia nada, nem sei dirigir (rs). Também por não ter curso superior em engenharia, tive que correr atrás de conhecimentos na área, além de não possuir conhecimentospara o desenvolvimento do projeto em ferramentas e programas digitais para fazê-lo computadorizado, tive que fazer tudo na mão. Depois veio a parte econômica, pois eu não tinha muitos recursos financeiros para investir, optando por componentes confiáveis, porém, mais baratos, mais simples e de fácil manutenção.

Qual foi a mecânica utilizada?
No início, pensei em colocar o motor de uma moto de 1.000 a 1.300 cc., devido ao ronco forte. Mas, com o desenvolvimento do projeto e ensaios, verifiquei que iria sacrificá-lo, assim, pensei num motor de carro e achei mais viável o AP 1.8 da Volkswagen, que permite facilidades para a elevação da potência. Associado ao motor, fiz algumas adequações para utilizar o câmbio Volkswagen do Fusca.

Você tem ideia de quanto gastou no carro?
A minha ideia era fazer um carro espelhado em um Fórmula 1 só para andar aqui na rua e para colocar em exposição na pracinha do bairro. Mas, como o projeto tomou uma repercussão muito grande no Brasil inteiro, principalmente nos grupos das mídias sociais, senti-me na incumbência de fazer algo bem melhor e não poderia desistir. Eu tinha acabado de ser desligado do Senai, onde atuei por 7 anos. Com o dinheiro da rescisão nas mãos, eu tinha duas opções: ou eu fazia uma reforma na minha casa, que está precisando, ou eu investia tudo no projeto. Fiquei com a segunda opção. A despesa, só de material, já passou dos 45 mil reais, se incluir a mão-de-obra, girará em torno dos 80 mil reais.

Você venderia o seu “Fórmula 1”?
Não passa pela minha cabeça de forma alguma esta ideia. Só se for por uma necessidade extrema. Aqui tem uma história de vida e não deve ser apagada, tem muito trabalho e sacrifício. Seria também uma falta de respeito com todos que vem me acompanhando e me apoiando neste projeto.

Você tem interesse em construir outro carro?
Se eu tivesse dinheiro, eu faria outros, com mais tecnologia, com motor mais moderno, com câmbio automático. Mas as minhas condições financeiras não estão me permitindo. Estou sem trabalho remunerado neste tempo todo, preciso de recursos para sustentar a minha família. Se alguém quiser encomendar um, estou aberto, eu faço outro “Fórmula 1”. Eu gostei de trabalhar com este projeto.

O seu projeto ganhou notoriedade nas redes sociais e na imprensa, como que ocorreu isso?
No começo, eu não pensava nisso, mas, a partir da primeira publicação que fiz do carro no grupo “Fórmula 1 Brasil”, no Facebook, a repercussão foi enorme, todo mundo queria saber sobre o projeto e sobre mim, o construtor dele, de qual cidade e país eu era… Em duas horas, tive mais de 3.000 visualizações e 300 comentários. O site Motorsport.com, blogs de automobilismo e canais no YouTube, contataram-me para publicar o meu projeto, que rapidamente se espalhou na internet, assim recebo mensagens de vários países do mundo como: Portugal, Inglaterra, Estados Unidos…Mas, quando Wilson Fittipaldi Jr. veio na minha casa conhecer o projeto, pronto, a repercussão passou a ser cada vez maior. Canais de televisão aqui da cidade me procuraram, assim como rádio. Participei de diversas gravações, inclusive para programas de outros estados e até em rede nacional, visto em todo o Brasil. Fui matéria na TV Globo, nos Programas: É de Casa, Globo Esporte São Paulo, na transmissão dos treinos do GP do Bahrein e antes da corrida do GP do Brasil de Fórmula 1 do ano passado, dentro do programa Esporte Espetacular.

Com o “Fórmula 1”ficando pronto neste mês, o que pretende fazer para promovê-lo?
Minha intenção principal é expor aqui na minha cidade de Campos/RJ, divulgando empresas…Mas também em outras cidades e estados, pois tem muita gente do Brasil inteiro querendo conhecê-lo, recebo mensagens na internet diariamente, mas preciso de patrocínio. Estou sem trabalho remunerado neste tempo todo que fiquei envolvido no projeto, se eu conseguisse tirar uma renda com ele que desse para cobrir os meus gastos e sustentara minha família, seria o ideal.

Qual mensagem você gostaria de passar para as pessoas?
Todo lugar onde trabalhei, esforcei-me para deixar a minha identidade. Então, a gente precisa deixar para as pessoas, uma referência boa. Também tenho defeitos, mas procuro sempre mostrar as minhas qualidades para que sirvam de motivação e exemplos para que todos possam seguir. Um sonho pode mudar a sua vida, pode te dar uma condição melhor, se não te der uma condição financeira mais próspera hoje, pelo menos te dar um “gás”, uma sobrevida, te dar o sentido pra vida. É motivador você lutar, correr atrás, ter que trabalhar, porque você quer conquistar, você tem que ter esta visão de conquista, a gente precisa ter uma motivação para continuar lutando. Então, o sonho é motivador, a partir do momento que você começa a se dedicar e a correr atrás, procurar na medida do possível, conseguir conquistar e realizar, de uma forma que não venha prejudicar você, nem a terceiros e, a sua família se sinta orgulhosa e representada naquela conquista, você conseguiu o mais importante.
Manoel disponibilizou os seus contatos para quem quiser saber mais detalhes sobre o seu projeto: Telefone/Whatsapp (22) 98818-1772, e-mail:luizmanoelamaro@gmail.com , Facebook: ManoelluizAmaro, Instagram: @manoelmlf01 .