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Preocupação e desgaste no meio médico

Somente no Hospital Dr. Beda, os números do novo coronavírus são duas vezes maiores do que em julho

Campos
Por Redação
13 de dezembro de 2020 - 0h01

Alta repentina | Dr. Pedro Conte, coordenador da emergência do Hospital Dr. Beda, preocupado com a situação. (Foto: Carlos Grevi)

“O momento é crítico e preocupante”. Foi assim que o Dr. Pedro Conte definiu o período atual em Campos dos Goytacazes, durante entrevista para o Jornal Terceira Via. O médico coordenador da emergência do Hospital Dr. Beda alerta para o aumento expressivo no número de casos de atendimento por síndromes respiratórias e Covid-19 nas últimas semanas. Essa alta repentina supera o último pico da doença, registrado em julho deste ano. E o medo é justamente não saber o que pode acontecer daqui há duas ou três semanas e se a rede de saúde vai aguentar esta demanda duplicada de pacientes infectados ou com suspeita do vírus.

Faixa etária dos pacientes atendidos

Segundo o médico, o perfil dos pacientes que procuraram atendimento no Hospital Dr. Beda nas últimas semanas não mudou muito do que foi registrado nos meados do ano. “Mais de 50% dos atendidos são pacientes jovens, na faixa etária de 20 a 40 anos. Porém, não podemos esquecer que existe uma parcela de 30% que são aqueles pacientes com os fatores de risco mais elevados e que podem evoluir para formas mais graves e acabarem necessitando de terapia intensiva. É importante frisar que não é porque a pessoa é jovem e não tem comorbidades, que ela não pode ter gravidade. Nós temos observado pacientes jovens que evoluíram mal e ficaram com o tempo de internação mais prolongado”, ressalta.

Curva em ascensão

Para o Dr. Pedro Conte, é preciso neste momento preservar os pacientes mais velhos, já que em muitos casos, um jovem acaba transmitindo a doença para os demais familiares. “Nos últimos meses, temos notado que as pessoas estão perdendo um pouco da atenção em relação aos cuidados de afastamento do outro. Sentimos que a máscara e o uso do álcool estão mais firmes, mas quanto ao distanciamento, as pessoas estão mais relaxadas e isso nos preocupa justamente por causa da alta dos números de atendimentos e internações. A curva lá do nosso serviço está em ascensão ainda, ela não estabilizou, muito pelo contrário, continua em crescendo, principalmente, em relação as quatro últimas semanas. Temos um número de atendimento duas vezes maior do que em julho e que ainda não se consolidou. Não sabemos até que ponto pode chegar e isso nos assusta”, alerta.

Segunda onda?

Segundo o especialista, é difícil falar em segunda onda, mas ele acredita que houve uma primeira alta expressiva nos meses de julho e julho, não tão elevada quanto a do momento atual, fazendo com que as previsões não sejam nada positivas. “Depois do primeiro pico, os números começaram a cair, mas no final de outubro houve um crescimento. Em novembro, tivemos um aumento exponencial e em dezembro, a curva continua ainda em ascensão. Provavelmente, nós devemos ficar com a Covid-19 batendo à porta até fevereiro, talvez. Esperamos que até o final deste mês haja uma queda, mas até agora essa diminuição ainda não foi notada, muito pelo contrário”, comenta.

Índice de positividade

O médico também esclarece que os pacientes que procuram atendimento, não necessariamente têm Covid-19. Porém, dados de laboratórios mostram que o índice de positividade dos testes também aumentou neste período. “Com isso, a gente percebe que a alta no atendimento está relacionada com o novo coronavírus. As equipes médicas e de enfermagem estão trabalhando, se dedicando. Os dias têm sido puxados e cansativos, mas tenho certeza que todos estão lá para fazer o melhor. A forma ideal de evitar a complicação da doença é a prevenção. A vacina está para chegar e é uma questão de tempo e de planejamento por parte do governo, para ver até que ponto vamos conseguir imunizar uma boa parte da população, principalmente as pessoas com maior risco”, cita.

Que tipo de teste fazer?

O RT/PCR, o famoso “exame do cotonete”, analisa o material genético do vírus e de acordo com o Dr. Pedro Conte, o ideal é que seja feito na primeira semana de sintomas. “Hoje, a melhor janela que temos visto é entre o quarto e o quinto dia de sintomas, uma abertura com a melhor eficácia do método, porque é um período que o paciente costuma ter uma carga viral alta, principalmente na via aérea superior. Não que não possa ser realizado na segunda semana, mas este seria o ideal. Já os testes sorológicos, este costumamos deixar para a segunda semana, a partir de 15 dias da doença. Um outro método que temos utilizado muito é a questão da tomografia, porque tem uma sensibilidade muito alta. A maioria dos pacientes com Covid-19 acabam tendo um comprometimento pulmonar. É importante lembrar que a tomografia não é um exame que todo mundo tem que fazer. Existem as indicações e não podemos sobrecarregar o sistema com informações que, às vezes, não vão mudar o tratamento ou a forma de conduzir o caso”, pontua.

Pensando no próximo

Como profissional que está atuando na linha de frente no combate ao novo coronavírus em Campos, o especialista faz um alerta a toda população. “O momento é crítico, as pessoas que estão atuando contra a doença estão preocupadas. Gostaria de pedir para que a população tente manter o distanciamento social, principalmente as pessoas mais idosas, com fatores de risco complicadores. Essa é a hora da gente pensar no próximo! Se cada um fizer um pouco, vamos conseguir vencer essa pandemia rápido”, completa.