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Após 10 meses, Brasil confirma a pior das projeções sobre número de mortes

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
13 de dezembro de 2020 - 0h01

​Vivendo cenário de catástrofe, nem mesmo a vacinação é consenso no País que politiza a saúde pública

Depois de período mais que prolongado, são incontáveis os episódios de negligência e descaso no combate ao novo coronavírus, vindos de todas as esferas governamentais e, particularmente, do governo federal.

Em termos de responsabilidade não poderia ser diferente, visto que o Brasil é uma república federativa e, portanto, à Presidência e seus ministérios cabem zelar pelos rumos do Brasil, notadamente em caso de tamanha gravidade como a maior crise sanitária dos últimos 100 anos.

Não por acaso a nefasta doença tem sido, dia após dia, o assunto predominante na imprensa, nos telejornais, nos sites e demais veículos de comunicação. E por uma dupla gravidade: 1) A Covid, em si, abalou o planeta de forma dramática e, salvo pela ‘Gripe Espanhola’, sem precedentes. 2) No caso do Brasil – e de outros países – formou-se quadro ainda mais catastrófico pelo atraso no enfrentamento, pelos erros cometidos e pelo absurdo negacionismo ao que prega a ciência.

O pior dos cenários: mais de 180 mil óbitos

Foram dezenas as páginas neste espaço do Terceira Via sobre a infausta situação – a exemplo de toda a mídia brasileira – que, agora estarrecedora, chama atenção que a mais pessimista das previsões virou realidade, tendo em vista que em março o ainda ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, levou ao presidente Bolsonaro projeção alarmante, segundo a qual “caso não fossem adotadas severas medidas de restrição para barrar a aceleração do coronavírus, 180 mil pessoas poderiam morrer da doença até que chegasse a vacina”. Assistimos, então, ao pior dos pesadelos: mais de 180 mil óbitos e não há vacina sendo distribuída.

Fala presidencial – Em mais uma fala do presidente Bolsonaro desprovida de qualquer senso de realidade, dissera o mandatário que “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Convenhamos, há algo de muito errado nisso tudo, porque o presidente da República cita “finalzinho” justo no momento em que a média móvel de óbitos está aumentando, os hospitais estão lotados, existe fila por UTIs, e as cidades estão retrocedendo de fase e impondo medidas mais restritivas haja vista que o quadro, no todo, mostra-se fora de controle.

Politização de vacina – Seja como for, o Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, o qual, possivelmente, só poderia ser comparado se o País tivesse participado da Primeira Grande Guerra (1914-18), ou se na 2ª Guerra Mundial (1939-45) o conflito chegasse a seu território. Como felizmente não foram os casos, estamos revivendo infortúnio só experimentado entre os anos de 1918-1919, durante a Gripe Espanhola, cuja vacina, diga-se, só fora disponibilizada em 1944 – logo, 24 anos depois.

Por fim, depois de uma absurda politização sobre a vacinação no Brasil, onde de um lado se vê o governador João Dória trazendo a Coronavac para São Paulo (e, naturalmente, tentando angariar frutos políticos com a iniciativa), e de outro, o presidente, colocando empecilhos e desautorizando a “vacina chinesa do Dória”, parece que alguma luz surge no fim do longo túnel e o Brasil começa a equacionar os protocolos de vacinação, enquanto em outros países vacinas estão sendo aplicadas.

Resumo: somente em setembro o ex-ministro Mandetta revelou ter alertado o presidente desde março. Salta claro, na mesma época deveria ter alertado, também à população. Nomeado o segundo ministro, Nelson Teich ficou menos de um mês à frente do cargo por não ter concordado com a ‘orientação’ de Bolsonaro. E o terceiro, o general Pazuello, após 4 meses como interino no Ministério da Saúde, foi efetivado, sem estabelecer diretriz objetiva e eficiente de combate à doença.

Depois de muito blá-blá-blá em torno da vacina, acredita-se que agora, finalmente, algo de efetivo seja feito para imunizar a população. Resta dizer: antes tarde do que nunca… E que não demore ainda mais.

Algumas das falas do presidente Bolsonaro:

“Não sou coveiro, tá?” (ABRIL/2020)

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” (ABRIL/2020)

“Cobre do seu Governador” (JUNHO/2020)

“…Tem que deixar de ser um país de maricas” (NOVEMBRO/2020)

“Estamos vivendo um finalzinho de pandemia” (10/DEZEMBRO/2020)