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Conselho Regional de Medicina constata colapso na Saúde em Campos

Segundo Cremerj, até luvas descartáveis estão sendo reaproveitadas

Campos
Por Redação
1 de dezembro de 2020 - 19h46

Hospital Ferreira Machado (Foto: Arquivo/Silvana Rust)

Uma visita técnica do Conselho Regional de Medicina (Cremerj) às unidades de saúde de Campos constatou o que o representante local do órgão, o médico Rogério Bicalho, classificou como “colapso do sistema de Saúde”. Luvas descartáveis reaproveitadas, falta de outros Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e de medicamentos, como bloqueadores neuromusculares e anestésicos, são apenas alguns dos problemas encontrados nas unidades e denunciados ao Ministério Público e à Defensoria Pública. Um documento do Hospital Ferreira Machado (HFM) que circula nas redes sociais e que a equipe do Jornal Terceira Via teve acesso nesta terça-feira (1º) também expôs a falta de insumos básicos na unidade.

Ao tomar ciência do documento, a equipe de reportagem entrou em contato com o Cremerj, que confirmou a situação. Bicalho disse que recursos usados em guerra estão sendo adotados nas unidades públicas. “Como falta glicose, os médicos estão sendo obrigados a utilizar sonda com água e açúcar nos pacientes, como é feito em guerra. Constatamos luvas descartáveis sendo lavadas, penduradas para secar e reutilizadas em atendimento na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Ferreira Machado”, contou.

A visita técnica aconteceu na segunda-feira (30/11) tanto no HFM, quanto no Hospital Geral de Guarus, Hospital São José, em Goytacazes; Postos de Urgência (PU) da Saldanha Marinho e de Guarus, além do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCCC), que funciona na Sociedade Portuguesa de Beneficência; Santa Casa de Misericórdia, Hospital Plantadores de Cana e Álvaro Alvim.

“Nesses hospitais filantrópicos, por exemplo, constatamos falta de vaga para tratamento de Covid-19. No CCCC, 10 leitos de Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para Covid foram fechados e os leitos de CTI do Hospital São José, na Baixada, foram desmobilizados com a redução dos casos, mas agora, com a chamada segunda onda do coronavírus, eles continuam indisponíveis, o que está gerando esse caos, por não ter havido uma programação por parte dos gestores. É fato que estão faltando leitos de UTI na cidade para pacientes com Covid-19”, lamentou.

As denúncias foram alvos de uma reunião, nesta terça-feira (1º), entre o Cremerj, Ministério Público, Defensoria Pública e Secretaria de Saúde. Bicalho explica que as denúncias serão, agora, encaminhadas à presidência da Fundação Municipal de Saúde, que administra o HFM, HGG, Hospital São José e P.U.s.

No caso do HFM, maior hospital de emergência da região, a escassez de EPIs e medicamentos afeta também aos pacientes vítimas de acidentes, por exemplo.

“Estamos pedindo uma solução imediata à gestão da saúde no município, com a reposição do material em falta e vamos também entrar com uma ação judicial”, explicou o represente do Cremerj.

Documento
Um documento encaminhado pelo HFM ao Cremerj, à Secretaria Municipal de Saúde e à Fundação Municipal de Saúde (FMS) afirma que a unidade referência de Saúde na região “está com falta de Equipamentos de Proteção Individual e de medicamentos em geral, incluindo anestésicos inalatórios e venosos, impossibilitando a realização de procedimentos cirúrgicos de urgência e emergência”.

O ofício também expõe problemas no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. “Associados às faltas, incluímos os equipamentos e medicamentos de uso no atendimento aos pacientes acometidos de Covid-19, como máscaras N95, aventais e capotes estéreis, luvas e bloqueadores neuromusculares e outros, segundo o protocolo exigido”.

Conforme expõe o documento, a falta de insumos tem impossibilitado a realização de cirurgias, o que “tem acarretado a superlotação do hospital, nas clínicas e no pronto-socorro”.

Confira do documento:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Sindicato dos médicos emitiu uma nota sobre o assunto:
O Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), por meio do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) obteve, na tarde desta terça-feira (01), acesso ao ofício nº 172/2020 remetido pela superintendência e diretoria clínica do Hospital Ferreira Machado (HFM), destinado à Fundação Municipal de Saúde (FMS), nesta segunda-feira (30). O documento compartilhado com à entidade delata a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e medicamentos em geral, incluindo os de uso nos atendimentos aos pacientes com Covid-19, na unidade hospitalar.

Juntamente ao Cremerj, o Simec expõe publicamente a sua indignação em face do teor da nova denúncia, especialmente, ao seu caráter recorrente. No último dia 27 agosto, após receber reclamações relativas ao desabastecimento no estoque de medicamentos e insumos essenciais no HFM, representantes do Simec e da Delegacia do Cremerj/Campos reuniram-se com o presidente da FMS, Alexandro de Oliveira Alves, com a finalidade de cobrar esclarecimentos e providências em prol dos servidores da Saúde e da população. Durante a reunião foi apresentada pelo então presidente do Simec, José Roberto Crespo de Souza, ao presidente da FMS, uma extensa lista contendo mais de 150 itens, entre materiais e medicamentos que, na ocasião, estariam em falta no HFM. No encontro, o representante da pasta garantiu que iria normalizar, em poucos dias, o abastecimento de medicamentos e insumos e que sustentaria o estoque da unidade hospitalar, de modo regular, até o final do mês dezembro.

Assim como realizado em agosto, o Simec irá oficiar à FMS, nesta quarta-feira (02), a viabilização da verificação das remessas de medicamentos e insumos homologadas, empenhadas, solicitadas e recebidas pelo município. A ação da nossa entidade visa ampliar o monitoramento e evitar que episódios desabastecimento capazes de comprometer o atendimento de saúde e de expor aos pacientes ao risco de morte, tornem a acontecer no HFM.

O Simec lamenta profundamente o atual cenário e afirma que seguirá atuando na defesa da categoria médica do município, reafirmando diariamente o seu compromisso com a medicina de qualidade, proteção e dignidade dos profissionais e pacientes.

 

A equipe de reportagem fez contato com a Prefeitura de Campos, que enviou a seguinte nota:

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) esclarece que tem se empenhado em manter o estoque de medicamentos em dia além dos itens que compõem o Equipamento de Proteção Individual, no entanto, devido a alta demanda por estes itens a necessidade de reposição tem ocorrido quase que diariamente. Nenhum profissional de Saúde atuou sem a devida proteção e as Unidades hospitalares do município não deixaram de atender a população.

Cabe lembrar que durante a pandemia do covid-19 há uma alta demanda por medicamentos em todo o país, o que tem levado a dificuldade de fornecedores no cumprimento de prazos ou mesmo abastecimento de unidades. A FMS ressalta que atua com planejamento para adequações e reitera a entrega e comprometimento de todos os profissionais de saúde que atuam no.município em tempos tão difíceis de enfrentamento ao Coronavírus e dificuldades financeiras.