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As relações familiares na pandemia

Especialista comenta os desafios de manter a rotina de todos os integrantes em casa

Tudo sobre coronavírus
Por Redação
23 de novembro de 2020 - 0h01

Os brasileiros estão há nove meses tendo que se acostumar com uma nova realidade. Um fato é que este atual normal não agrada muita gente, mas ainda teremos que viver muitos dias sem poder voltar com a nossa antiga rotina. A pandemia transformou todas as vidas e fez com que as famílias passassem a ter mais tempo juntos, visto que o trabalho, o lazer e o descanso se concentraram todos dentro de casa. Com a impossibilidade de realizar atividades, antes tão frequentes e espontâneas é preciso driblar o desespero todos os dias e tentar encontrar uma alternativa para ficar em paz consigo mesmo. Mas, como lidar com essa explosão de sensações de todos os familiares juntos?

Psicóloga Camila Medina (Foto: Silvana Rust)

A psicóloga, Camila Medina, ressalta a complexidade de todas as relações familiares. Segundo ela, são pessoas com personalidades e características muito diferentes convivendo por muito tempo dentro de um mesmo ambiente. “Como a gente hoje não tem a possibilidade de sair como antes de termo a pandemia consolidada, tudo se expande. É como se colocássemos uma lupa dentro de todas as famílias e ampliasse. Se sou mais impaciente, eu vou ficar o dobro. Se sou mais sensível, isso aumenta. O fato é que os conflitos familiares sempre existiram, mas agora como não existe a distração de fazer outras tarefas, as situações ganham uma força muito maior. Logo, aumenta a carga de problemas. Recebo relatos de pacientes que estão extremamente irritados, estressados e tristes. Isso amplia qualquer tipo de problema familiar”, relata.

Apesar da situação desagradável, é possível saber quando as coisas estão fora do controle dentro de nós mesmos, diz a especialista. “Nós temos a capacidade de saber quando algo não vai bem conosco. Podemos perceber como está a qualidade do sono, se não consigo dormir ou o contrário, se quero dormir o tempo todo. Posso saber se me sinto muito esgotada ou não. Se eu como e não me sinto saciada ou se não sinto fome nunca. São pontos fáceis de perceber e que mostram que algo não vai bem. Ao menor sinal de estranheza, se tenho pensamentos meio esquisitos, se estou me sentindo meio para baixo, ansiosa ou agitada demais é hora de buscar um profissional para entender o que está acontecendo”, comenta.

Relate a situação para o outro
Outro ponto importante, se você convive com outra pessoa. Perceba: o que ela tem dito para você? Ela tem sinalizado que a sua forma de falar é muito rude? Ou tem tentado te dar algum alerta de que algo não vai bem? Ou que seu comportamento não está muito legal? “São mais sinais de que você pode e deve procurar ajuda psicológica, onde um profissional vai avaliar o que está fazendo você ficar dessa forma.

Camila ainda cita o aumento na quantidade de pessoas que têm cada vez mais buscado o equilíbrio da saúde mental. “A pandemia é um tempo de se reinventar, descobrir novas habilidades, aprender algo novo. Muitos tiveram que aprender sobre as tecnologias para poder trabalhar em casa e isso não é muito comum, mas percebemos que é possível. Quando pensamos no todo, percebemos que a maior dificuldade é sim manter a saúde mental em dia. Embora as medidas já estejam bem mais flexíveis, o vírus infelizmente ainda não foi embora e a tão sonhada vacina ainda não chegou. Nesse cenário, ainda não podemos retornar 100% com tudo que gostaríamos de praticar. Posso falar com segurança que o número de atendimentos psicológicos pelo menos na categoria online subiu expressivamente não só no Brasil, mas também no mundo inteiro. As pessoas estão procurando ajuda ainda mais nesse momento e não estão deixando de se cuidar. É muito importante prestar atenção nisso, pois a mente comanda a nossa vida e é preciso manter a saúde mental equilibrada para que possamos ter uma rotina mais leve”, revela.

Isolamento
A psicóloga ainda menciona o medo excessivo de sair de casa sentido por parte da população. Ela explica que nesses casos, é importante a gente pensar no que é possível ser feito dentro da realidade de mundo hoje. “O vírus é uma grande ameaça? Sim, claro. Hoje temos mais informações do que tínhamos no início da pandemia. Já sabemos que quando utilizamos máscara, álcool e lavamos as mãos, as chances de contaminação são mais baixas. Se esse medo de sair de casa for muito grande, procure ajuda. Muitos especialistas estão atendendo e orientando seus pacientes virtualmente. Converse, explique o que está acontecendo. Pois o medo é normal, mas o sentimento exagerado não. Reflita que não há mal que dure para sempre, não há ansiedade que se perpetue, nem tristeza, o tratamento psicológico existe para que possamos ter qualidade de vida. Buscar a terapia é um ato de coragem. Esse tempo de pandemia também vai passar, mas não podemos colocar o vírus acima do nosso bem estar. Cuide de você, preze pela sua saúde”, completa Camila Medina.