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COVID: Na esteira do descaso, o aumento do contágio

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
22 de novembro de 2020 - 15h48

Na falta de conscientização, o caminho natural será o de estabelecer obrigatoriedade ao uso de máscaras e punições severas ao descumprimento  

Ao se aproximar do nono mês desde que foi registrado o primeiro caso de Covid no Brasil (26 de fevereiro), as notícias sobre a trajetória do novo coronavírus oscilam entre preocupantes e sombrias, sendo certo que nas últimas duas semanas a velocidade na transmissão da doença acelerou sobremaneira, indicando, no mínimo, um retrocesso perverso no combate à doença.

Se configurando uma “segunda onda”, ou não, ninguém sabe ao certo. Entre os mais renomados infectologistas e epidemiologistas do Brasil, uns são mais cautelosos, acreditando que não teremos a famosa 2ª onda; enquanto outros, menos otimistas, receiam que já estamos a vivenciar seu início.

Aqueles que descartam, ao menos por enquanto, uma segunda onda no território nacional, explicam que seria necessário que o Brasil tivesse experimentado uma redução drástica no número de infectados – chegando a níveis insignificantes – e que agora o pêndulo fosse para o outro lado, num crescimento meteórico. Como não foi o caso, tecnicamente não há que se falar em 2ª onda  –  acreditam.

Por outro lado, uma boa fatia desses mesmos especialistas que são referência nacional entende que “segunda onda” não passa de “preciosismo acadêmico”, visto que o fato relevante é a inequívoca expansão do contágio e a necessidade de se abrir novas frentes de combate ao vírus até que as vacinas comecem a ser distribuídas e se inicie o processo de imunização no País.

Aumento na média móvel de óbitos e na taxa de ocupação de hospitais 

Seja com for, os números não mentem e apontam o agravamento da doença em diferentes frentes. Nos últimos dois meses, a maioria dos estados brasileiros registrou sucessivas quedas na média móvel de casos.

O Brasil chegou a ter apenas dois estados em alta, um ou outro em estabilidade, e a maior parte em baixa. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, ficou 10 semanas seguidas em baixa. Numa mudança radical, no dia 19 – data de fechamento desta edição – treze estados registravam alta no número de óbitos, inclusive o próprio Rio, acompanhado de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.

Em outro lado que reflete a piora de cenário, grandes e médias cidades do Brasil estão registrando alta importante na taxa de internação e ocupação de UTIs – o que demonstra que, sem reversão, poderemos enfrentar um processo sombrio, tendo em vista que vários hospitais de campanha foram desativados ou desmontados.

Campos – Também em Campos, conforme informou matéria do jornal On-line do Terceira Via, os hospitais particulares da cidade registraram “aumento expressivo no número de atendimentos a pacientes com Covid”.

Sobre esse novo momento desfavorável, a direção do Grupo IMNE revelou preocupação. “Estamos assistindo de mãos atadas pessoas indo para as ruas e se aglomerando. Nossa expectativa é por uma maior conscientização de todos, mas o fato é que nas últimas três semanas o fluxo de atendimento pela Covid aumentou significativamente” – alertou a direção.

De acordo com a coordenadora do Escritório de Qualidade do Grupo IMNE, enfermeira Amanda Ribeiro, o Hospital Dr. Beda segue com todos os protocolos de segurança contra a Covid, mas alerta que “as pessoas precisam ficar atentas porque a pandemia não acabou”. Amanda informou, ainda, que a semana epidemiológica fechada em 14 de novembro registrou aumento de 30% de pacientes comparativamente à anterior.

Obrigatoriedade de máscara, fiscalização e punições severas para quem descumprir  

O fato é que enquanto as vacinas não estiverem acessíveis à população – o que poderá acontecer a partir do início de fevereiro – é necessário que as autoridades tomem providências mais duras para conter o contágio.

Apesar de também ajudar no combate ao vírus, não adianta apenas ampliar as medidas restritivas porque, seja como for, as atividades econômicas necessitam funcionar, e novos fechamentos, muito embora possam voltar à pauta, precisam ser pontuais.

Se em certos segmentos de trabalho a redução de funcionários é viável – porque diminuem a circulação de gente e mantém o regime home office, que continua vigorando – em  outros, não. O comércio, por exemplo, precisa funcionar. Mas é inaceitável que em inúmeros estabelecimentos comerciais os funcionários atendam o consumidor com a máscara no queixo.

Em Campos, há estabelecimentos comerciais um pouco afastados do miolo do Centro (Av. Alberto Torres, rua Formosa, rua dos Andradas, Av. 15 de Novembro, etc.) que colocam na porta o aviso “Proibida entrada de pessoas sem máscaras” quando, dentro da própria loja, observa-se que alguns funcionários ficam sem máscara ou a usam no queixo. Ou seja: algo absurdo.

Logo, neste momento de crescimento de contágio, é necessário que municípios e estados baixem decretos duros, como autuar com pesadas multas lojas de todos os ramos e produtos, restaurantes, lanchonetes, postos de gasolina, farmácias, etc. quando forem encontradas pessoas, principalmente funcionários, sem máscara. E, na reincidência, até fechar o estabelecimento por determinado prazo. Simples: ou se enfrenta os infratores e negacionistas com medidas contundentes, ou perde-se vidas. A essa altura da pandemia, não há meio termo.

Até que chegue a imunização 

Enquanto a vacina não chegar, não há como as cidades continuarem a tolerar ajuntamento criminoso de pessoas, bem como aceitar passivamente que alguns não queiram usar máscara, e fique por isso mesmo.

Para o infectologista Renato Kfouri, um dos mais conceituados do Brasil, os resultados que estão chegando das vacinas antecipam uma eficácia acima do previsto, bem como ampliam a confiança de que teremos produtos de perfil bastante promissor, particularmente a da Sinovak (cujo primeiro um lote de doses chegou ao Brasil na quinta (19) e de Oxford. Mas – explica – há que ter cautela face a algum risco.

– Temos que procurar as melhores vacinas, com a melhor velocidade, o melhor preço e a maior quantidade, garantindo o sucesso de imunização. Enfim, não é muito fácil fechar todos esses quesitos, especialmente  logística, mas tudo indica que estamos no caminho certo.