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Opinião: Perderam os que correram do debate

Encontro com estrutura técnica dos grandes grupos de comunicação

Eleições 2020
Por Redação
12 de novembro de 2020 - 0h17

Depois de quase três horas de um debate que primou pela organização, tanto técnica quanto de regras, a constatação de que não houve um vencedor nem um perdedor, entre os seis candidatos presentes que honraram o anterior compromisso de comparecer. Perdedores mesmo foram os que perderam essa oportunidade, e dois sem dar ao menos justificativa — Caio Vianna (PDT) e Wladimir Garotinho (PSD) — e que haviam confirmado suas presenças.

Assuntos relevantes foram confrontados em alto nível, e a equipe jurídica do Sistema de Comunicação Terceira Via, à qual caberia julgar pedidos de direito de respostas, sequer foi acionada. Não seria errado afirmar que, diante das circunstâncias, a moderadora, jornalista Letícia Nunes, foi destaque com pulso forte e elegante, merecendo cada um dos muitos aplausos que recebeu ao término da pequena platéia que estava nos assentos do Centro de Convenções da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).

O Sistema de Comunicação Terceira Via mostrou completa competência técnica, em um debate transmitido ao vivo pela 3ª Via TV, pelo Youtube, pelas redes sociais e pela rádio Band FM, um feito nunca visto na história da imprensa da região.

 

Ausências

Cinco dos 11 candidatos a prefeito de Campos não participaram do debate: Alexandre Tadeu Tô Contigo (REP), Bruno Calil (SD), Caio Vianna, Carla Waleska (PSDB) e Wladimir Garotinho.

Alexandre Tadeu Tô Contigo foi diagnosticado com Covid-19 e cumpre isolamento domiciliar desde o último dia 7. Sua campanha entrou em contato com o Sistema de Comunicação Terceira Via para viabilizar participação remota, mas a modalidade não está prevista nas regras aprovadas pelos representantes dos candidatos.

Dr. Carla Waleska é médica concursada da rede pública municipal de saúde na cidade de Macaé e justificou a ausência, que qualificou como “desconfortável”, pela necessidade de comparecer a um plantão. 

É preocupante, porém, que três dos quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto se valham de um dos mais condenáveis expedientes da política — o de sabotar, pela ausência, a discussão democrática das ideias — para não expor seus pés de barro.

Então, a surpresa negativa do debate foi a ausência dos candidatos Wladimir Garotinho e Caio Vianna. Eles que enviaram representantes para aprovar as regras e que ao vivo confirmaram suas presença no debate, sem nenhuma justificativa simplesmente não compareceram. Como diz no jargão popular, fugiram ao debate.

Cada um tem o direito de ir ou não aos encontros previamente combinados, mas num momento em que se o que discute são os próximos quatro anos de Campos, a falta de respeito com o eleitor salta aos olhos. Como um candidatos que almejam governar nosso município agem dessa forma? Será que tem algo a esconder? Será que não estão preparados ou não podem responder determinadas perguntas? Será que fugirão dos debates com sociedade caso seja um deles sejam eleito?

Ficam muitas dúvidas importantes diante desse comportamento de Wladimir Garotinho e Caio Vianna e a pergunta que fica com certeza na cabeça do eleitor é de como votar num candidato que se esconde diante da possibilidade de ser confrontado com questionamentos simples num processo eleitoral.

A sensação que fica é a pior possível, de candidatos fracos, despreparados e marionetados por forças políticas que também não podem aparecer em público. Em relação ao Bruno Calil, esse então, nem se dignou a responder aos chamados, ignorando não apenas um debate, mas a própria democracia. Nunca participou de um debate, provavelmente por não acreditar nem nele diante de perguntas importantes que devem ser feitas aos que pleiteiam o cargo máximo do município.

 

Desempenho dos candidatos

Cláudio Rangel (PMN): O empresário do ramo da assistência funerária se classificou como “marinheiro de primeira viagem”. Em uma fala contemporizadora, evitou atacar diretamente qualquer dos candidatos presentes e creditou os problemas de Campos ao “sistema”. Teve o microfone cortado diversas vezes por estourar o tempo, se recusou a responder pergunta sobre o caso Mariana Ferrer feita pela Professora Natália e apostou em generalidades, como a necessidade e “cortar gordura” e “fazer o dinheiro circular” sem, contudo, apresentar propostas de políticas públicas para concretizar esses objetivos. Mas, conseguiu a adesão da candidata Odisseia Carvalho à proposta de abrir mão do salário de Prefeito.

Jonathan Paes (PMB): As ausências do Dr. Bruno Calil, Caio Vianna e Wladimir Garotinho abriram espaço para que construtor civil polarizasse diretamente com o prefeito Rafael Diniz. Oportunidade que aproveitou mesmo quando estava fazendo perguntas a, ou respondendo questões de, outros candidatos. Criticou a condução das políticas de desenvolvimento e saúde da Prefeitura, atacou os sobrenomes políticos dos concorrentes e apelou à pauta de costumes, ao falar sobre “drogas, aborto e ideologia de gênero”, para atacar a Professora Natália, fugindo ao alcance das prerrogativas de um Município. Nas considerações finais, reforçou sua origem outsider e voltou a atacar a política tradicional.

Professora Natália (Psol): Com uma postura incisiva, a professora protagonizou um momento de tensão com Jonathan Paes, que apostou na pauta de costumes para tentar nacionalizar a discussão e encurralar ideologicamente a candidata. Sem se mostrar intimidada mesmo sob vaias momentâneas, ela refutou a existência de uma “ideologia de gênero” e lembrou o caso meninas de Guarus para reforçar a necessidade de se discutir o papel da mulher na sociedade, igualdade política, econômica e social. Em suas considerações finais, ressaltou a campanha feita com poucos recursos e agradeceu o comprometimento de correligionários e simpatizantes.

Odisseia Carvalho (PT): Em uma pauta que mostrou afinidades com as defendidas pela Professora Natália e por Roberto Henriques, a presidente do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores advogou a valorização do funcionalismo municipal e a oficialização do vínculos dos RPAs por meio de concurso público. Afirmou que é importante garantir que o Previcampos seja gerido por servidores de carreira e criticou o atraso no pagamento de aposentados e pensionistas. Definiu saúde, educação e transporte como “serviços essenciais”, mas lembrou, também da cultura, do turismo e do patrimônio público como geradores de emprego, renda e arrecadação.

Rafael Diniz (CDN): Oscilando entre o terceiro e quarto lugares nas pesquisas, o prefeito marcou presença e se saiu bem, apesar de todas as críticas ao seu governo. Enumerou realizações, ressaltou números e classificou ideias apresentadas pelos demais candidatos como inviáveis diante do quadro econômico por que passa o Município. Defendeu transparência e honestidade na relação com o eleitor, com o qual se desculpou por ter feito menos do que prometeu em 2016. Atacou Caio e Wladimir, lembrando que o filho de Garotinho concorre com base em recurso, e apelou aos indecisos e insatisfeitos nas considerações finais. 

Roberto Henriques (PCdoB): Com um discurso voltado para o servidor público, a responsabilidade Fiscal e a ética administrativa, o ex-deputado estadual se valeu da presença do prefeito Rafael Diniz para atacar propostas dos adversários como fraudulentas por não terem dotação orçamentária. Se dirigiu diversas vezes aos ausentes Dr. Bruno Calil, Caio Vianna e Wladimir Garotinho, cujas campanhas acusou de violação das normas sanitárias de combate à pandemia do novo coronavírus. Afirmou que as candidaturas dos três existem para representar interesses de políticos tradicionais que, por força de decisões da Justiça, não podem, eles próprios, se candidatarem.

 

Quem fugiu? Quem brilhou? Quem perdeu? Quem venceu?

Os cerca de 160 minutos de debate responderam de forma clara às perguntas lançadas pelo Jornal Online Terceira Via, no último dia 11.

Fugiram Dr. Bruno Calil, Caio Vianna e Wladimir Garotinho, que abriram mão — de forma voluntária — da oportunidade de construir um diálogo republicano sobre o futuro de Campos junto à sociedade civil organizada, devidamente representada no encontro.

Brilhou a apresentadora Letícia Nunes, que precisou lidar com cinco ausências, ao mesmo tempo em que impunha ritmo ao debate e resguardava o bom cumprimento das regras do encontro.

Perdeu o eleitor campista, que, se pôde ter certeza do grau de indiferença dos candidatos ausentes com o processo eleitoral e a discussão pública das ideias, não pode dizer o mesmo das propostas daqueles que talvez disputem, no próximo dia 29, o segundo turno.

E por uma daquelas coisas da Democracia, é justamente ela que sai como principal vencedora do debate promovido pelo Sistema de Comunicação. A deliberada opção de parte dos candidatos por negar ao eleitor conhecer o que pensam é, em sua intenção de esconder, bastante reveladora. E deve ser considerada com cuidado pela população de Campos no próximo domingo, quando for depositar o voto na urna, ato que celebra e consuma nosso regime político, a despeito de condutas individuais.