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Suzane Carvalho: das novelas para os autódromos

Conheça a atriz que abandonou a carreira para viver das pistas de corrida

Automobilismo
Por Rodrigo Viana
10 de novembro de 2020 - 16h51

Suzane Carvalho é destaque feminino nas pistas brasileiras (Foto: Divulgação)

Suzane Carvalho é carioca, tem 56 anos, é piloto de carros e motos, jornalista e empreendedora.Piloto campeã de diversas categorias no automobilismo e no motociclismo, é a única mulher no mundo campeã de Fórmula 3, é a única brasileira a ter tido convites para correr na Fórmula 1 e é a única piloto brasileira a conquistar títulos nacionais sobre duas e quatro rodas. Suzane promove cursos de capacitação e treinamento para condução de carros e motos para passeio e para competições esportivas, inclusive kart e fórmulas. Ela também foi atriz, com atuações em teatro, cinema e TV, inclusive estrelando em várias novelas da Rede Globo. Suzane também foi capa de diversas revistas e fez diversos comerciais e anúncios publicitários. Tem dois livros editado, um para pilotagem de kart e outro para pilotagem de moto.

Suzane Carvalho também foi a minha instrutora no seu curso de direção defensiva / evasiva, do seu Centro de Treinamento de Pilotos Suzane Carvalho. O curso foi realizado no antigo Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, momento ao qual eu a conheci pessoalmente. De lá para cá, encontramo-nos várias vezes, nos autódromos e em eventos, num destes encontros, Suzane me concedeu esta entrevista.

Suzane, quando começou a sua carreira profissional?

Eu comecei muito precoce. Com apenas 2 anos e meio de idade, eu já fazia o meu primeiro comercial, foi para a rede de postos de combustíveis da Atlantic. Até hoje, já fiz mais de 250 comerciais.

Como se tornou atriz? O que a motivou?

Sendo nascida em uma família de artistas, segui os caminhos de minha mãe, Lia Farrel, e de minha irmã, Simone Carvalho. Estreei no teatro com 13 anos, no cinema com 14 e nas telenovelas com 18. Participei de todos os tipos de produções: comédias, musicais e dramas. Também atuei produzindo duas peças teatrais, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Como foi a sua atuação nos palcos de teatro?

No teatro, minha primeira peça foi aos 13 anos, foi em 1977, eu fazia uma coelhinha no musical infantil “O Circo”. Oito anos mais tarde, na mesma peça, eu viria a ser a protagonista Bailarina.Entre 1977 e 1988, fiz nove peças teatrais: Em 1977, foi “O Circo”, que acabei de citar; em 1978, foi “Os Apuros de Papai Noel”; em 1979, foi “A Fadinha que era boa”; em 1982, “A Bela e a Fera”; em 1982/1983, “O Pequeno Príncipe”; em 1984, “O Analista de Bagé”; em 1985, “O Circo” novamente; também em 1985, “Bocage” e; em 1986/1987, “Férias Extra Conjugais”.

Como foi a sua atuação nas telas do cinema?

No cinema, a minha primeira aparição foi aos 14 anos, no longa-metragem “Sábado Alucinante”. Fiz oito filmes, os principais foram: “Fêmeas em Fuga” e “Perdidos no Vale dos Dinossauros”, nestes, fui protagonista. Também participei,entre outros, do “Amada Amante”, “Profissão Mulher” e “Geração Saúde”.

Na televisão, quando tudo começou?

Na TV, estreei aos 18 anos, na Rede Globo, na novela “O Homem Proibido”, em 1982. Também atuei nas novelas “Vereda Tropical” e “Champagne”, nesta, fiz a personagem principal da trama, a assassina da empregada “Zaíra”. Trabalhei também em programas humorísticos, como “Chico Anísio Show”, de 1983 a 1985, e programas especiais como “Caso Verdade” e “A Era dos Halley”. Na TV Manchete atuei com o Costinha no programa “Domingo de Graça”, em 1986. Na Rede Bandeirantes, os maiores trabalhos foram a “Miss Constituinte”, do programa “Agildo no País das Maravilhas”, em 1987 e 1988, e a apresentação dos famosos bailes de carnaval de 1988 a 1990.

Você também já atuou em revistas?

Sim. Cheguei a fazer algumas fotonovelas. Fui capa de muitas revistas de diversos segmentos. Fiz muitos calendários. Já fiz ensaios sensuais fotográficos para as três principais revistas masculinas da década de 80: Playboy, Ele Ela e Status. Também já fui destaque de escola de samba em vários carnavais no Rio de Janeiro.

Como surgiu o gosto pelo automobilismo?

O meu grande sonho, desde pequena, era ser piloto de automobilismo, era algo que me fascinava, mas não tinha ideia de como começar a correr, até o dia, em julho de 1989, em que vi um anúncio no jornal sobre uma escola de pilotagem de kart. Pronto, foi o início de uma transformação radical na minha vida, que mudou da água para o vinho.

Como foi o seu início no automobilismo?

Comecei então no kart, onde fui campeã brasileira logo no primeiro ano, em 1989. Em 1990, fui campeã carioca e campeã da Taça de Prata. Neste mesmo ano, fui vice-campeã da Taça Rio de Janeiro e Taça de Ouro. Também fui vice-campeã, em 1995, do Torneio de Verão do Rio de Janeiro.

Fora o curso de pilotagem de kart, você chegou a fazer mais algum curso de pilotagem automobilística?

Cursei duas escolas de pilotagem, que é fundamental para quem quer ingressar no automobilismo, uma foi a Alpie, em São Paulo, e a outra foi a Spenàrd-David, no Canadá.

Como foi o seu início nas categorias Fórmula?

Passei pelas Fórmulas 1600, Fórmula Ford, Fórmula 2000 Canadense e Fórmula 2000 Italiana, até chegar à Fórmula 3 Sul-Americana, a categoria mais importante do automobilismo Sul-Americano. Em 1992, foi o primeiro ano em que fiz um campeonato completo e participei da Categoria B da Fórmula 3, conquistando os títulos de campeã brasileira e campeã sul-americana.Esta foi a primeira vez na história do automobilismo mundial que uma mulher conquista um título na Fórmula 3, que é disputada em todo o mundo, e com isso, acabei entrando para o Guinness Book e para a EnciclopédiaBarsa.

Você chegou a correr nas Mil Milhas de Interlagos, uma tradicional prova brasileira de resistência?

Em 1993, participei das Mil Milhas de Interlagos, correndo com um Stock Car e chegando em 3º lugar. Em 1994, repeti o 3º lugar correndo com um Protótipo VW. Já em 1996, formei a primeira equipe feminina a correr nas Mil Milhas, mas tivemos que abandonar a prova quando estávamos na 4ª colocação, depois de 8 horas de corrida, com problemas em nosso Aldee.Mas, em 1997, cheguei em 6º lugar, correndo também em dupla feminina.

Rodrigo Viana e Suzane Carvalho

Quais foram as outras categorias que você participou?

Em 1995, corri o Campeonato Argentino Copa de Damas, com um Nissan-Sentra, conquistei três vitórias e subi diversas vezes ao pódio, sagrando-me “Campeã Moral”, pois eu não tinha permissão para pontuar no campeonato.    Em 1996, peregrinei pelo Brasil e Argentina competindo em diversas categorias de Turismo e Kart, e conquistei três vitórias, nas quatro etapas que corri no Campeonato Carioca de Turismo.Já em 1997, voltei a disputar um campeonato completo, e corri o Campeonato Carioca de Turismo, disputando sempre a ponta e fazendo a “pole-position” entre 34 pilotos, porém, por diversas vezes, fui posta para fora da pista, masconsegui conquistar o 4º lugar no campeonato. Também voltei a participar do Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3, onde fiz quatro corridas, além de correr algumas etapas do Carioca de Kart.Em 1998, dei um passo que não poderia faltar na minha carreira: corri nas tão famosas pistas da Inglaterra e disputei quatro corridas na Fórmula Palmer Audi e sete no campeonato Inglês de Vectra.Em 1999, corri cinco etapas do Campeonato Pan-Americano de Fórmula Indy Lights,um carro de quase 500 cavalos de potência e que pesava somente 650 kg! Em 2000, consegui um patrocínio da UOL para correr meia temporada na categoria, a maioria das corridas foi no México, mas também corri no circuito oval de Colorado Springs, nos Estados Unidos. Foi a primeira vez que corri num circuito oval e gostei muito! Foi o carro mais forte que guiei, era como que domar um “touro”! Entrou o novo século e continuei a correr em algumas destas categorias que competi nos meus primeiros 11 anos de automobilismo.

Você chegou a pensar em correr na categoria principal da Fórmula Indy e também na Fórmula 1?

Tive convites de equipes para correr tanto na Fórmula 1 como na Fórmula Indy, mas não consegui o dinheiro necessário para ingressar em uma das categorias máximas do automobilismo.

Você hoje tem uma escola de pilotagem?

Em 2003 realizei outro sonho, montando o meu Centro de Treinamento de Pilotos onde ministro aulas na formação e treinamento de pilotos de Kart, Turismo, Fórmula, Protótipo e Moto, na condução esportiva para competições, e também de Direção Defensiva/Evasiva para carros e motos para uso nas ruas – inclusive você foi o meu aluno -, além de possuir uma equipe de competição de Kart.

Neste início de século, você trocou o automobilismo pelo motociclismo?

Fiquei 12 anos afastada das competições, estava me dedicando muito ao meu Centro de Treinamento de Pilotos e à minha carreira de jornalista, testando diversos carros e motos, escrevendo para jornais, revistas e sites, além de gravando para o meu canal na internet Suzane.TV. Como muitos testes de moto são realizados em autódromos, eu que já andava de motocicleta há 38 anos, interessei-me pela técnica de pilotagem para pista, que aliada ao meu espírito de competitividade, levou-me de volta às competições, correndo na categoria 500 cc da SuperbikeSeries Brasil, a maior competição de motovelocidade da América Latina. Consegui conquistar o bicampeonato na categoria Máster.

Você já escreveu algum livro, passando a sua experiência para o papel?

Em 2004 publiquei o livro “Curso de Pilotagem de Kart – Pilotando e Acertando um Kart”. Já em 2017, lancei o livro “Moto – Pilotagem Avançada e Dicas Para Viagem”. As minhas experiências também estão sendo contadas desde 2019, no Programa “Tunadas”, as quartas, à noite, no canal Discovery Turbo.