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“Eu já tive 30 anos, eles nunca tiveram 72”, diz Cláudio Rangel

O mais velho dos candidatos a prefeito de Campos diz que não vai usar sua experiência contra os adversários jovens

Eleições 2020
Por Aloysio Balbi
9 de novembro de 2020 - 0h01

Cláudio Rangel é candidato a prefeito de Campos pelo PMN (Fotos: Carlos Grevi)

Há 28 anos Cláudio Rangel fundou a maior funerária da região. Aos 72 anos, quando a maioria dos seus contemporâneos pensa em vestir o pijama, ele sonha ir ao alfaiate fazer um terno de linho para tomar posse como prefeito de Campos, o que é um contraste com os jeans despojados de seus adversários, quase todos muito jovens.
Diz que não usará o benefício da idade e da experiência de vida no confronto com os “meninos”. Acrescenta que a diferença entre ele e eles é “que eu já tive meus 30 anos e eles estão longe dos meus 72”. Promete uma administração rigorosa com disciplina fiscal, mas admite que dentro da lei dará incentivos para atrair geradores de empregos como indústrias e agronegócio.

Nascido na Baixada fala com entusiasmo sobre o Porto do Açu, e afirma que Campos não está sabendo tirar proveito econômico desta estrutura. Diz que Campos nas últimas décadas tem sido vítima de uma política sem resultados, acrescentando que sabe como sepultá-la. Mostra uma grande disposição física e diz que não tem tempo para exercícios regulares, exceto dançar forró, sua grande paixão assim como sua esposa e seus dois filhos. Trabalha 12 horas por dia, e garante que tem muita disposição para transformar essa cidade tornando-a mais viva. Conta que trabalha com uma equipe técnica, que está formatando uma série de projetos para Campos, a maioria deles geradores de emprego e renda, mas deixa escapulir que pretende em uma Parceria Pública e Privada (PPP), montar um cemitério de alto padrão em Guarus. Por fim, ele desafia os candidatos a abrir mão do salário de prefeito. Fecha afirmando ter a certeza da vitória e que as urnas vão mostrar isso.

Por que um empresário bem sucedido como o senhor, aos 72 anos, quando muitos nesta idade pensam em vestir um pijama, o senhor sonha preparar um terno para a posse de prefeito?

Porque em várias décadas eu percebo que a nossa cidade perdeu quase toda a sua indústria, agricultura e comércio, e hoje estamos aí com uma população desassistida, sem emprego, com uma saúde precária, uma educação primária de péssima qualidade. Todos reféns de uma política perversa e sem a menor experiência. Aos 72 anos, me sinto muito jovem para governar nossa cidade, que precisa de um governo extremamente jovem e confiável. Quero governar para todos. Tirar a tensão desta política que ficou se alternando no poder, mas mantendo as mesmas práticas, que não são as melhores. Campos tem potencial, basta ter percepção para identificá-las e saber lidar com elas. Não é uma tarefa difícil. Nos últimos meses montei um grupo de trabalho e identificamos as prioridades e vamos fazer um governo de resultados. Sou sim o mais velho, mas não vou usar essa prerrogativa, contra os meus jovens adversários. Prefiro me apresentar com o espírito jovem, como o deles, do que cobrar uma maturidade que eles não têm. É preciso acabar com essa política, que não apresenta resultados para o nosso povo. Resultados práticos no cotidiano das pessoas. Então é preciso sim acabar com essa política que se instalou em nosso município.

E como o senhor pretende sepultar essa política sem resultados a qual o senhor se refere?

Fazendo nascer uma outra. Isso é possível com muito trabalho e seriedade. Valorizar a moeda, enxugar o que está molhado demais e fritar o que está cozinhando na água fria. Isso significa aquecer o mercado com investimento riquíssimos oriundos das regiões mais ricas do país como o Sul, Centro Oeste e em boa parte do Sudeste onde fisicamente estamos. A ideia é atrair empresas que gerem empregos para as novas gerações. Se for preciso, dentro da lei, daremos incentivos fiscais para essas empresas se instalarem aqui. Temos dados de incentivos e com isso ocorre o contrário: a que estavam aqui, foram embora. Temos que incentivar a vinda de empresas e serviços em todos os níveis, focando no agronegócio e nas indústrias, porque, de certa forma uma completa a outra. Com isso, vamos atrair comércio de fora e incentivar o comerciante local, promovendo uma enorme geração de empregos.

Como criar um ambiente para atrair esses investidores?

Com um governo forte e confiável, como citei acima, isso é possível. Digo que é o principal cartão de visitas de cidade. O investidor não gosta do tipo de ambiente que se instalou em Campos nas últimas décadas, com essa política assistencialista, criando enormes bolsões de pobreza. Quando isso começar a ser invertido, certamente o quadro muda.  Temos que mostrar que o terreno em Campos é fértil para investimentos. Está certo que anda meio castigado. Vamos adubar, no sentido ilustrado da palavra, esse terreno, e assim as empresas certamente virão. Não tenho a menor dúvida de que isso pode ser feito e, acontecendo, Campos vai acontecer. É da nossa vocação ser grande, mas quando houve aquela chuva de dinheiro Campos se afogou. Encolheu assim que a chuva de dinheiro passou. E infelizmente depois da tempestade não veio a chamada bonança e estamos amargando essa situação.

O senhor falou em terreno fértil. Isso é uma sinalização de prioridade ao agronegócio?

Certamente. Todos sabemos que o agronegócio é o que hoje impulsiona o Brasil, Eu nasci na Baixada Campista. Aprendi a plantar e a colher. Sou do tempo em que Campos tinha 17 grandes usinas e hoje conta apenas com duas. Enganam-se os que pensam que a indústria do açúcar é algo fracassado. Ela foi abandonada. As duas usinas que estão moendo vão fechar o ano com uma safra magnifica, produzindo milhões de reais. Mas não falo apenas na agroindústria da cana. Vocês sabem que a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) desenvolve um projeto de plantio de soja? Isso é de suma importância. Até uvas francesas estão sendo plantadas em Campos e São Fidélis para produção de vinho. Isso sem falar na pecuária de leite e corte, que sempre foram fortes. Temos condições de ter uma pecuária de corte de alto nível. O mundo vai precisar de alimentos. No campo do agronegócio não vamos esquecer dos pequenos, que precisam de incentivos para produzir. Temos um excelente projeto neste sentido.

É uma empreitada audaciosa, o senhor não acha?

Claro que sim. Minha vida sempre foi um desafio. E penso longe. Há 50 quilômetros do Centro de Campos temos o Porto do Açu, no limite com São João da Barra. Fui criado lá, onde tinha jararaca de dente torto e sabiá. Hoje, tem um dos maiores portos do mundo. Navios da África, da Ásia e da América do Norte atracam aqui e nem sabem que Campos existe. Temos um corredor de exportação através do porto e precisamos pensar nosso. Temos também duas importantes Rodovias Federais por onde passam em média 1 milhão de pessoas/dia, mas quase ninguém para tomar um café. Não tem curiosidade, pois já ouviu alguém falar mal. Temos tudo. Mas precisamos tratar da nossa infraestrutura, principalmente no transporte coletivo, Saúde e Educação. Precisamos estabelecer a respeitabilidade e a confiança.

Como será isso?

Com projetos possíveis e eficientes. Quero colocar ordem na casa, disciplina fiscal. Não vou admitir pagar funcionários com atraso em fornecedores. Será pago dentro do que estabelece o contrato. Isso é muito importante e saudável para a nossa economia interna, e reflete nos investidores. Tenho que bater nesta tecla porque isso é extremamente necessário. Para alcançar essa meta terei que ser austero e qualquer pessoa, no mínimo bem intencionada, tem que concordar comigo. Tenho olhado nos olhos das pessoas. Essa é uma campanha de máscaras por causa da pandemia, mas aquele outro tipo de máscara não cabe mais. Olho nos olhos e falo. Eu falo a língua do povo e o povo me compreende. Nosso povo está passando necessidade, beirando à miséria e isso não pode acontecer em uma cidade como Campos. Aliás beirando não, já são milhares e milhares abaixo da linha da pobreza pelo que se lê no jornal.

O senhor considera seus adversários juvenis?

Eu comparo esses novos candidatos como se fossem cidadãos em busca de emprego. Casados, com mulher e filhos, precisam de um trabalho. A política parece um balcão de empregos para alguns deles. Se você pergunta o que fiz e o que faço na vida, vai precisar de horas e de muito papel para preencher, e certamente estarei esquecendo alguma coisa. Agora, perguntem o mesmo a eles. Precisará de alguns minutos, de duas ou três folhas de papel. E não é uma crítica pessoal. Obviamente, eles têm restrições as pessoas da terceira idade e eu tenho direito do inverso. A diferença é que eu já tinha 30 anos e eles estão longe dos 70. Mas, repito, não pretendo usar isso contra os candidatos jovens. Tenho o espírito jovem. Minha grande diversão é dançar forró. Tem que ser espírito de jovem e também preparo físico para isso.

E o senhor se relaciona bem com esses seus adversários?

Meu estilo é criticar políticas e não pessoas. Já me encontrei com vários deles por aí e são encontros ocasionais e cordiais. Eu sempre digo que se for eleito eles vão cobrar de mim e com toda razão. E eu digo que vou cobrar deles também. Essa é minha maneira de fazer política, expondo meu entusiasmo e meus projetos.

Fale um pouco dos projetos.

São muitos. Como te disse tenho uma equipe trabalhando nisso. A maior parte deles são projetos de fomento para a área econômica, pois isso, dando certo, as demais áreas darão certo também. É óbvio que não vou esperar e nem posso, que Campos se transforme primeiro. O primeiro passo será cuidar do transporte público, da Saúde e Educação. Isso é premente, não pode esperar. Mas quando as empresas e as indústrias chegarem, com força, consequentemente, a Saúde vai melhorar, a Educação também. Tudo certamente vai melhorar. Vamos trabalhar dia e noite para que isso aconteça.

Existe algum projeto que o senhor possa adiantar?

Vou revelar um que é da minha área. Guarus precisa urgentemente de um cemitério. Já identifiquei mais de uma área onde poderemos fazer um cemitério de primeira linha em uma Parceria Público Privada. Temos tudo esboçado e inclusive investidores interessados. Certamente, esse não será um grande projeto, é apenas um exemplo. Vamos fazer projetos bem maiores. Campos teve tempestade de dinheiro e o que sobrou? Passe os olhos pela cidade e identifique uma obra robusta. Você não vai encontrar essa agulha no palheiro, pelo simples fato da agulha não existir. O cemitério de Guarus é uma resposta ilustrativa e um projeto antigo, mas meus projetos serão para dar vida à cidade. Tenho certeza, do alto dos meus 72 anos, que nenhum outro fará tanto.

Isso é um desafio aos adversários?

Não exatamente. Isso é a voz de um homem experiente, que sabe administrar. Mas, como você falou em desafio, faço um agora: vou abrir mão dos meus vencimentos como prefeito. Não quero receber salários. Quero ver se eles topam esse desafio. Feito. Quem ganhar abre mão. O mesmo deveriam fazer os que se tornarem vereadores. O desafio está feito.