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Minha experiência com o SUS

Por Eliana Garcia

BLOG
Por Eliana Garcia
1 de novembro de 2020 - 0h07

Prezados leitores, o ofício de escrever um artigo ou crônica, a cada semana, exige da pessoa que o faz estar atento aos fatos da vida cotidiana para que o texto seja do interesse do leitor. Algumas vezes, fujo dessa norma e escrevo sobre sentimentos, memórias da infância, leitura, etc, mas sempre com o desejo de proporcionar a quem lê alguma reflexão ou outro olhar sobre o tema.

A pergunta recorrente de quem escreve é sempre a mesma: sobre o que irei tratar? Mas há temas que se impõem, como por exemplo, o decreto número 10.530/20 editado esta semana pelo governo. Trata-se da inserção da política de desenvolvimento do setor de atenção primária do Sistema Único de Saúde no programa de concessões e privatizações da União. O decreto foi revogado logo em seguida, devido a duras críticas por meio das redes sociais e dos meios de comunicação. Muitos políticos também se pronunciaram contra a medida.

Embora o governo tenha dito que o espírito do decreto não era de privatização, essa intenção/ação é uma janela aberta para que isso aconteça.

Em meio a uma terrível pandemia, considerar essa possibilidade de “parceria” com a iniciativa privada é, no mínimo, estarrecedora. Mas o que esperar de um governo ultraliberal que defende o Estado mínimo e o desmonte de direitos sociais, trabalhistas e individuais conquistados a duras penas?

A minha experiência com o SUS vai além das importantes vacinas. Minha neta, hoje com 17 anos, teve câncer na glândula suprarrenal aos três. Tal enfermidade foi sinalizada pelo competentíssimo, atencioso e querido médico Dr. Francisco Arthur de Souza Oliveira, o doutor Chicão. (Faço questão do reconhecimento). Menos de uma semana, depois de pesquisar onde fazer o tratamento, optamos pelo Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro. Recebemos recomendações de vários médicos, inclusive do Dr. Paulo Hirano que muito nos ajudou nesse período. A eles, o nosso agradecimento eterno!

E assim nos encaminhamos para o setor de triagem numa segunda-feira fria e chuvosa. Em seguida, para o ambulatório e para a primeira consulta médica. O processo começou: duas cirurgias, quimioterapia, internações, injeções quase diárias para aumentar a imunidade, manutenção semanal do cateter implantado no braço, remédios, consultas médicas regulares, atendimento extra em caso de febre, além de participação de dois familiares em mesa redonda com vários médicos. Esse protocolo era para todos os pacientes sem distinção. Imaginem quanto custa um tratamento desse nível durante dois anos? Muitos lutam para ter todo o seu tratamento garantido pela assistência médica particular.

Somos testemunhas da competência, do cuidado, do carinho de todos os profissionais que ali trabalhavam/trabalham, desde a recepção à Direção da unidade hospitalar. É óbvio que o hospital era superlotado, com um ou outro problema de estrutura (poucos), porém não era carente de vontade profissional, de conhecimento e competência. Ao INCA, o meu agradecimento eterno!

Muitas vezes, entrávamos às oito da manhã para uma consulta médica e saíamos às dezessete hora. Tínhamos a paciência necessária. Mas nunca saímos do hospital frustrados. Saíamos satisfeitos e confiantes. Esse é o SUS que conheci.

E o que dizer do trabalho do Sistema Único de Saúde quanto ao atendimento às pessoas com COVID19? Sem essa rede de proteção aos mais carentes, ou não, muito mais pessoas teriam morrido, no país, além das 156.000 até o momento. Como seriam tratados?

Que invistam mais no SUS! Privatização NÃO!