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O medo do diagnóstico positivo

Especialista detalha aspectos psicológicos demonstrados no consultório por pacientes com câncer

Saúde
Por Redação
26 de outubro de 2020 - 0h01

Receber a confirmação de um tumor no organismo é algo que transforma a vida de muitas pessoas, ainda mais quando esse diagnóstico é descrito como maligno. O câncer não escolhe faixa-etária, sexo, renda ou qualquer outro tipo de aspecto social. Infelizmente, diversos brasileiros já passaram por esta situação ou estão vivendo neste momento a descoberta da doença. E além de cuidar do problema com formas de tratamento como quimioterapia, radioterapia ou cirurgia, é preciso lembrar quanto os lados emocionais destes pacientes e da família são afetados com a notícia.

A psicóloga do Grupo IMNE, Fernanda Barros da Silva, é a responsável por receber os pacientes oncológicos, em Campos. Segunda ela, no consultório, são perceptíveis alguns aspectos psicológicos demonstrados por estas pessoas que estão iniciando a jornada contra o câncer. “Existem muitos pacientes que ficam apreensivos. Porém, o que eu noto geralmente são os sentimentos de medo, ansiedade e de revolta. Muitas mulheres relatam o medo de perder o cabelo, porque mexe com a autoestima, ou de retirar a mama. Elas ficam preocupadas de como vai ficar a parte estética e de como será o relacionamento com o parceiro depois de passar por isso. Recebo também pacientes ansiosos pelo que está por vir no tratamento. Outros apresentam raiva e levantam questionamentos como ‘por que eu?’ ‘por que isso aconteceu comigo?’. São diversos sentimentos”, comenta.

Suporte

A especialista explica que é preciso respeitar o tempo de cada um destes pacientes para construir uma relação de confiança. “Cada um de nós tem um período para processar as coisas que acontecem. No caso do câncer, eu costumo dizer que é preciso fazer um acompanhamento não invasivo, sempre tentando respeitar o tempo desse paciente e entender a maior angústia dele naquele momento. Cada pessoa carrega planos, desejos e sonhos. Por isso, é fundamental também entender em que momento da vida que ele recebeu o diagnóstico, o que estava acontecendo. Às vezes era uma pessoa recém-casada ou que havia acabado de conseguir um emprego, de ter um filho… Eu respeito, mas tento trazer para a realidade e, aos poucos, vamos construindo uma relação de confiança. Muitos relatam que não querem passar por quimio ou radioterapia e eu tento mostrar os benefícios do tratamento. Também gosto muito de enfatizar a relação médico-paciente. Muitos sofrem por antecedência ou até começam a sentir sintomas além do comum e eu sempre tento estabelecer a tranquilidade para que o tratamento flua melhor”, frisa.

Apoio familiar

A psicóloga revela que a família é muito importante em todo processo de diagnóstico, tratamento até a cura do câncer. Porém, é preciso se atentar não só a qualidade de vida do paciente, mas também ao estado psicológico dos familiares que vivem esse processo junto. “Na parte de oncologia do Grupo IMNE, nós oferecemos suporte psicológico para a família uma vez na semana e os pacientes são orientados a fazerem esse acompanhamento. Gosto de conhecer o acompanhante, saber quem faz parte daquele vínculo e observo as relações, a dinâmica familiar para poder entender melhor esses relacionamentos. Muitos quando descobrem o diagnóstico mudam muito a dinâmica familiar. As pessoas ficam mais unidas e passam a valorizar o outro. Gosto de trazer os familiares para perto, ouvir e também falar que agora não é momento de desavenças. Sei que todos ficam mais frágeis, sofrem e adoecem junto. Outros ficam sem saber como ajudar. Dependendo do apoio que o paciente recebe da família, ele se vê mais fortalecido para encarar o câncer”, declara.

Recuperação| Paciente Lilian Souza

Não minimize a dor!

Fernanda ainda faz um alerta para as pessoas que convivem com um paciente oncológico. Muitos familiares e amigos às vezes acreditam que estão ajudando em alguns casos, mas talvez certas palavras podem interferir muito no emocional. “Não minimize a dor do outro. Eu sei que fazemos isso sem perceber, achando que estamos ajudando, mas às vezes isso soa como se a dor do outro não fosse importante. Não diga que o problema dele é menos doloroso ou que ele precisa o tempo todo estar bem. No consultório, deixo o paciente à vontade para chorar, ter raiva, medo, ansiedade… mas trabalho com a seguinte frase: ‘como você vai reagir a esse sentimento?’ e explico que ele precisa pegar essas sensações e transformá-las em algo positivo para o bem dele”, conta.

Medo

A psicóloga acrescenta que o medo é um sentimento apresentado pela maioria dos pacientes de faixas-etárias diversas. Geralmente, os mais jovens têm mais receio, de acordo com ela, pois estão em um período em que fazem mais planos de vida. “Recebemos muitos idosos, mas também pacientes a partir dos 40 anos. É mais raro atender jovens. Quando há algum caso, percebo que eles têm sim a cabeça mais aberta, mas são os que apresentam mais medo. Tento sempre incentivá-los e encorajá-los. Muitos têm suas questões de espiritualidade e isso é fortalecedor. Outros dizem que encontraram um propósito e se apegam a fé para continuar o tratamento. Esse, sem dúvidas, é um lado positivo e motivador. Eles acreditam que vão superar essa barreira e é isso o que desejamos”, completa.

Superação

Exemplo de superação, a professora Lilian Souza, de 49 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama há dois anos, e hoje comemora a vitória contra a doença. Mesmo sem nenhum caso na família, ela descobriu que estava com um tumor, passou por quimioterapia e cirurgia, e atualmente vive uma vida normal. O segredo para ultrapassar este obstáculo, segundo a paciente, foi a fé inabalável de que tudo iria dar certo.