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Oito meses depois… E ‘isso’ não tem fim

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
25 de outubro de 2020 - 0h01

Brasil completa, neste 26 de outubro, oito meses desde o primeiro caso de Covid 

Numa pergunta retórica, o que vai ficar – no sentido de legado de trevas – de 2020? Que irá entrar para a História como o ano do novo coronavírus, não há dúvida. Mas, antes de ‘entrar para a História’, entrou em nossas vidas, na realidade do dia-a-dia e no ‘nosso’ hoje.

Ainda pior, depois de oito meses desde que confirmado o primeiro caso no Brasil, em 26 de fevereiro, seguimos (se é que se pode falar em “seguir”) num terreno minado, movediço e traiçoeiro, o qual a cada semana traz novas revelações, quase todas negativas.

Lá atrás, mesmo nas projeções mais pessimistas, era de se esperar que às portas de novembro a pandemia estivesse sob controle e fosse conhecida em todas suas vertentes. Com algum otimismo, até mesmo superada ou, no mínimo, nos seus estertores.

Mas, bem ao contrário, o que se vê é a instabilidade do desconhecido e um número de óbitos – muito embora em média decrescente – na faixa de 500/600 por dia – o que é catastrófico levando em conta o tempo que já dura a pandemia.

O signatário, que neste período escreveu mais de 20 páginas sobre a doença – incluindo uma longa entrevista com o infectologista Nélio Artiles, que consumiu duas páginas e meia e exprimiu, na época, um dos conteúdos mais esclarecedores veiculados na imprensa do interior fluminense – nem de longe fazia contas que chegaria praticamente no final do ano tratando do assunto ainda em estágio de tamanha turbulência.

Realidade assoladora 

De certo, mesmo em se tratando de uma pandemia, o 2020 nos tem sido mais destrutivo, assolador e sombrio do que haveria de se esperar de qualquer doença do século 21.

E com que palavras poderemos defini-lo? O ano abatido? O ano perdido? O ano da provação? Ou, quem sabe, tudo isso junto, somado ao desconhecido que parece não ter fim, ‘abastecido’ não por notícias de esperança, mas de infortúnio?

Se ontem foi o atraso nas medidas preventivas e o negacionismo à ciência – que seguem vigorando – hoje, oito meses depois, os protocolos de distanciamento social continuam, em grande parte, sendo inobservados, tal qual a proibição de aglomerações. Até o uso da máscara é negligenciado.

Acham o quê? Média de 500 mortos por dia está de bom tamanho? (Talvez digam: antes, eram mais de 1.000; agora “são só” 500) – cerca de 15 mil óbitos/mês. Isso é aceitável?).

Campos – Uma doença nova – sem igual nos últimos 100 anos – e uma fatia considerável da população não a leva a sério. Campos, que faz um bom trabalho no combate à Covid, em outubro vem registrando aumento no número de casos basicamente porque as pessoas não obedecem as normas de restrição.

Em setembro, os registros eram, em média, de 40, 60, 80 novos casos/dia. Neste mês, os números cresceram em vários dias: 150,  dia 05; 102, dia 08; 180, dia 09; 214, dia 14; 154, dia 16; 118, dia 20… Não se pode culpar as aberturas graduais (necessárias à atividade econômica do município), mas, sim, ao comportamento dos que frequentam bares lotados, que circulam ‘pra cima e pra baixo’ desnecessariamente e que querem superlotar a Lagoa de Cima nos fins de semana sem observar as medidas de restrição

No Brasil, são quase 156 mil mortos, aproximadamente 5 milhões e 400 mil casos de contágio. E… tudo bem! Caminhamos para o verão – que já está ali na esquina – e, se a vacina não estiver sendo distribuída (como não deverá estar) ‘a gente vê como é que fica’!

Politização da vacina é uma vergonha 

Um governo que coloca a política à frente da ciência; um País onde o presidente da República demite o ministro da Saúde que seguia os critérios científicos; que leva à saída de um segundo, em menos de um mês, e nomeia um general como interino, em plena pandemia, e depois de quatro meses o oficializa no cargo. Esperar o quê?

Pois é! Mas não ficou só nisso: o ministro Pazuello, que havia anunciado que o governo compraria 46 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, foi publicamente desautorizado por Bolsonaro, que anunciou… “não compraremos a vacina” e mandou cancelar o protocolo de intenções: “Não abro mão da minha autoridade”.

Em mais um evento em que a política atropelou a ciência (o presidente chamou a CoronaVac de “vacina chinesa de João Dória”) o episódio também repercutiu negativamente junto ao Exército, frontalmente atingido, tendo em vista que a Pazuello é um general da ativa.

E assim caminha a pandemia 

O Brasil não precisava ampliar o grave problema com tantas trapalhadas. A pandemia, por si só, vem mostrando novas e perigosas faces quase a cada semana.

Os médicos advertem sobre a possibilidade de reinfecção de pessoas que já contraíram o vírus e foram curadas. Os efeitos colaterais, antes não observados, são outro alerta: pessoas podem apresentar problemas neurológicos; depressão em estágio elevado, síndrome do pânico e doenças diversas.

Já há casos de infecção em gato – só para se ter ideia do que aparece como ‘novidade’ – e a renomada pneumologista Margareth Dalcolmo garante que não haverá vacina disponível para este ano.

Na Europa, a partir de novos avanços da doença – que sinalizam segundas ondas – vários países anunciam toque de recolher, redução nos horários de circulação e até lockdown.

Por fim, para os pensam que por aqui está tudo certinho, é assustador o aumento da incidência da Covid-19 em crianças. Em Salvador, 100% dos leitos clínicos pediátricos estão ocupados.