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2020: O ano do desassossego

Por Eliana Garcia

BLOG
Por Eliana Garcia
25 de outubro de 2020 - 0h01

Li, nas redes sociais, que 2020 não é um ano como os outros com as dificuldades e alegrias costumeiras. Realmente. É uma maratona a ser vencida: pandemia, desemprego, politização da vacina contra a COVID 19, queimadas, desmatamentos, desigualdade social, corrupção, violência, criminalidade, racismo, violência contra a mulher, imediatismo, fake news, preconceitos diversos, crise da educação, desvalorização da cultura e cento e cinquenta e cinco mil vidas perdidas pela COVID, no Brasil, até o momento… Estes são assuntos recorrentes, nesta coluna, embora não se queira ser a dama do apocalipse. Ficar calada é impossível. Precisamos ser cidadãos do nosso tempo e ter voz, pois as coisas estão acontecendo no mundo, no Brasil. “Ah! Mas eu não sou político, não gosto de política. Quero ficar longe desse assunto”, dizem muitos. Sinto em dizer, meu querido, que o seu silêncio é um ato político, assim como o próprio ato de viver. Lembrando, ainda, de que todas as decisões políticas de gestão do país refletem na sua vida e de seus sucessores. Ninguém disse que viver é fácil. É prova e possibilidade de crescimento.

Entre tantos outros problemas que enfrentamos, destaco a desinformação. Muitas vezes, ela é a causa dos demais. Os brasileiros, em geral, lêem muito pouco jornais, livros, mesmo textos maiores na internet. Tudo isso acaba não contribuindo para a leitura de mundo, para o entendimento. Os exercícios de pensar, de conhecer novas idéias, se informar por diferentes fontes, interpretar, ler as entrelinhas, comparar informações estão muito prejudicados. Por vezes, até não existem. O meu objetivo, aqui, não é apontar culpados. Este é um processo histórico complexo que mais parece um projeto de não desenvolvimento humano. A conferir os últimos tempos, principalmente, em relação à educação e à cultura.

Sim, 2020 é um ano de desassossego. Os problemas se avolumaram. Saímos em busca de portas, janelas, frestas que nos possibilitem respirar melhor. Vejo, nas diferentes formas de arte, uma saída para essa angústia coletiva, como uma catarse para o momento.

A escrita é uma forma de mastigar as dores da vida. Desse modo, registro, aqui, um pequeno poema que fiz:

Buscas
Quanta inquietação,
quantas questões,
quantas interrogações
fazem o homem
e desfazem-no.
Seria o homem
uma eterna busca?
Estariam, na travessia,
com pedra sob seus pés descalços,
a feitura do homem
e sua libertação?
De que fonte ele bebe?
Onde descansa seu cajado?
No transcendental, na arte,
na carne ou nas estrelas?
“E agora, José”?
O ponto final
Já não responde suas dúvidas.
E agora?
Por hora,
volte às estrelas,
beije uma criança,
leia um livro.
O desassossego vai passar.
E agora e sempre é continuar.
Para o mais,
não há respostas.
Só buscas.

Eliana Garcia