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Um prédio em três séculos de história

Edifício no Centro de Campos já abrigou agência bancária e universidade antes de se transformar no Sistema de Comunicação Terceira Via.

Geral
Por Redação
18 de outubro de 2020 - 0h03

Foto: (Carlos Grevi)

Foto: (Carlos Grevi)

Portões | Os ricos detalhes impressionam na fachada – Foto: (Carlos Grevi)

Escadaria | Obra em madeira do século XIX ainda preservada – Foto: Carlos Grevi

Hermes | Escultura de deus mitológico do comércio – Foto: (Carlos Grevi)

Este imponente edifício em estilo neoclássico situado na Rua Governador Teotônio Ferreira de Araújo, uma das principais ruas do Centro de Campos, chama a atenção de quem passa. Os mais jovens não sabem, mas esse prédio foi erguido em 1896 para abrigar uma das primeiras e principais instituições bancárias da cidade, o Banco Commercial e Hypothecário de Campos, e, no início dos anos 2000, também funcionou como pólo de pós-graduação e extensão da Universidade do Grande Rio (Unigranrio). Somente em 2012, a construção — hoje tombada pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Municipal por meio da Resolução nº 005 de 12 de setembro de 2013 — passou a assumir a função de sede do Sistema de Comunicação Terceira Via.
A fachada, pintada de branco com detalhes em mármore italiano, impressiona por suas janelas e portões com grades de ferro e emoldurados por pedras em cantaria talhadas à mão por operários portugueses no século XIX. Nela, destacam-se ainda as esculturas de Mercúrio ou Hermes, na Mitologia Grega, Deus da fortuna, do comércio e das negociações.

Banco do Vovô
Tal referência mitológica é proposital: o prédio foi a segunda sede do chamado “Banco do Vovô”, idealizado em 1855, no ano em que ocorreu a trágica epidemia de cólera, e inaugurado em 1873. A primeira sede, segundo o historiador Leonardo Vasconcelos, localizava-se onde hoje se encontra o Campos Shopping, na antiga Rua Beira Rio, atual Avenida 15 de Novembro.
Considerando o fato de que Campos, naquele período, já era uma cidade reconhecida por seu valor industrial, comercial e agrícola, a criação desse banco — o primeiro genuinamente campista por ter como acionistas senhores de terras locais — foi consequência da necessidade de institucionalizar e movimentar os capitais decorrentes dessas atividades econômicas, principalmente as exercidas pelos industriais açucareiros.
Mas a historiadora Sylvia Paes conta que o apelido “Banco do Vovô” foi cunhado devido à obsolescência de seus serviços. “Chamou-se dessa forma justamente por ser, anos mais tarde, um banco velho, que não se atualizou e se adequou aos pensamentos da segunda metade do século XX. Esse foi, também, o motivo que o levou ao seu fim após mais de 80 anos de funcionamento”, explicou.

Bamerindus
Na década de 1950, o Banco Comercial e Hipotecário de Campos foi adquirido pelo extinto Bamerindus, instituição com filiais em todo o Brasil e popularmente conhecida pelo seu jingle “O tempo passa/o tempo voa/e a Poupança Bamerindus continua numa boa…”.
A estrutura do banco anterior foi mantida: a parte inferior do prédio era dedicada ao atendimento ao público, onde ficavam os caixas e a gerência, à esquerda da entrada principal; embaixo da escada caracol, ainda preservada, ficava o telex (sistema de comunicação escrita) e, em frente, a tesouraria com seu grande cofre; já no piso superior funcionava o setor administrativo, em que tramitavam os contratos, a compensação de cheques etc, e a diretoria.
Ex-funcionário do Bamerindus na década de 1980, Geraldo Siqueira lembra com saudade desse período. “Trabalhei na época áurea dos bancos… A estrutura não era informatizada, então os serviços eram bastante arcaicos. Lembro-me de que as contas eram controladas por meio da ‘pastinha do cliente’, localizada em um enorme armário que ficava atrás dos caixas. Os saldos eram lançados à mão. Nós conferíamos a assinatura, víamos se havia saldo, pagávamos o cliente e colocávamos o cheque na chamada ‘bolsinha’; aí, mais tarde, o pessoal da compensação recolhia o cheque para fazer a movimentação dos valores. Estávamos na década de 1980, mas a estrutura era da década de 1920. Ainda assim, a beleza do prédio e a companhia dos amigos que fiz aqui contribuíam para que esse fosse um ótimo lugar para trabalhar”, recorda.
Em 1997, o Bamerindus foi comprado pelo então HSBC que moveu a instituição para outro endereço, na Rua Treze de Maio, deixando o edifício fechado por anos.

Unigranrio
Somente em 2005, o centenário prédio foi a leilão e adquirido pelo Grupo IMNE. Sua diretora geral, Martha Henriques, lembra que, nessa ocasião, houve uma reunião entre a direção do grupo e o reitor da Universidade do Grande Rio, Arody Herdy, que manifestou o interesse em implementar um polo da instituição em Campos para ofertar cursos de pós-graduação e extensão na área da saúde. Firmou-se, então, uma parceria e o prédio foi reformado para receber alunos e professores.
“O edifício estava bastante danificado e, por isso, contratamos uma empresa especializada em restauração para adaptá-lo às novas atividades, não mais financeiras, mas educacionais, sem perder suas características arquitetônicas”, conta Martha.
Acontece que, após três anos de funcionamento, o Grupo IMNE decidiu romper o acordo com a Universidade e, em 2008, o prédio voltou a ser fechado.

Terceira Via
A posse de um edifício desse porte no Centro da cidade resgatou o sonho antigo do presidente do Grupo IMNE, Dr. Herbert Sidney Neves, de criar um veículo de comunicação. A princípio, esse sonhado jornal circularia em versão impressa e sua sede estaria situada em um terreno na Avenida 28 de Março. Contudo, após o fechamento do polo universitário, Dr. Herbert viu na edificação o potencial para hospedar um empreendimento inovador.
Após uma segunda reforma, em 2012, foi lançado o Jornal Online Terceira Via. Em relação à estrutura, alguns elementos foram mantidos intactos, como o assoalho em madeira, a escada caracol e o emblemático teto com ornamentos em gesso e a inscrição “1896”, que registra a importância histórica do prédio.
Hoje, no primeiro piso se situa o foyer, onde visitantes e entrevistados são recebidos. No segundo, um mezanino, construído posteriormente, está parte dos estúdios de gravação da 3ª Via TV, e no terceiro piso, encontra-se a redação de jornalismo, além dos setores comercial e administrativo do Sistema de Comunicação.
Segundo Martha, a função atual do prédio resgata sua magnitude e seu prestígio. “Jornalismo é cultura. Nada mais natural que fazer jornalismo em Campos, em um local com tanta história e relevância para a nossa cidade”, conclui.