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Assessora municipal comenta sobre extrema pobreza em Campos

Fernanda Cordeiro analisa dados do Ministério da Cidadania que apontam 45 mil famílias que sobrevivem com até R$89 mensais

Entrevista
Por Ocinei Trindade
9 de outubro de 2020 - 18h55

Fernanda Cordeiro é assistente social e responsável por pesquisas e levantamentos de projetos assistenciais  da SMDHS da Prefeitura de Campos (Foto:Andre Santo)

Os dados mais recentes levantados pelo Cadastro Único da Secretaria de Desenvolvimento Social e do Ministério da Cidadania sobre a extrema pobreza em Campos dos Goytacazes foram revelados na reportagem “Campos tem 45 mil famílias na extrema pobreza”, destaque desta semana no Jornal Terceira Via.

A assistente social Fernanda Cordeiro é assessora-chefe da Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social. Como integrante da equipe de governo, ela analisa os números alarmantes sobre extrema pobreza no município. Segundo pesquisa nacional, famílias estariam vivendo com renda mensal entre zero a R$89 em Campos.

Como são observados pelo governo municipal os números da Secretaria Nacional do Desenvolvimento Social e do Ministério da Cidadania por meio do Cadastro Único?  

A Vigilância Socioassistencial, inserida na Política Nacional de Assistência Social,  realiza o monitoramento e avaliação das vulnerabilidades sociais das famílias, bem como da oferta de serviços socioassistenciais, pois, para realizar a proteção social e a defesa de direitos, é necessário conhecer as famílias e suas demandas em cada município e nos distintos territórios para proposição de ações. Sendo assim, a partir dos dados disponíveis pelos Sistemas de Informação do Governo Federal e das nossas bases de dados, conseguimos elaborar estudos, diagnósticos socioterritoriais e documentos de gestão para o planejamento da oferta dos serviços, e inclusive fornecê-los a universidades, órgãos públicos e conselhos de direitos, atores centrais na discussão de políticas públicas.

Como a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social ou a Prefeitura tem enfrentado a questão da assistência alimentar no município?

A SMDHS possui um setor específico de Segurança Alimentar e Nutricional que compõe o Conselho de Segurança Alimentar e realiza trabalhos nessa área em diálogo com os equipamentos socioassistenciais. Temos uma ampla rede de atendimento através dos 13 CRAS, 3 CREAS, 1 Centro Pop e 5 Acolhimentos que atendem a diferentes públicos e cofinancia outras seis Organizações da Sociedade Civil que também são importantes nessa questão. Nestes equipamentos são concedidos benefícios eventuais às famílias, como cestas básicas. De modo específico no Centro Pop  (equipamento para população em situação de rua)  são fornecidas quentinhas; e nos acolhimentos, cinco refeições por dia. Para além disso, é feito um trabalho de acompanhamento familiar com vistas a fortalecer a função protetiva destas famílias e promover seu acesso a direitos e o usufruto deles. A SMDHS oferta ainda cursos para geração de trabalho e renda e um Programa de Transferência de Renda – Renda Mínima. O Programa Bolsa Família continua sendo um importante ator nesse enfrentamento, assim como o desenvolvimento de políticas sociais.

Como o setor observa o impacto da pandemia no crescimento da extrema pobreza e da fome no município?

O setor de Vigilância Socioassistencial tem produzido Diagnósticos do Impacto da Pandemia nos Serviços Socioassistenciais de modo sistemático, assim como levantamentos de Vulnerabilidades e Riscos Sociais presentes nos territórios. Diante dos dados, observamos o volume crescente de buscas aos nossos equipamentos e solicitações de cestas básicas e demais benefícios, sobretudo na fase inicial da pandemia. No entanto, sabemos que os efeitos da pandemia serão a longo prazo, e, acreditamos que com a redução do valor do Auxílio Emergencial, novamente observaremos essa ampliação em nossos equipamentos. Quanto à extrema pobreza, ela é um fenômeno nacional. No município, ao analisarmos a série histórica do Cadastro Único em relação ao recorte de renda, ele se desvela de forma clara. Em 2017 eram 33.897 famílias, chegando em 2020 a 45.040 famílias. Isto representa um aumento percentual de 33%. Se considerarmos famílias extremamente pobres e pobres, representam 48.647. São 70% do total de famílias do Cadastro Único. Se realizarmos um recorte racial, como é objeto de monitoramento pelo setor, estes dados se tornam ainda mais expressivos.

Quais soluções podem ser apontadas para o grave problema?

Temos clareza que estas questões são fruto de uma sociedade desigual como a brasileira. Se considerarmos a formação de Campos, isso se torna ainda mais evidente. O projeto de desenvolvimento adotado pelo município, ao passo que gerava grande volume de produção, por outro lado produzia intensa concentração, tanto de renda quanto de terras. Além desse desenvolvimento ter se dado às custas do trabalho escravo. Tais fenômenos reverberam atualmente através do peso desse passado. Enquanto executora de um Política de Assistência, não tenho dúvidas de que o enfrentamento desse cenário deve se dar pelo desenvolvimento de políticas públicas e sociais que garantam, sobretudo, a segurança de renda nos âmbitos federal, estadual e municipal. No entanto, não podemos deixar de compreender que o cenário atual demanda esforços, de modo especial no município que, a partir dos séculos XX e XXI teve sua economia assentada no setor de exploração e produção de petróleo e gás. Estamos nesse desafio de pensar em novas fontes de recursos e renda diante da queda dos royalties, e, de modo especial, por se tratar de um recurso finito.