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“Tenho a receita para Campos crescer”

Formado em medicina, Bruno Calil diz que existem muitos "especialistas", mas a cidade precisa de um bom "clínico geral"

Eleições 2020
Por Aloysio Balbi
27 de setembro de 2020 - 4h01

Bruno Calil (Foto: Carlos Grevi)

Ele é um novato na política, disputando sua primeira eleição. Começa pensando grande: quer ser prefeito de Campos. Candidato pelo Partido Solidariedade com uma grande coligação, o médico Bruno Rios Calil, de 37 anos, fala de forma entusiasmada e faz questão de dizer que o seu currículo é a história de sua vida, lembrando que aos 11 anos começou a dividir seu tempo entre o trabalho e os estudos.

Como médico, promete revolucionar a Saúde de Campos, com um programa similar ao Estratégia em Saúde da Família (ESF), com atendimento nos domicílios para desafogar os grandes hospitais de emergência. Admite que o orçamento para o próximo ano tende a encolher e garante que isso pode ser mudado à medida em que o município cria um ambiente atrativo para a vinda de novas empresas, principalmente indústrias. Reconhece o problema da folha de pagamento, mas diz que não será demonizando o funcionalismo público que esse problema vai ser resolvido. Afirma ter projetos para todas as áreas, como a de transporte público. Quer jogar luz sobre a agricultura, lembrando que Campos tem essa vocação que caiu em desuso por causa da acomodação do dinheiro dos royalties que admite estar acabando.

Animado com o agronegócio, ele fala com o mesmo entusiasmo sobre o turismo. Perguntado se o deputado Rodrigo Bacellar terá alguma influência em sua administração caso seja eleito, ele soletrou um sonoro “não”, deixando claro que o parlamentar irá ajudar o município na ALERJ. Falou também do seu vice, o pastor Éber Silva e disse que tê-lo em sua chapa é uma “honra”. Tendo a clínica médica como ofício, ele diz que a política em Campos tem tido muita gente se apresentando como “especialista”, acrescentando que a cidade precisa mesmo é de um “clínico geral” e diz ter a receita para Campos crescer.

A medicina sempre esteve presente na política de Campos com nomes que marcaram, como Barcelos Martins, Lourival Martins Beda, Wilson Paes, Arnaldo Vianna, entre outros. Você é médico. Acredita que isso seja um diferencial na sua candidatura, já que Saúde é um dos grandes problemas do município?
Não tenho a menor sombra de dúvida de que minha formação médica vai me ajudar muito a gerir a Saúde do município e também outras áreas. Você está certo ao afirmar que a Saúde é um dos maiores, senão o maior, problema de Campos. Não temos saúde básica, os postos de saúde estão fechados. Quando se tem médico não se tem remédio, quando se tem remédio faltam médicos. A Saúde tem que ser prioritária e não secundária. Ela nunca andou tão mal em um município que, em tese, tem uma grande infraestrutura nesta área. Só vamos conseguir uma Saúde de qualidade quando investirmos na saúde básica. Isso é essencial e precisa ser feito com urgência. Tenho estudado muito isso.

E qual será a estratégia para a implantação desta saúde básica?
Não é nada complicado, mas é preciso ter organização e vontade política. Já existe a estrutura do ESF, antigo PSF, que coloca médico para atender quatro vezes por semana nestas unidades de Saúde, em todo o município. Esse médico vai tirar um dia da semana para fazer visitas domiciliares, dentro da estratégia do conhecido projeto Médico de Família. Isso significa que, na fonte, vamos desenvolver os problemas e desafogar na ponta, os chamados hospitais de emergência como o Ferreira, o HGG e o hospital São José na Baixada. Temos que fazer isso. Esse projeto não implica em grandes investimentos e vamos economizar na ponta. Oferecer um serviço médico de prevenção e de qualidade, deixando as emergências para os casos mais agudos. Esse serviço foi abandonado, na verdade, nunca foi executado como deveria ser. Com ele funcionando, vamos ter menos movimento nos hospitais. Significará conforto para os pacientes, tanto para os que serão atendidos em casa quanto para os que forem para os hospitais em estado que requeira, realmente, internação. Assim, não terão que enfrentar essas vergonhosas filas.

Você falou do lado médico. E como será o Bruno Calil gestor? Terá a mesma desenvoltura?
Não tenho a menor sombra de dúvida. A minha história de vida me preparou para esse desafio. Aos 11 anos, eu estudava e trabalhava ao mesmo tempo. Nada na minha vida foi fácil, digo que tudo foi extremamente difícil. Tive que vencer vários e árduos graus de dificuldade. Estudei em escola pública, usei transporte público e já tive que almoçar três horas da tarde, enganando o estômago para não jantar e, assim, ter dinheiro para pagar meus estudos. Tenho certeza de que esse foi um outro desafio, que encarei e venci com muito trabalho. Quando você se prepara para uma coisa e tem uma infinita vontade de trabalhar, você tem Deus como aliado. Por isso, acredito que vou ser um bom gestor em todos os níveis da administração pública, até porque passei a estudar esse assunto e antevejo soluções para todos.

Você diria que a vida te deu musculatura para esse desafio?
Sou gente como o povo é. Sofri na pele o que eles estão sofrendo hoje. Sou filho de funcionária pública aposentada e sou também funcionário público de carreira. Minha vida, como já disse, foi pautada no trabalho e no estudo, enfrentando todas as adversidades, diferentemente daqueles que sempre tiveram tudo na mão, ou seu alcance, e isso não faz a diferença e sim faz ‘toda’ a diferença. Com isso, quero dizer que conheço a fundo o drama do transporte coletivo que a cidade utiliza, assim como muitos outros dramas. Estou rodando o município todo e esse problema de transporte é tão sério quanto o da Saúde e, igualmente, vamos resolvê-lo. Reafirmo que faremos intervenções onde for preciso. O gestor tem que ter projetos, coragem, bons colaboradores e desta forma fazer acontecer. Não é possível que uma cidade que já rompeu há anos a marca de meio milhão de habitantes conviva com um sistema de transporte coletivo tão pífio.

Você tocou em um assunto importante. E a gestão macro, que envolve outros segmentos da administração de um município, cujo orçamento já é pequeno e tende a encolher no ano que vem?
Vamos acabar com os chamados gastos supérfluos, como o prédio que iria abrigar o restaurante popular, e acabou não abrindo, mas a prefeitura continuou pagando o aluguel. Licitações milionárias para plantas ornamentais, entre muitas outras coisas. Tudo isso vai acabar mesmo. Desta forma, vamos economizar tempo e principalmente dinheiro. Vou buscar boas parcerias público-privadas, as chamadas PPPs para projetos de grande importância que o município não pode, neste momento, bancar sozinho. Vamos voltar a investir pesado na agricultura, retomando a vocação do nosso município, que é o maior em extensão territorial do estado do Rio. Temos terras e agricultores que precisam somente de apoio para voltar a produzir com força. Lembro que no interior, há 25 anos, a gente via patrulhas mecanizadas em toda a área rural. Acabaram com a agricultura familiar, mas vamos retomá-la. Investir em cooperativas, nos moldes da antiga Cooperleite, enfim, o agronegócio estará na pauta, pode ter certeza disso. A agricultura que hoje é secundária, vai ter lugar de destaque no nosso orçamento, como acontece nas cidades do interior de São Paulo, por exemplo. Então podem me cobrar: o agronegócio vai realmente existir aqui.

Como você espera encarar uma folha de pagamento que consome 70% do orçamento?
Temos que investir na chamada prata da casa, investindo no servidor de carreira, no concursado. Eu, como funcionário público e filho de funcionária pública, conheço bem isso e sei que o funcionalismo público tem que ser valorizado com constante aprimoramento, como cursos, além de condições de trabalho que hoje eles não têm. Criar um ambiente de motivação. Aproveitar os servidores de carreira para desempenhar cargos de confiança, o que representaria uma economia enorme aos cofres do município. Não podemos demonizar o servidor público. Ele não tem que pagar por erros que políticos e gestores públicos cometeram lá atrás. A palavra é priorizar. No curso na campanha, vou entrar em detalhes sobre esse assunto, pois temos estudado bastante esse problema que, repito, é muito sério, mas não podemos, repito, colocar a culpa nas costas dos servidores municipais que estão hoje, praticamente, sem previdência.

Você acha que o turismo é uma grande potencialidade para Campos?
Campos tem uma infinidade de pontos turísticos, mas diria que em sua totalidade é muito mal explorado; Como já disse, Campos recebeu um bilhete premiado, que foram os royalties do petróleo. Então tudo foi deixado para trás, inclusive o turismo que poderia ser um grande gerador de empregos e de renda. Não existe um projeto para o Rio Paraíba do Sul, para a Lagoa de Cima, para o Imbé. Pois saiba que temos projetos para isso. O turismo é uma das grandes potencialidades de Campos, isso sem falar na praia do Farol. Temos também o turismo arquitetônico, os mosteiros e a cultura como um todo. Nossa gastronomia, tudo isso pode caminhar junto. As pessoas não percebem isso, exatamente pelo excesso de dinheiro na era dos royalties do petróleo que anestesiou a todos. Mas agora a conta chegou e está faltando dinheiro para pagá-la. Então teremos que aproveitar todo o potencial de Campos, como a agricultura que falei antes, assim como o turismo que estamos abordando agora.

E arrecadação própria?
Temos que criar um ambiente seguro para atrair empresas, tanto no comércio quanto na indústria para Campos, e desta forma gerarmos mais empregos e tributos. Esse é o primeiro passo para conseguirmos aumentar a arrecadação própria. Vivemos hoje um ambiente nada atrativo para tirar Campos deste isolamento político. Nos últimos anos, por conta de desavenças políticas, Campos foi se afastando dos núcleos decisórios como os governos do Estado e Federal. É preciso inverter essa mão que não nos leva a lugar algum. Precisamos de um banco de projetos. Temos perdido muitas verbas oficiais por falta de projetos que deixam de ser apresentados e essa acomodação é outra sequela deixada pelo tempo das vacas gordas dos royalties do petróleo. Mas gostaria de frisar que não vamos nos afastar da Petrobras e do setor de petróleo, principalmente por conta do gás natural que terá uma nova regulamentação. Esperamos que Campos entre em uma era forte de geração de energia a partir do gás, e isso é um ponto forte de atração para a chegada de novas empresas, principalmente na área da indústria. É outro projeto que temos desenvolvido e que vamos apresentar detalhadamente no decorrer da campanha.

Você é um debutante na política. Como você apresentaria o seu currículo?
Meu currículo é minha vida, simples assim. E uma vida muito simples. Sou um trabalhador. Como já te disse, desde os 11 anos de idade me dividi entre o trabalho e o estudo. Pode ter certeza de que foi muito trabalho e muito estudo. Nesta idade já sonhava em ser médico e trabalhava no balcão da padaria do meu pai. Sempre acordei cedo e dormi tarde. A vida me impôs responsabilidade. Diferente de alguns outros candidatos, eu sempre trabalhei e muito. Não vou pontuar nomes dos outros candidatos, nem de ninguém. Respondo afirmando que minha realidade sempre foi diferente e isso não me faz igual à maioria deles. Por isso proponho uma forma diferente de administrar, buscando resultados em cada ato e isso se aprende com trabalho e com estudo. Dediquei toda minha vida a ambos. Esse é o meu currículo e tenho muito orgulho dele. O fato de não ter no meu currículo a política profissional, isso me favorece sem a menor sombra de dívida. Não vou ficar à sobra de ninguém.

Você tem um candidato a vice na sua chapa, o pastor Éber Silva, bastante experiente, já tendo sido deputado federal. Isso é animador?
Claro. Qual candidato não queria ter um homem como o pastor Éber Silva ao seu lado, principalmente no meu caso que sou cristão, e friso que respeito todas as crenças. O pastor Éber é um sábio sobre as coisas de Deus e também sobre as coisas do homem. Será um vice efetivo, um grande conselheiro. Para mim, isso será uma grande honra.

Por falar nisso, você é próximo, politicamente, do deputado Rodrigo Bacellar. Que tipo de influência ele terá na administração, caso você vença?
Não vai ter nenhuma. Rodrigo é deputado e tem que cumprir o seu mandato. Ficar no legislativo defendendo os interesses do nosso município e da região como tem feito até aqui. Essa é a missão dele e a minha será outra. Então, reafirmo que não terá nenhuma função. Por causa da ALERJ, seremos parceiros e certamente vou contar com a colaboração dele na esfera estadual. Gostaria de deixar isso bem claro.

Você sempre estudou e trabalhou desde os 11 anos. Há quanto tempo você vem se preparando para o desafio de ser prefeito de Campos?
Minha história me preparou e meu grupo político é muito preparado, extremamente técnico. Estou cercado de pessoas capazes para estabelecer uma nova Campos, um novo conceito de cidade. Esse grupo em média trabalha oito horas por dia ou mais, fazendo uma tomografia de cada área da cidade, cada Distrito. Com esse material nas mãos, se eleito, terei um norte em termos de prioridade, embora algumas já tenha deixado claro como Saúde e Transporte. A Educação está implícita porque durante toda a entrevista falei dela, então essa será outra prioridade. Na verdade a prioridade será Campos.