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Animais silvestres invadem área urbana de Campos

Segundo especialistas, várias causas explicam tais aparições, mas a principal tem a ver com o desequilíbrio ambiental no município

Meio Ambiente
Por Thiago Gomes
27 de setembro de 2020 - 15h43

Cobra ficou três dias escondida em veículo (Foto: Carlos Grevi)

Uma lontra — bicho ameaçado de extinção — apareceu embaixo de um carro estacionado no Parque Califórnia, no dia 4 de setembro. Uma serpente da espécie Philodryas patagoniensis surgiu dentro de um veículo parado no Shopping Boulevard, em 15 do mesmo mês. Já no dia 19, um tamanduá desfilou tranquilamente pelas calçadas do Jóquei Club. Dois dias depois, uma jiboia assustou pedreiros que trabalhavam em uma obra do Parque Imperial. Em menos de um mês, quatro registros de animais silvestres que invadiram áreas urbanas em diferentes pontos de Campos. Mas, por que isso tem acontecido com frequência? As causas, segundo especialistas, são diversas, mas a principal delas está relacionada ao desequilíbrio ambiental.

O médico veterinário residente do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Animais Selvagens (Nepas) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Gabriel Uzai, explica que há uma combinação de causas para o surgimento de cobras, tamanduás e até lontras em áreas urbanas. Entre vários motivos prováveis, ele destacou dois principais. O primeiro tem a ver com a destruição do habitat desses bichos. A cidade segue crescendo e se aproximando cada vez mais das áreas com fragmentos de mata.

“Não é possível falar em apenas um motivo, porque são vários. Mas dá para citar alguns. Houve uma degradação ambiental em Campos, principalmente nas regiões onde esses bichos surgiram, que são áreas com alguns resquícios de mata. À medida que a cidade cresce, ela vai chegando perto do habitat dos animais silvestres. E isso diminui a interface da zona urbana com a zona de mata. Por isso eles aparecem com frequência”, comentou Gabriel.

A segunda razão, na análise do especialista, tem a ver com fatores ambientais naturais, como o clima. “Acabamos de entrar na primavera, que é uma estação chuvosa, mas tivemos um inverno bastante seco. A estiagem diminui recursos necessários à sobrevivência dos bichos, ou seja, eles acabam saindo para procurar água e comida. O calor excessivo e a falta de chuva fazem com que eles procurem um lugar mais confortável para ficar. Essa questão do desequilíbrio ambiental é tão séria que muitas vezes o animal acha mais confortável ficar dentro da cidade. Ele vai atrás da árvore frutífera do quintal das pessoas, por exemplo, vai aonde tem água e comida com facilidade”, pontuou.

Tais aparições também têm explicação nas queimadas, que afugentam os animais. Eles também se deslocam em busca de parceiros para acasalar. “Gambás, ouriços-cacheiros, serpentes e até tamanduás, em época de reprodução, costumam aparecer com regularidade”, esclareceu Uzai.

O que fazer ao topar com um animal silvestre?
“A primeira coisa é deixar ele quieto, não tentar capturar, não bater, não entrar em pânico. O passo seguinte é comunicar ao Corpo de Bombeiros, ao Grupamento Ambiental de Campos ou ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Infelizmente não é muito bem definido quem faz esse resgate. Apesar da boa vontade dos órgãos, muitas vezes é até negado esse atendimento por falta de viatura, falta de combustível, e a população não sabe a quem recorrer”, falou Gabriel Uzai.

Responsabilidade
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que, em áreas urbanas, o resgate de animais silvestres é realizado pela guarda ambiental ou a patrulha ambiental do município e, quando há risco para a população, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado. Ainda segundo o órgão, para o caso de animais marinhos encalhados nas praias deve-se acionar empresas que atuam no Projeto de Monitoramento de Praias: no trecho do litoral do Rio, entre Saquarema (Pedra da Igreja) e São Francisco de Itabapoana, o contato é feito pelo telefone 0800-0262828 (CTA).

“O Inea orienta à população que evite aproximação ou a interação com animais silvestres, mesmo em áreas urbanas, sendo o resgate indicado apenas quando os mesmos se encontrarem, por exemplo, em situação de perigo ou no interior de residências”, disse o órgão em nota.

Segundo a Prefeitura de Campos, “a responsabilidade de resgatar animais silvestres é dos órgãos capacitados para tal; em Campos, o Corpo de Bombeiros (Estado) e Grupamento Ambiental do Município (GAM). O GAM não é um órgão ambiental municipal. É um grupamento especializado da Guarda Civil Municipal”.

Lontra no Parque Califórnia
Agentes do Corpo de Bombeiros de Campos realizaram um resgate, no mínimo, inusitado, na madrugada do dia 4 de setembro. Era uma lontra, que estava embaixo de um carro estacionado na Rua Cardoso Moreira, no Parque Califórnia. Os ocupantes do automóvel perceberam algo estranho e, quando foram verificar o que estava acontecendo, avistaram a lontra sob o veículo.

Cobra no estacionamento do shopping
Imagina deixar o carro no estacionamento de um shopping, sair do veículo para fazer compras e, ao voltar, topar com uma cobra pronta para dar o bote. Foi o que aconteceu com Stefany Imbrelloni, no dia 15 deste mês. A serpente estava tão bem escondida que, para o resgate, foi necessário montar uma verdadeira força-tarefa com a ajuda do Corpo de Bombeiros, da Guarda Ambiental, do Nepas, da brigada de incêndio do próprio shopping e até de mecânicos. Apesar do esforço coletivo, a Philodryas patagoniensis, popularmente conhecida como “corre-campo” ou “papa-pinto”, só foi localizada três dias depois.

Tamanduá no Jóquei Club
Pai, mãe e filho que passavam pela Avenida Arthur Bernardes, na altura do Jóquei Club, na noite do último dia 19, avistaram um tamanduá passeando pela calçada. O técnico em mecânica, Renato Rangel Rosa, conta que a família ficou emocionada ao encontrar o animal em plena área urbana. “Tomei um grande susto quando joguei o farol do carro em cima. A gente nunca espera passar por uma situação dessa, principalmente no meio da cidade. Meu filho ficou todo feliz, vibrou bastante por ter visto. Eu puxei o celular e filmei, pois não consegui acreditar no que eu vi”, lembrou Renato.

Jiboia no Parque Imperial
Era para ser mais um dia comum de trabalho em uma obra do Parque Imperial, se não fosse a visita de uma jiboia. O caso aconteceu na manhã do dia 21 de setembro, quando um dos pedreiros levou um baita susto com a cobra que estava enrolada embaixo de uma tábua. Ao trocar o pedaço de madeira de lugar, o animal surgiu. Apesar do espanto, a jiboia permaneceu quieta até a chegada do Corpo de Bombeiros, que fez o resgate.