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O Grito do 7 de Setembro ainda não se fez ouvir

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
6 de setembro de 2020 - 0h01

Episódio precisa ultrapassar as margens do Ipiranga e chegar ao povo brasileiro

Nesta segunda-feira (07) o Brasil fica a dois anos de completar 200 desde que o brado do ‘Independência ou Morte’ libertou o País do jugo português prometendo, em tese, o início de um novo e promissor futuro para o gigante continental que então se livrava das amarras de colônia.

Tudo isso imortalizado na bela pintura do artista Pedro Américo, que em óleo sobre tela reproduzira a mais importante representação visual do fato histórico protagonizado por D. Pedro I.

Bom que se diga, o ‘em tese’ do primeiro parágrafo não foi escrito ao acaso. Ao contrário, baseia-se no fato de que, na prática, as décadas seguintes da fase imperial mantiveram os privilégios da nobreza, da aristocracia e dos senhores feudais, em detrimento do brasileiro simples do povo que permaneceu no mesmo limbo.

Acrescente-se que mais adiante, a República Velha – monárquica em suas entranhas – manteve o status quo dos grandes latifundiários e donos de engenhos, sucedidos ao longo do século XX por ditaduras civis e militares que manietaram o Brasil, segurando-o ora no populismo, ora no autoritarismo.

Imagem do Ipiranga

A pergunta que atravessa dois séculos se resume em saber quando o ‘Grito da Independência’ vai ultrapassar as margens do Rio Ipiranga e alcançar, de fato, o povo brasileiro?

O que se pensou conquistado naquele 7 de setembro de 1822 segue como um sonho ainda longe de ser atingido: o de um Brasil independente que faz chegar à população suas riquezas naturais.

Enquanto o País não superar a corrupção sistêmica e vir emergir uma geração de políticos qualificados e decididos a promover o desenvolvimento – condição sine qua non para que o povo tenha qualidade de vida – o Brasil se manterá preso ao retrocesso e a população refém da desigualdade.

Justiça social – A bem da verdade, sem distribuição de renda, inclusão social e cidadania, não há que se falar em independência. O Brasil não cuida, não acolhe e não ampara no mesmo patamar de suas potencialidades.

Logo, não se pode dizer independente um País que não disponibiliza educação, saúde, segurança, emprego, moradia, saneamento básico e infraestrutura posto que – bem ao contrário – é dependente da miséria.

Não fosse a pandemia, o Brasil poderia comemorar a liberdade alcançada no 7 de Setembro. Contudo, com a devida ressalva: livre, sim; independente, não. Afinal de contas, não há independência com crianças catando comida em lixões.

O episódio nas margens do Ipiranga, registrado na pintura, precisa saltar da moldura e chegar ao Brasil. Afinal, são 198 anos de espera.