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Hormônio irisina pode minimizar efeito da Covid-19

A endocrinologista, Dra. Patrícia Peixoto, destaca os benefício da irisina, objeto de estudo de pesquisadores brasileiros

Saúde
Por Redação
30 de agosto de 2020 - 15h55

Hormônio é liberado durante atividade física (Foto: Carlos Grevi)

A Covid-19 ainda é uma doença muito misteriosa. Os efeitos do novo coronavírus ainda vêm sendo estudados no mundo inteiro, na tentativa de saber mais sobre o assunto e assim trazer soluções para os problemas de saúde causados por essa nova manifestação infecciosa. Se a chave para parte dos obstáculos estiver ainda mais perto do ser humano, o caminho será mais curto para combater a doença. E é exatamente isso que os pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sugerem. Eles obtiveram resultados positivos que indicam que a irisina, um hormônio produzido pelo próprio organismo, pode ter efeito benéfico em casos de Covid-19. As investigações já foram publicadas na revista internacional Molecular and Cellular Endocrinology.

De acordo com o levantamento, dados preliminares indicam que com a prática de atividades físicas há a liberação do hormônio pelos músculos e essa ação pode ter efeito terapêutico em casos de Covid-19. Foi observado ainda que a irisina é capaz de modular as células adiposas, que são responsáveis por armazenar gordura e regular a temperatura do corpo, em genes associados à reaplicação do novo coronavírus no corpo humano. Logo, o hormônio diminui a expressão dos genes da proteína que o vírus se liga e, se não tem proteína, o vírus apresenta dificuldade para infectar a célula.

Dra. Patrícia Peixoto é endocrinologista (Foto: Silvana Rust)

O Jornal Terceira Via apresentou a pesquisa a endocrinologista Dra. Patrícia Peixoto que destacou inicialmente a função deste hormônio não tão popular. Segundo a médica, os músculos do corpo são um órgão endócrino que libera as chamadas miocinas quando acionados. “A irisina é um hormônio produzido pelos músculos esqueléticos. Para ela ser liberada, o músculo tem que ser ativado, ou seja, é preciso se exercitar. Em diferentes partes do nosso corpo existem receptores para a irisina e por isso ela tem mais de uma função. Ainda é um hormônio relativamente ‘novo’ em estudos, mas já sabemos ser capaz de transformar tecido adiposo branco (mais inflamatório) em tecido adiposo marrom (melhor gasto energético). Além disso, ela tem uma capacidade moduladora na atividade dos macrófagos (células de defesa do sistema imune), o que a torna anti-inflamatória. E também existem pesquisas feitas aqui no Brasil de sua ação benéfica no cérebro e memória”, explica.

Exercícios físicos

As investigações da Unifesp justamente sinalizam alguns sinais relevantes de proteção à Covid-19, a medida em que o individuo pratica exercícios físicos e há a liberação deste hormônio. A endocrinologista lista mais pontos positivos da irisina, como a mudança no tipo de tecido adiposo, de um tipo mais inflamatório para outro mais termogênico, além dos efeitos benéficos no cérebro e efeito anti-inflamatório. “Porém, em casos de pessoas obesas, o comportamento do irisina é diferente.
A expressão deste hormônio no plasma e no tecido adiposo nestes pacientes é menor, logo suas ações benéficas também. A irisina é um importante hormônio capaz de aumentar tecido adiposo marrom, melhorando o metabolismo, reduzindo inflamação, além de melhorar nossa cognição. Esses são efeitos positivos que colaboram para nossa saúde física e mental”, comenta.

Irisina e Covid-19

A especialista ainda ressalta porque existe a necessidade de chamar a atenção da sociedade para este tema. Segundo ela, embora este estudo não tenha analisado o efeito direto do exercício físico, já que a irisina é liberada com a prática, o resultado dele também leva a reflexão da importância de se manter fisicamente ativo. “O desenvolvimento frequente da forma grave de Covid-19 em pacientes com doenças crônicas está possivelmente relacionado ao papel da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) na infecção viral. Essa enzima está presente nos pulmões, sistema cardiovascular, rins,sistema nervoso central e tecido adiposo e é o alvo do vírus, sendo usada como uma porta de entrada por ele. Nos adipócitos e células pulmonares de indivíduos obesos e diabéticos a enzima é aumentada, tornando o tecido adiposo um alvo potencial e reservatório viral. Além dela, vários outros genes são mais ativados nos casos mais graves da doença. Partindo dessas informações, neste estudo, foram investigados os efeitos da irisina in vitro (em laboratório) nos genes relacionados à reaplicação do vírus, e descobriram que o hormônio reduz a expressão desses genes, o que ofereceria uma proteção contra a entrada do vírus no organismo. Além disso, a irisina também triplicou um gene fundamental para a proteção dos indivíduos, o chamado TRIB3, um gene que está reduzido em idosos. De toda forma, percebemos as respostas positivas em relação a prática dos exercícios físicos e principalmente agora neste momento de pandemia, para modular a parte anti-inflamatória e o sistema imune do organismo”, completa.