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A saga de Vargas e as 200 edições do Terceira Via

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
23 de agosto de 2020 - 0h01

A saga de Vargas e as 200 edições do Terceira Via 

Dia 24 de agosto é o mais importante da história política brasileira 

Sem recuar a passado ainda mais distante, não há outro dia mais impactante na história política brasileira do que o 24 de agosto de 1954 – ora completando 66 anos – data em que o presidente Getúlio Vargas dá um tiro no peito e cumpre a promessa de que só morto deixaria o Palácio do Catete.

Mais ainda, o mandatário, então acuado, em vias de ser deposto e perdendo a batalha contra os adversários que exigiam sua renúncia, lança mão do gesto dramático que reverteria o quadro político a seu favor. Ao se matar, Vargas vira o jogo, reconquista o povo, comove o País e impõe devastadora derrota a seus opositores.

Ato contínuo, mostra-se profética a Carta Testamento escrita de próprio punho, a qual deixou como legado após dezenove anos à frente do Brasil: “(…) Saio da vida para entrar na História”.  

Morto, o velho lobo de tantas batalhas venceria mais uma ao agitar o País, inflamar as massas e colocar pra correr seus desafetos, muitos dos quais hostilizados pelo povo precisaram sair do Brasil.

Como nenhum outro 

De certo, o 24 de agosto se impõe como a data mais ruidosa da política nacional porque seu personagem foi o protagonista de toda história da República do Brasil. Deputado estadual, deputado federal, govenador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda e líder da revolução de 1930.  Depois, presidente da República nos períodos revolucionário e constitucional (1930-37) e ditador, após instaurar o Estado Novo e seguir no comando do País até 1945.

Deposto em 45, Vargas realiza outro feito único: candidata-se aos cargos de senador pelos estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo e a deputado federal por sete outros. [Naquela época era permitido]. Vencera todos os pleitos e escolhe a cadeira de senador de sua terra, o Rio Grande.

Em 1950, retorna para ‘fechar’ o ciclo de uma Era. Pelo voto direto – “nos braços do povo”, como se dizia então – é eleito presidente da República e volta ao Palácio do Catete para governar o Brasil por mais cinco anos no regime democrático e inscrever seu nome como o maior estadista de todos os tempos.

“Meu nome será a vossa bandeira” 

Sobre nenhum outro se publicou tantas matérias, se escreveu tantos livros e se produziu tantas minisséries e filmes.

Interessante observar que em quaisquer dos estágios da Era Vargas, em grande parte marcada por período autoritário, a noção de República, assim como o interesse da população e o bem comum, estiveram tão presentes, vivos e defendidos. E o povo, em nenhum outro tempo, se viu tão representado.

Como parêntesis, há que se lamentar que não tenhamos um Vargas nos dias de hoje, a liderar o Brasil no combate à pandemia da Covid.

Sem exagero, ainda que se percorra todo o trajeto do Brasil Colônia – bem como os Pedro I e II do Brasil Império – nenhum outro governante, homem público ou político de qualquer esfera terá tido a importância, a influência e a popularidade que Getúlio Dornelles Vargas construiu ao longo de meio século dedicado ao Brasil.

Político de direita, ditador progressista, mas, curiosamente, com performances de esquerda, Getúlio era Getúlio – como só ele sabia ser. O maior brasileiro de todos os tempos.

As 200 edições do Terceira Via 

O Terceira Via completa hoje 200 edições e vai consolidando a fase mais difícil: a dos primeiros passos.

Não existe um tempo exato que caracterize “os primeiros passos”. Eles ocorrem com 10, 50, 150 ou 300 edições. Enfim, em qualquer momento que se entenda como período inicial, o qual, invariavelmente, é o mais difícil.

É assim em quase tudo, notadamente numa atividade complexa, pouco convencional e exaustiva como jornal.

São aproximadamente 530 páginas – 165 mil centímetros de colunas preenchidos basicamente com palavras e imagens. O número, agora visto deste ângulo, já não parece coisa pouca. E cada página é pensada; cada matéria pautada, apurada e escrita.

Num exame superficial, poder-se-ia dizer que qualquer jornal diário chega à edição de número 200 em pouco mais de seis meses. É verdade. Mas também estes, antes, deram os primeiros passos, como agora está dando o Terceira Via, que a seu favor tem uma verdade irrefutável: de mais longe veio.

O jornal está evoluindo – como em tudo se faz mister. Nada há que não possa ser melhorado, aprimorado e dinamizado. Entendimento diferente leva à estagnação; e não há como estacionar sem retroceder.

Lá atrás, em suas primeiras edições, o Terceira Via chegou a ter 10 páginas de colunas contra apenas quatro de noticiário e, ainda assim, com características muito mais de reportagem, produzido, quase por inteiro, com matérias frias. Hoje, o jornal se mostra equilibrado, na divisão harmoniosa entre o que é factual e atemporal.

Factual nos dois turnos da eleição presidencial, na conquista da Libertadores pelo Flamengo, na greve dos médicos de Campos, nos meandros da política nacional, estadual e local; na economia da região e na cobertura da pandemia.

Segue evoluindo no padrão estético – na diagramação – e na seara editorial – emprestando melhor qualidade a seus textos. Matérias que chegaram a publicar textos com linhas que iam de uma ponta à outra da página – o que só se admite em legenda – hoje se apresentam agradáveis aos olhos do leitor.

E tudo vai melhorando. Esta página também precisa  melhorar. Ainda que interprete, comente e opine sobre o que trata – o que exige espaço – deve vencer o obstáculo e abrigar um texto principal, artigo e coluna de tópicos. Deve evoluir para não incorrer no erro de estar ‘apertando’ esta matéria – que por certo merece página inteira – com outra, que guarda igual merecimento, visto que o signatário não sugeriu ao jornal, como deveria ter feito, uma segunda página – caso fosse tecnicamente possível – e ambas as matérias teriam sido melhor acomodadas. Mas não o fez e os dois textos saem prejudicados.

Não se faz essas observações ao vento, como que a superestimar a trajetória deste semanário. Ao contrário, não há valorização gratuita. Aos 18 anos, já tinha visto várias vezes 200 edições. E quantas outras duzentas vi – incontáveis duzentas – do jornal tipográfico ao offset, ao longo de quase quatro décadas.

Assim, por força do ofício de sua modestíssima carreira, sabe qual o valor de cada edição para que se chegue a 10, 20 ou 30 mil – número tão expressivo quanto comum na imprensa brasileira.

Mas que não haja engano: é preciso vencer uma de cada vez.