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Campos no tempo da Ferrovia – Leopoldina

Mesmo perdendo espaço para o asfalto em Campos, os trens deixaram um rastro de progresso e saudosismo pelo caminho

Vagões da antiga Rede Ferroviária da Estação Ferroviária Leopoldina em Campos dos Goytacazes – RJ (Foto de Bruno Salles)

Com o crescimento da lavoura açucareira na região, em meados do século XIX, gerou a necessidade de transportar sua produção para os mercados no Rio de Janeiro. Desta urgência inicia-se a história da ferrovia em Campos, com a inauguração em 3 de julho de 1873 da ferrovia ligando Campos a São Sebastião na baixada campista, na qual recebeu a primeira locomotiva cujo apito se ouviu na planície goitacá. De acordo, com Nylson Macedo e Leonardo Vasconcelos, que escreveram o livro “A Ferrovia Agrícola de Quissaman e suas Conexões regionais”, essa primeira locomotiva era de fabricação norte-americana, batizada com o nome “Campos” e dotada dos últimos aperfeiçoamentos modernos, podendo funcionar queimando lenha ou carvão, considerado o máximo da tecnologia da época.

Posteriormente, em 15 de junho de 1875, foi inaugurada a estrada de Ferro Macaé e Campos, com a presença do Imperador D. Pedro II. Sendo sua linha construída em bitola (distância interna entre os trilhos) de 0,955 metros.

A ferrovia foi uma revolução para os meios de transporte da época, pois passou a ser conhecida como um meio de transporte rápido, seguro e barato. A duração da viagem, que antes era feita por navios a vapor pelo Rio Paraíba e até mesmo pelo Canal Campos-Macaé, foi extremamente reduzida por horas. O trem era o meio de transporte mais moderno da época. A inauguração da ferrovia, de maior rapidez e menor custo de operação, conduziu ao declínio da importância e uso do Canal Campos-Macaé.

Devido aos engenhos centrais e as usinas que se multiplicaram, as ferrovias agrícolas tornaram-se cada vez mais imprescindíveis para transportar a produção açucareira, se tornando uma importante parte da engrenagem de funcionamento da indústria. O que ocasionou a criação de diversos trechos ferroviários por toda região, até que chegou, em 1887, a empresa ferroviária — “Companhia Estrada de Ferro Leopoldina” (companhia brasileira), nome que provoca uma grande divergência entre historiadores que apontam duas hipóteses: a primeira seria uma forma de homenagear à esposa de D. Pedro I e a segunda hipótese estaria relacionada à cidade de Leopoldina, no interior da Província de Minas Gerais.

Ponte sobre o Rio Paraíba em Campos, operada pela FCA – Ferrovia Centro-Atlântica (Foto: Bruno Salles)

Logo depois a companhia brasileira foi substituída pela “The Leopoldina Railway” (companhia de capital inglês), em 1898, que conservou o nome “Leopoldina” e realizou a padronização da extensa malha ferroviária, criando a integração necessária para as cargas e os passageiros.

Em 1907, a Leopoldina construiu uma ponte sobre o Rio Paraíba em Campos, unindo os dois trechos ao norte e ao sul do rio. A linha funcionava para carga e era operada pela FCA — Ferrovia Centro-Atlântica. No início dos anos 1980 deixaram de circular os trens de passageiros que uniam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória.

Deste período bucólico restou o legado de ferro, o patrimônio ferroviário, oriundo da extinta Rede Ferroviária Federal SA — RFFSA, que engloba bens imóveis e móveis, incluindo desde edificações como estações, armazéns, terrenos e trechos de linha, até material rodante, como locomotivas, vagões, carros de passageiros, maquinário, além de bens móveis como mobiliários, relógios, sinos, telégrafos e acervos documentais. Sendo parte deste acervo exposto no Museu Histórico de Campos dos Goytacazes, tombado pelo IPHAN — Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Ponte sobre o Rio Paraíba em Campos, operada pela FCA – Ferrovia Centro-Atlântica (Foto: Bruno Salles)

Os trens que rasgaram nossa região levou a mensagem de progresso, cortando matas e ligando cidades, escoando a riqueza do açúcar, transportando passageiros e transformando a vida da população, a partir do apito da locomotiva, acarretando a criação de um comboio de histórias e memórias coletivas bem saudosistas.

Graziela Escocard – Historiadora e Diretora do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes.

Instagram: @grazi.escocard

E-mail: graziescocardr@gmail.com

Cel.: 22 999391853