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Onda de violência cresce em Campos

No início da pandemia, índices chegaram a zerar

Segurança
Por Redação
16 de agosto de 2020 - 15h53

Guarus | lidera os casos de homicídio mesmo com repressão policia

No primeiro semestre de 2020, Guarus teve o menor número de homicídios dos últimos 20 anos. Em maio, ocorreu ainda um fato inédito: não houve sequer uma morte por violência nesse período. Contudo, após comemorarem esses índices históricos, uma reviravolta surpreendeu as autoridades policiais. Nas últimas duas semanas, crimes brutais foram registrados nessa região, dois deles em que as vítimas foram decapitadas e, mais recentemente, o assassinato de dois vigilantes do campus do Instituto Federal Fluminense em serviço. Até o fechamento desta reportagem, esses crimes continuavam sendo investigados. No caso do duplo homicídio, o suspeito foi preso.

O delegado titular da 146ª Delegacia Legal de Guarus, Pedro Emílio Braga, esclarece que o sigilo é preponderante para o êxito da apuração criminal, portanto não revelou informações mais precisas a respeito das ocorrências citadas acima. “Ainda assim, o que se pode dizer é que a brutalidade dos crimes tem, de modo geral, a intenção de ‘passar um recado intimidatório’, de maior crueldade”.

Comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, Coronel Luiz Henrique Barbosa

Quanto ao “significado” das decapitações, o delegado e o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Luiz Henrique Barbosa, disseram que não há como precisar. “Pode ser dirigido a pessoas acusadas de traição, de passar informações à polícia, mas também a inimigos de facções rivais… Essa motivação é flexível. Não há um significado concreto. Sabemos apenas que objetiva intimidar, importa liderança, mas não é ligado a um fato específico”, esclareceu Pedro Emílio.

Questionado sobre uma possível retaliação à terceira fase da operação Refrenata que aconteceu no dia 23 de julho e prendeu três suspeitos de homicídio, o delegado nega. Segundo ele, “embora não possa dizer muito, garanto que os assassinados das primeiras semanas de agosto não estão relacionados a essa ação policial”, explicou.

Os crimes

Vigilantes assassinados no IFF

Um dos crimes mais graves e recentes na região de Guarus aconteceu na madrugada de sexta-feira (14), em frente ao Instituto Federal Fluminense, no Parque Fundão. Dois vigilantes da instituição — Raul César Gomes Teixeira, de 48 anos, e Bruno Santos Rosa, de 32 — foram assassinados com as próprias armas que utilizavam no trabalho.

No início da tarde do mesmo dia, um suspeito foi capturado. Ele, que seria usuário de drogas, confessou o crime e alegou que estava fugindo de traficantes que o perseguia, quando invadiu o IFF e acabou por tirar a vida dos dois trabalhadores. A versão do homem ainda está sendo investigada.

Suspeito de matar os vigilantes foi preso pela PM

Os dois casos de decapitação, que aconteceram nos dias 7 e 8 de agosto, também chamaram a atenção da população campista e esses ainda não foram elucidados. A primeira vítima foi uma mulher de aproximadamente 40 anos. Seu corpo e a cabeça, ambos enrolados em fita adesiva, foram localizados no km 11 do distrito de Travessão de Campos.

Já o segundo foi um adolescente de 17 anos, Guilherme Gomes Bravo. A cabeça do jovem foi encontrada no Parque Presidente Vargas, mas o corpo ainda não foi localizado. Familiares do adolescente garantem que ele foi morto por engano e fizeram uma manifestação pedindo por justiça na última semana.

Redução dos números

Delegado Pedro Emílio Braga da Delegacia de Guarus

O isolamento social foi um fator que contribuiu para a redução de delitos patrimoniais, como roubo e furtos, por exemplo, principalmente no primeiro trimestre das ações administrativas de combate à pandemia, quando a redução de pessoas nas ruas era mais acentuada. Com o retorno do fluxo, a tendência é de que, segundo o delegado de Guarus, os índices desses crimes retornem à média historicamente observada. No entanto, a queda de homicídios não teria, em tese, relação com a pandemia.

“Se os criminosos não cumprem a lei que criminaliza essas condutas, jamais deixarão de praticar esse tipo de crime por função de normativas administrativas de restrição social”, pontuou Pedro Emílio.

Para ele e também para o comandante do 8º BPM, tal fato deve ser creditado, na realidade, à robusta política de segurança que se adotou naquela região. Nos últimos 18 meses, foram realizadas mais de 100 prisões por crimes de homicídio em 20 operações das polícias Civil e Militar.

“Trabalhamos segundo um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo a cada ano e, a partir dessas políticas, obtivemos esses resultados superiores a 2019 que, por sua vez, já eram substancialmente melhores do que os resultados de 2018”, disse o delegado.

O tráfico de drogas, no entanto, também se manteve ativo nos últimos meses, bem como as ações de resposta a ele. “No último mês, tivemos um aumento de 1400% de apreensão de maconha e 400% de cocaína. Fomos, aliás, o Batalhão que mais apreendeu substâncias entorpecentes de todo o Estado do Rio. E essas ações são pautadas no serviço de inteligência e, também, na participação da sociedade por meio do disque denúncia, que nos ajuda a atingir nossos objetivos”, afirmou o tenente-coronel Luiz Henrique, que acrescenta que o policiamento é ajustado diariamente para alcançar todas as regiões de Guarus, da área Central e também dos demais municípios atendimentos pelo 8º BPM.

Áreas mais violentas

O delegado da 146ª DP marca ainda que, atualmente, a localidade com o maior número de ocorrências criminais em Guarus é a região do bairro Novo Eldorado, onde estão situadas as comunidades Sapo 1, 2 e 3. “É importante pontuar que essa é uma informação flutuante porque conflitos e ocorrências violentas acabam intensificando o trabalho das forças policiais que reduzem os índices e novos conflitos acabam se estabelecendo em novas localidades. Mas, de modo geral, o fato de essas comunidades estarem muito próximas geograficamente umas das outras, e, consequentemente, as facções rivais, há uma potencialidade conflituosa nessa região”, explicou.

Redução Crimes na área do 8º BPM em julho de 2020 comparada com mesmo período em 2019

Crime violento letal intencional (homicídio)

15 (2019)

8 (2020)

Roubo de Veículo

10 (2019)

7 (2020)

Roubo de rua

90 (2019)

35 (2020)

Roubo de carga

3 (2019)

0 (2020)

Redução em índices percentuais

Crime violento letal intencional (homicídio) – 47%

Roubo de rua – 61%

Roubo de Veículo – 30%

Roubo de carga – 100%

Roubo a transeunte – 64%

Roubo em coletivo – 50%

Estupro – 56%

Roubo a estabelecimento comercial – 33%

Furto de veículos – 47%

Furto a transeunte – 46%

Furto de bicicleta – 88%

Roubo de aparelho celular – 71%