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O Brasil é um país ‘encostado’

História mostra que ao longo dos tempos o cruzar de braços foi marca predominante da Nação – quase mera espectadora

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
16 de agosto de 2020 - 0h01

Presidente Jair Bolsonaro durante viagem pelo país (Foto: Reprodução)

Numa abordagem genérica, sem entrar em juízo de valor e ressalvadas as devidas exceções, quando se vê a catastrófica situação do Brasil ante a pandemia que, resumindo, é o segundo país do mundo com maior número de mortes e há três meses sequer tem um ministro da Saúde, observamos, também, uma certa passividade do povo brasileiro, que não se insurge com a veemência que o momento exige.

Mas, seria esse um comportamento atípico ou, ao contrário, um traço marcante de todos dos tempos? Vejamos:

1) Independência

Óleo sobre a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822

A libertação de um país dominado ocorre, via de regra, pela insurreição do povo subjugado contra seu dominador. É um processo revolucionário, não raro marcado por batalhas. Afinal, a independência não se dá por presente, mas pelo sangue deixado na terra por aqueles que a querem livre.

Mas aqui, a libertação do jugo de Portugal se deu justamente pelas mãos do herdeiro do trono português, sendo a ‘Independência ou Morte’ proclamada não por um brasileiro, mas pelo príncipe-regente, D. Pedro, que se tornou imperador.

2) Queda da Monarquia

Seis décadas depois, o império chegaria ao fim com a queda da monarquia. Contudo, sem maior agitação, quem proclamou a República não foi um republicano, mas sim um monarquista de carteirinha: o Marechal Deodoro da Fonseca.

Com apoio dos militares, Deodoro expulsou a família imperial e, junto com Floriano Peixoto, instalou uma ditadura. Enfim, um ‘segundo’ presente histórico.

 

Tela que retrata a Proclamação da República em 1889

3) Golpe de 64

Crianças induzidas a festejar o Golpe

Pulando várias ocorrências ao longo da primeira metade do século 20, temos outro exemplo em 1964: a “Revolução” de março daquele ano, antes denominada ‘Golpe militar’ e, mais recentemente, ‘Golpe civil-militar”, tirou sem grande estardalhaço um civil da Presidência e colocou um general. Isso, com apoio de importantes lideranças políticas e de inúmeros segmentos da sociedade. Mas, de toda forma, algo inusitado.

Assim, a “revolução” que prometia devolver a ordem ao País e promover eleições, foi ficando e virou uma ditadura sanguinária – que perseguiu, torturou e matou.

Não se pode negar, principalmente após 1968, que a sociedade não tenha reagido. Mas, seja como for, sem êxito. Em 1983, o movimento pelas ‘Diretas’ eclodiu no País, com a Emenda Dante de Oliveira configurando o momento em que o Brasil chegou mais perto da redemocratização. Mas foi rejeitada pela Câmara.

4) Quando quiseram

Interessante observar que os militares entraram da mesma forma que saíram: quando e como quiseram. Geisel iniciou o processo e Figueiredo concluiu. Por ironia, quando o regime militar deixou o Brasil, não foi substituído por um nome da oposição, mas, ao contrário, por um amigo dos generais, o oligarca José Sarney, face à morte de Tancredo.

 

Portanto, repetindo o caráter genérico das observações e reconhecendo a existência de exemplos históricos isolados – louváveis e que merecem todo o respeito da Nação – o Brasil tem por inclinação ser um País ‘encostado’ e, como tal, também diante do absoluto desastre que tem sido o combate à pandemia, cruza os braços e espera pela “Sputnik V”, que o presidente russo garante que provoca “imunidade duradoura” acrescentando, ainda, que uma de suas filhas tomou.

Alguém duvida?

População exaurida de tanto ouvir Covid, Covid, Covid…

Depois de cinco meses desde que ocorreu a primeira morte pelo novo coronavírus no Brasil, em 12 de março, observa-se que o assunto em si – com toda gravidade e provação que impõe – vai chegando à exaustão.

A imprensa, as rádios, os telejornais, os sites e demais plataformas de informação se valeram de 80% de seu espaço e tempo para noticiar, interpretar, comentar, debater, analisar e projetar os rumos da maior pandemia de nossa época, que de forma devastadora alcançou todos os continentes do mundo.

Situando a questão em termos de Brasil, todavia, vemos que a população se mostra esgotada – exaurida – tendo em vista que depois de quase seis meses nada se vislumbra além do dramático número de infectados e mortos, que coloca o Brasil nas trevas de ser o segundo país do mundo no aterrorizante ranking de vítimas.

Alquebrado

Por óbvio, não se desconsidera que a pandemia afeta todo o planeta. Entretanto, o Brasil parece inerte ante tão sombrio período, na medida que não faz nada de diferente para abrandar a situação, a não ser aguardar pela vacina. Outras nações – com acertos e erros – estão tentando. Mas não se pode dizer o mesmo de um país que há mais de três meses não tem nem um ministro da Saúde, mantendo lá um interino. Inacreditável!

Um massacre de vidas e outro psicológico

Esta página, depois de sucessivas semanas reportando os números do coronavírus em Campos, no Rio de Janeiro e no Brasil – não apenas os registros, mas traçando percentuais, comparando períodos para observar a evolução e publicando infográficos – tira ‘uma folga’ do assustador problema na esfera técnica para um olhar mais distanciado e horizontal, através das considerações acima.

E mais uma vez enfatiza o que todos os veículos de comunicação e a comunidade científica divulgam para ouvidos moucos: é preciso distanciamento social e uso de máscara. A abertura das atividades deve se dar de forma gradual e coordenada, com fiscalização do número de pessoas nos ambientes fechados. E, quem puder, fique em casa.

Ondas

O vírus tem retornado por onde já passou, nas chamadas segundas ondas. Cidades que abriram sem critério tiveram que fechar tudo novamente. No Brasil, a falta de liderança política e coordenação entre os governos está cobrando a conta em vidas: o número de mortes vai se aproximando de 110 mil e nos próximos dias os casos confirmados deverão chegar a 3 milhões e 500 mil. E registre-se: mais de mil brasileiros estão morrendo a cada dia

Trata-se de uma pandemia. Por que não usar máscara? Por que participar de aglomeração? Por que entrar em bares e restaurantes que já estão cheios. Por que continuar de braços cruzados?