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Como foi a gripe espanhola em Campos dos Goytacazes?

O que os memorialistas e historiadores relataram sobre a influenza espanhola em nossa cidade? O que aprendemos com a gripe espanhola?

Antiga Rua Direita, atual Avenida Treze de Maio, Centro de Campos dos Goytacazes. Séc XX, restaurada e colorida Marcelo Carvalho – Arca Photovideo.

A gripe espanhola foi uma pandemia que circulou entre 1918 até 1921, atingindo todos os continentes e deixando um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos. Não se sabe o local de origem dela, mas sabe-se que ela se iniciou de uma mutação do vírus Influenza. Os primeiros casos foram registrados nos Estados Unidos.

A tal influenza vírus se tornou conhecida como “gripe espanhola” devido à imprensa da Espanha, que alertava para o surto da nova doença espalhando-se pelo mundo, principalmente por conta da movimentação de tropas no período da Primeira Guerra Mundial, tendo um impacto direto nos países que participavam desse conflito.

Aqui no Brasil, ela chegou em setembro de 1918, espalhando-se por todas as regiões do país e causando a morte de 35 mil brasileiros. Em Campos dos Goytacazes, a gripe espanhola também foi tratada no começo como uma “gripezinha”, como Hervê Salgado Rodrigues relata em seu livro “Na Taba dos Goytacazes”.

Prédio da Associação Comercial, atual Edifício do Ninho das Águias. Séc. XX, restaurada e colorida Marcelo Carvalho – Arca Photovideo.

O Dr. Alberto Cruz, diretor de Higiene do Governo do Prefeito Luiz Sobral, em pronunciamento oficial, negava que os casos que começaram a aparecer na cidade fossem causados pela epidemia que assolava o mundo. Segundo ele, eram casos de uma simples gripe que devia ser tratada com quinino (pó branco, inodoro e de sabor amargo. Substância utilizada no tratamento de malária e arritmias cardíacas) e aspirina (medicamento utilizado no tratamento para o alívio de dores comuns, dor muscular, promovendo também a melhora de resfriados).

Mas a enfermidade foi se alastrando. Começava com uma simples coriza, mas depois aparecia febre alta, vômitos, constrição torácica e falta de ar. Os casos foram se multiplicando, a nova doença já era tratada com pandemia e os jornais publicavam conselhos e advertências à população.

De acordo com o Hervê Salgado, há relatos de muitas famílias que fugiram para Atafona, como meio de evitar a influenza. Já os que não possuíam condições econômicas melhores, continuaram na cidade trabalhando e se aglomerando.

Como forma combativa, a imprensa teve papel relevante para o combate à nova doença, advertindo a população — pelos jornais “A Notícia”, “Gazeta do Povo” e o “Monitor Campista” — para sair de casa somente quando necessário, além de usar o quinino. Uma variedade de receitas aparecia nos jornais, algumas caseiras ou da flora brasileira, compostas de ervas e outras plantas.

As receitas ditas como tratamentos “infalíveis” se espalharam pela cidade durante a gripe espanhola por meio dos jornais; as páginas eram tomadas por cartas de leitores que indicavam pitadas de tabaco, balas de ervas e tônicos como remédios para a doença. Outra recorrente nos jornais era a recomendação para queimar alfazema ou incenso como forma de “limpar o ar” – tudo isso sem comprovação científica.

Inicio da antiga Rua Direita, atual Avenida Treze de Maio, ao fundo o antigo prédio conhecido como o Palacete Renne, Centro de Campos dos Goytacazes. Séc. XX, restaurada e colorida Marcelo Carvalho – Arca Photovideo.

O historiador Alberto Lamego, cita em seu livro “Efemérides da Terra Goitacá, Vol. II”, a instalação do posto de socorro da Cruz Branca, inaugurado pela Associação Comercial, em sua própria sede, no atual edifício Ninho das Águias, para prestar serviços de atendimento aos enfermos da influenza espanhola.

Mesmo com informes de prevenção, posto de assistência médica e os hospitais, a cidade de Campos dos Goytacazes teve um alto índice de contaminação, infectando até o prefeito Luiz Sobral, acometido pela moléstia.

A doença nefasta se multiplicou, gerando pacientes e mortes, tendo como registro no período entre 15 de outubro até 15 de dezembro do ano de 1919, 419 mortes, sendo 111 indigentes, conforme os dados da antiga Repartição de Higiene da Prefeitura de Campos.

O que aprendemos com a influenza espanhola? Foi um dos últimos fenômenos que abalou a humanidade, e que ainda ressoa na memória de muitos, como a “doença maligna”, ou simplesmente “gripe espanhola”. Considerada a maior e a mais devastadora das epidemias que infectou e vitimou milhões de pessoas. A espanhola representou um acontecimento singular, permanecendo na memória coletiva como tragédia, sobretudo por ter transformado a morte em problema social.

Parafraseando o pensador Edmund Burke – “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”.

 

Graziela Escocard – Historiadora e Diretora do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes.

Instagram: @grazi.escocard

E-mail: graziescocardr@gmail.com

Cel.: 22 999391853