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É tempo de cuidar e gerir as emoções

O psicólogo André Aragão dedica-se à administração de emoções que impactam no aprendizado

Comportamento
Por Ocinei Trindade
10 de agosto de 2020 - 0h01

Palestrante | André Aragão ministra gestão emocional em eventos

Profissionais de diversas áreas têm se dedicado à gestão emocional que trata de habilidades psicossociais e desenvolvimento de competências socioemocionais. De acordo com o psicólogo André Aragão, competências interpessoais, intrapessoais e cognitivas se destacam nos últimos anos após reconhecimento da administração das próprias emoções que refletem positivamente no aprendizado de estudantes e na vida em geral.

“O fator de permanência, ou não, de alguém em um emprego, hoje, não está ligado somente ao conhecimento técnico, mas também dependerá de quanta flexibilidade ou empatia o mesmo desenvolve em suas relações interpessoais. Pesquisas apontam que em dez anos, 30% a 40% dos empregos requererão habilidades socioemocionais. Um outro estudo fala de demissões: 87% delas são por problemas comportamentais”, explica.

André Aragão diz que no ambiente de trabalho ou na escola alguém com inteligência emocional refere-se à sua capacidade de autoconhecimento, de autocontrole, de observar, avaliar e expressar as próprias emoções. “Desta forma, quem gerencia as próprias emoções tende a ser menos reativo e mais empático, conseguindo lidar melhor com situações conflitivas e mais difíceis da vida, principalmente no relacionamento social. Portanto, saber lidar com o que sente se tornou primordial para o futuro profissional desejado”, afirma.

Há mais de um século o conceito teórico de gestão das emoções é trabalhado por vários estudiosos e pesquisadores da área do desenvolvimento humano. A prática disto no mercado de trabalho e no processo pedagógico de alunos é relativamente recente. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), todas as instituições de ensino do Brasil devem estar preparadas para inclusão, em suas propostas pedagógicas e curriculares. São competências socioemocionais a valorização do conhecimento e curiosidade intelectual, linguagem artística, autoconhecimento, reconhecimento de emoções, exercício do diálogo e empatia, cooperação, autonomia, resiliência, flexibilidade, determinação, entre outras.

Em um mercado de trabalho fluido, volátil e híbrido ter sucesso profissional e pessoal sem o desenvolvimento das competências socioemocionais é encarado como impossível, de acordo com especialistas. O ambiente escolar é propício para o desenvolvimento destas habilidades e competência.

“Considerando o fato de estarmos em um momento de esforço descomunal, dos heróicos educadores, em torno do ensino remoto ou híbrido (blended learning), podemos dizer que a capacidade de gestão emocional de pais, alunos, professores e equipe pedagógica, nunca na história recente da humanidade foi tão essencial e necessária”, avalia Aragão.

Internet | Por causa da pandemia, profissional passou a interagir com participantes de forma remota

Educadores receptivos

Para André Aragão, a pandemia fez aumentar muito o nível de ansiedade e incerteza na escola e na família. Escolas cristãs do país têm adotado um programa chamado MindUps, de forma remota por causa da pandemia até poderem voltar com os encontros presenciais. “Em nossos consultórios estamos recebendo um número elevado de profissionais tanto da saúde quanto da educação. É notório o aumento exponencial do nível de estresse e ansiedade. Por outro lado, a educação e a saúde vivem um momento único de valorização. Nunca na história os pais e alunos participaram tanto, juntamente com os professores, do processo de construção do conhecimento”, considera.

O programa MindUps é dividido em módulos adaptáveis a cada instituição de ensino, podendo ser aplicado na própria equipe pedagógica, nos alunos ou nos pais de alunos. Cada módulo pode durar de 4 a 7 semanas.

“A capacidade de gestão emocional de todos os atores envolvidos no momento em que a ansiedade e as incertezas já estão no limite, são necessárias empatia e percepção que a ansiedade e o estresse do outro também estão elevados e a flexibilidade aguçada a fim de se construir em novas soluções em conjunto”, pontua o psicólogo que tem 18 anos de experiência profissional.

O trabalho emocional com alunos que passam por momentos de perda ou luto durante a pandemia também é tratado no programa de gestão e instrumentaliza a equipe pedagógica para agir conforme a necessidade emocional do sujeito. O programa MindUPs é altamente inclusivo. De acordo com Aragão, no ambiente escolar reverte de maneira eficaz a repetência, a evasão ou desatenção de alunos que não se adequam ao programa de ensino proposto.

“Um dos pontos fortes do programa é que alunos portadores de TDAH, TEA e outras comorbidades neuropsicológicas não são mais vistos como um problema ou peso para escola. Eles podem ajudar a melhorar o desempenho geral da unidade escolar na medida em que estimulam a inteligência emocional de todos envolvidos. Independentemente do tamanho ou estrutura da escola, o ganho afetivo nestas situações é incrivelmente produtivo”, conclui.