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Criação de gado aquece economia campista

Setor aumenta a procura por terras e promete movimentar milhões nos próximos anos

Campos
Por Thiago Gomes
10 de agosto de 2020 - 0h01

(Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)

Enquanto a maioria dos setores da economia amarga prejuízos sem precedentes país afora, por causa da pandemia do novo coronavírus, o agronegócio vai muito bem, obrigado! Em Campos, um dos destaques é a pecuária, seja de corte ou de leite, com rebanho estimado em 400 mil cabeças. E a tendência é de crescimento. A previsão do Sindicato dos Produtores Rurais local é de que em pouco tempo haja mais cabeças de gado no município do que habitantes. Com o encolhimento da atividade sucroalcooleira na cidade, muitos produtores migraram do plantio de cana para a pecuária, motivados pelo aquecimento dos mercados interno e externo. Um sinal de que o município está voltando à sua antiga vocação do setor primário? Os produtores apostam que sim.

O preço da arroba do gado não anda nada mal, assim como a maioria das commodities agrícolas. A arroba do boi gordo chega a ser vendida a R$ 230, em média. Quando o assunto é arroba do bezerro, os preços são ainda mais atrativos para o produtor: R$ 330, em média. E isso tem animado o setor, segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Ronaldo Bartholomeu dos Santos Junior.

A população de Campos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, foi estimada em 507.548 pessoas. Número que, em breve, segundo Bartholomeu, deve ser ultrapassado pelo rebanho de gado do município. E o otimismo tem motivos.

Ronaldo | Sindicato Rural

“Com o fechamento de várias usinas na região, muitos agricultores que antes plantavam cana migraram para a pecuária. E ainda há muita área agricultável no município para ser ocupada. Por isso, acredito que o rebanho continuará crescendo”, pontuou.

Conforme lembrou o presidente do sindicato, seja em tempos de pandemia ou não, todos precisam se alimentar. E os brasileiros não deixaram de consumir carne no período. E isso é bom para os produtores, já que a maioria da produção de carne (70%), segundo Bartholomeu, é destinada para abastecer o mercado interno. “O auxílio emergencial do Governo Federal foi uma importante ajuda neste sentido. Possibilitou a alimentação de muitas famílias nesta pandemia”, comentou Ronaldo.

Leite ou corte

Segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Ronaldo Bartholomeu dos Santos Junior, tanto a pecuária de leite quanto a de corte cresceram em Campos nos últimos anos. Ambas têm sido atividades rentáveis, porém, na análise do especialista, a pecuária de leite requer mão-de-obra mais especializada. E, na cidade, a falta de tais profissionais causa um gargalo na cadeia produtiva do leite. “Criar gado para o corte é mais simples”, resumiu.

Os produtores campistas, de acordo Ronaldo, estão atentos às novas tecnologias que ajudam a aumentar a produtividade do rebanho, e têm buscado auxílio do sindicato para isso.

Mercado

A produção de Campos abastece o próprio município e o excedente é distribuído para o resto do Estado Rio de Janeiro, conforme explicou o médico veterinário Ângelo José Burla Dias, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Como mantém uma pequena produção em um sítio, ele prefere não ser chamado de produtor, mas conhece profundamente o setor na região, por causa de sua atuação e das pesquisas que desenvolve na Uenf.

Gado de corte movimenta economia nos abatedouros e açougues antes de chegar à mesa do consumidor. (Foto: Bruno Cecim/Agência Pará)

Ângelo José lembra que a pecuária fez o movimento inverso ao da cana-de-açúcar na cidade. “O preço da cana foi caindo e isso desmotivou os produtores. Já na pecuária, foi a alta dos preços que animou e continua animando os pecuaristas. Assim como o valor da arroba, o preço do leite teve sucessivos aumentos e isso nos surpreendeu, até. Em junho, por exemplo, o litro custava R$ 1,45, em média. No mês passado, foi vendido entre R$ 1,68 a R$ 1,70. E já tem gente cotando a R$ 2 o litro em agosto”.

Na avaliação de Burla, essa retomada do agronegócio vai além do incremento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Um dos grandes problemas do setor é a falta de sucessão. Ou seja, as novas gerações estão perdendo o interesse em assumir os negócios dos pais. Vejo essa rentabilidade do setor, que deu maior visibilidade ao homem do campo, como uma motivação para os jovens”, ponderou.

Incremento na venda de imóveis rurais

Com o setor agrícola em alta, outros segmentos também acabam vindo a reboque. É o caso do ramo imobiliário, com foco em áreas rurais para compra e venda. Quem confirma é o corretor Eugênio Moraes. Segundo ele, graças ao preço da arroba, a partir de maio último houve crescimento na procura por terras agricultáveis em Campos e também aumento no valor do alqueire.

“Um alqueire, que antes era vendido, em média, a R$ 50 mil, agora já tem proprietário pedindo até R$ 60 mil. Com a valorização do preço do boi, houve impacto positivo no mercado imobiliário. As aplicações, no geral, estão rendendo pouco. Por isso é mais vantajoso comprar terra e colocar umas cabeças de gado para lucrar mais. Esta semana mesmo (semana passada), recebi o telefonema de um empresário do Espírito Santo querendo investir em uma fazenda grande aqui em Campos”, disse o corretor.

Fazendas de leite | Produção tem aumentado e gerado empregos. (Fotos: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini)

Fomento não ocorre só em Campos

A agropecuária apresentou crescimento de 0,6% no primeiro trimestre de 2020 em comparação ao quarto trimestre de 2019, conforme dados divulgados no final de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país. O setor foi o único da atividade econômica nacional a crescer no período analisado, de acordo com o estudo.

Em relação a igual período do ano anterior (primeiro trimestre), a agropecuária teve crescimento de 1,9%. Ainda segundo o IBGE, esse resultado pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho de alguns produtos da lavoura com safra relevante no primeiro trimestre, como a soja, e pela produtividade, visível na estimativa de variação da quantidade produzida vis-à-vis a área plantada. O PIB do país teve contração de 1,5% nos primeiros três meses do ano no comparativo com o quarto trimestre do ano passado.

Apesar da pandemia do novo coronavírus, o PIB do setor agropecuário brasileiro deve ter alta de 2,5% em 2020. A previsão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados do IBGE.

Consumo

Indústria Açucareira | Plantação de cana está perdendo espaço para criação de gado em todo município. (Foto: Silvan Rust)

Os dados detalhados mais recentes foram divulgados no ano passado, também pelo IBGE, e mostram que a produção brasileira de leite atingiu 33,8 bilhões de litros em 2018, aumento de 1,6%, retomando a tendência de alta após queda de 1,1% em 2017. De acordo com o estudo, as regiões Sul e

Sudeste, com participação de 34,2% e 33,9%, respectivamente, lideram a produção nacional.

O efetivo de bovinos foi de 213,5 milhões de cabeças em 2018, com redução de 0,7% em relação ao ano anterior. Segundo o IBGE, o ano de 2018 foi marcado pelo aumento anual consecutivo do abate de bovinos e pelo recorde no volume de carne bovina exportada.

Os números de 2019 ainda não foram divulgados pelo órgão.