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Campistas também choram pelo Líbano

No município, são muitas as referências do país, principalmente no comércio, com famílias de imigrantes que se tornaram tradicionais

Geral
Por Thiago Gomes
9 de agosto de 2020 - 0h01

Epicentro | Porto da cidade de Beirute foi o ponto zero da grande explosão que destruiu metade da capital do país

Na última semana, as atenções do mundo se voltaram para Beirute, capital do Líbano. Os olhares de Campos, no entanto, talvez um pouco mais consternados que a maioria das cidades justamente por causa da proximidade do município com a comunidade libanesa. Farah, Chacur, Fadul, Neme, Abou Rjeily, Assad, Assed, Bassan… Muitas famílias que fincaram raízes em Campos acompanharam com perplexidade a trágica explosão do armazém no porto de Beirute, que ocorreu por volta das 18h10 (12h10 em Brasília) do dia 4 de agosto, e matou pelo menos 157 pessoas, deixando outras 5 mil feridas.

Rita Hanna Abou Rjeily veio ao Brasil acompanhada do marido Toni Heloa, em março, para visitar o irmão, o empresário Adel Abou Rjeily. Justamente por causa da pandemia, Rita e Toni ficaram impedidos de retornar a Beirute, onde moram. Só que lá ficaram uma filha de 21 anos e um filho de 19, que estudam na capital libanesa. A casa da família, segundo Rita, fica a cerca de oito quilômetros do local da explosão. “Venho a Campos pelo menos uma vez por ano. E justamente este ano não pude retornar. Quando soube da explosão, pensei logo nos meus filhos. Depois soube que nada aconteceu com eles”, lembra.

Adel, também campista, que é presidente da Câmara de Comércio Brasil/Líbano, lembra que os primeiros familiares vieram para o Brasil no início do século 20, entre 1901 e 1905. Mas os parentes mais próximos chegaram a Campos na década de 1950. Como parte da família ainda reside no Líbano, ele mantém relações estreitas com o país, onde esteve pela última vez há cerca de dois anos.

Família libanesa |Casal escapou de tragédia e estava visitando Campos

“Estamos preocupados principalmente com a saúde do povo, porque não sabemos das consequências nestas áreas. Em termo de logística, o estrago é imenso. O porto, que é o maior do Oriente Médio, foi totalmente destruído. O prejuízo é incalculável”, disse.

Empresário conhecido em Campos, Eduardo Chacur também tem origem libanesa, como o sobrenome já evidencia. Ele conta que não tem mais parentes no Líbano, mas, ainda assim, é difícil ver tamanha tragédia na terra de seus antepassados. Sua avó paterna, Malake Farah Chacur, e seu pai ainda criança, Riscalla Chacur, vieram para o Brasil em 1920, a bordo do navio Príncipe di Udine, e foram direto para a região de Santo Eduardo, no Norte do município, onde se tornaram proprietários da Usina Santa Maria. Começava aí a ligação dos Chacur com Campos.

“O Líbano não merecia essa tragédia. É um povo sofrido, batalhador, guerreiro. É com muita dor que acompanho esses acontecimentos na terra do meu pai. Estive lá pela última vez há dois anos, inclusive, em um restaurante do Porto, região que explodiu. É lamentável”, disse Chacur.

Marcos Fadul, outro comerciante campista de origem libanesa, recebeu com espanto a notícia de que mais de 100 pessoas morreram na explosão do dia 4. Segundo ele, os parentes que ficaram no Líbano já morreram faz tempo, mas é impossível não se solidarizar com as famílias das vítimas. “É triste ver tantas pessoas mortas, a princípio, por causa de uma negligência tão grande”, comentou Fadul.

O vereador Abdu Neme também lamentou a tragédia em suas redes sociais. “Teve uma grande explosão em Beirute, capital do Líbano e como descendente não posso deixar de expressar minha solidariedade com os que lá vivem e com a comunidade existente em nossa cidade, todos sofremos e estamos de luto por essa tragédia.” Também nas redes sociais, brasileiros – mesmo sem parentes no país do Oriente Médio – mobilizaram campanhas de oração pelo povo Líbano.

Família Chacur | Esteve há dois anos em restaurante no Porto da cidade

Investigações

A primeira pista seguida é de que a explosão tem relação com o armazenamento de 2,75 toneladas de nitrato de amônio em um hangar de Beirute, carga que estava no local sem condições de segurança adequada há seis anos. O governo do Líbano exigiu agilidade e deu quatro dias para um comitê apresentar seus primeiros resultados na investigação da explosão.

Assim que a notícia da explosão ganhou o mundo, a imprensa noticiava pelo menos dez mortos. Mas o número foi crescendo assustadoramente e, até o fechamento desta edição, a contagem de corpos estava em 157.

O primeiro ministro do Líbano, Hassan Diab, disse que os responsáveis por uma explosão em um armazém “perigoso” na área portuária de Beirute, que abalou vários pontos da capital libanesa, vão pagar o preço.

“Eu prometo a você que essa catástrofe não passará sem responsabilidade. Os responsáveis vão pagar o preço”, disse ele em um discurso televisivo.
“Os fatos sobre esse armazém perigoso, que existe desde 2014, serão anunciados e não serão antecipados antes das investigações”, acrescentou.