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Campos: Educação descontinuada

Aulas estão suspensas há quase cinco meses e alguns alunos ainda não receberam qualquer atividade pedagógica

Educação
Por Thiago Gomes
3 de agosto de 2020 - 0h01

Escolas | Prefeitura já começou a elaborar protocolos de segurança para a volta às aulas, que ainda não tem data (Foto: Supcom)

Manter o processo de aprendizagem dos alunos — interrompido de forma abrupta por causa da pandemia do novo coronavírus — é um desafio e tanto não só para Campos. Principalmente quando se trata de escolas públicas, onde a maioria dos estudantes não tem acesso a meios de tecnologia que facilitam o ensino remoto. A Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte (Smece) elaborou cadernos de atividades pedagógicas que foram enviados às escolas que, por sua vez, repassaram aos estudantes. No entanto, na avaliação do Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe-Campos) e de pais ouvidos pela reportagem, a iniciativa é insuficiente para assegurar a aprendizagem dos jovens e ocorreu de forma tardia, mais de dois meses após o início da pandemia. Embora ainda sem uma data definida para o retorno das aulas presenciais, o município já elabora protocolos para receber de volta os alunos e professores.

A secretaria de Educação elaborou o material pedagógico, mas, até a última sexta-feira (31/07), não havia sido distribuído para todos os alunos. Segundo o próprio município, as apostilas para os estudantes do Ensino Fundamental II (6º ao 9º) ainda estão em fase de impressão. Ou seja, as aulas foram suspensas em 16 de março, por decreto municipal, e até agora este grupo de jovens não recebeu qualquer material didático.

Mãe de duas meninas de 5 e 7 anos, que estão na fase de alfabetização, Remilda Machado Neves lembra que as filhas ficaram dois meses sem desenvolver qualquer atividade pedagógica. Até que a primeira e única apostila enviada pela Smece chegou à sua casa. As crianças estão matriculadas no Pré-III e no 1º ano da Escola Municipal Mário Barroso, em Ururaí, e, segundo a mãe, as folhas de apostilas enviadas pela secretaria não são o bastante para garantir a aprendizagem das meninas.

“Este período tem sido difícil. Estou dando meu jeito em casa, tentando ensinar como posso. As meninas receberam as apostilas, mas não são suficientes. Têm apenas sete folhas. A professora de uma das minhas filhas, por conta própria, fez um grupo no WhatsApp para nos ajudar”, destacou Remilda.

O coordenador geral do Sepe-Campos, Edson Braga, não poupou críticas à postura assumida pela secretaria municipal de Educação durante a crise mundial de saúde provocada pelo novo coronavírus. “Antes mesmo da pandemia, a situação já era caótica”, disparou.

Ainda segundo Braga, “no início, não houve nem planejamento para trabalho remoto nas escolas. Prova disso é que queriam obrigar os profissionais a entrarem de licencia prêmio ou férias não remuneradas também obrigatórias. Quando perceberam o grande erro, entre outros, recuaram e permitiram a fantasia do trabalho home office, que passou a existir daquele momento em diante. Uma bela maquiagem, mas só depois de meses de pandemia”, afirmou o coordenador do Sepe.

A Smece disse que estuda a forma de reposição de aulas, considerando a realidade dos estudantes da rede municipal, que, em sua maioria, não possuem computadores ou internet domiciliar. Em relação à questão da tentativa de afastamento dos professores, o órgão disse que “nos primeiros 15 dias em que foi decretada a pandemia, a Prefeitura antecipou o recesso escolar dos profissionais da Educação. As férias e licenças passaram a ser concedidas a partir de julho. A questão da licença foi apreciada pela Procuradoria Geral do Município, que indicou a legalidade do procedimento”.

Com atraso| Apostilas da Smece ainda não chegaram a todos os alunos (Foto: Supcom)

Material elaborado pela Secretaria de Educação

A Smece elaborou para os estudantes cadernos de atividades pedagógicas, com textos e exercícios a serem resolvidos durante o período de suspensão das aulas provocado pela pandemia do novo coronavírus. Segundo o órgão, são três modelos de cadernos, divididos por segmentos: Educação Infantil, Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) e Ensino Fundamental II (6º ao 9º). Os dois primeiros já começaram a ser distribuídos pelas escolas. O último está em fase de impressão. O material é composto por 10, 20 e 37 páginas, respectivamente, de acordo com o segmento.
“A Smece deu às unidades autonomia de trabalhar ou não com o material ofertado. Algumas optaram por elaborar e fornecer o próprio conteúdo. As atividades contidas nos cadernos serão corrigidas pelos professores no retorno das aulas, ainda sem data para acontecer. Muitas escolas distribuíram os cadernos junto ao segundo lote do Kit Alimentação. Dois lotes do kit já foram entregues aos alunos, pela Secretaria de Educação, Cultura e Esporte”, disse o órgão em nota.

Sem previsão para retorno das aulas

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte (Smece), o retorno das aulas está condicionado ao plano de retomada econômica da Prefeitura de Campos. A partir dele, as atividades presenciais em unidades de ensino voltam a acontecer na chamada “Fase Branca”, o nível 1 do plano, que indica situação de atenção. A Smece informou, em nota, que está elaborando um protocolo de retorno, com medidas sanitárias e de distanciamento, levando em consideração a quantidade de alunos, servidores e tamanho das unidades escolares.
“A secretaria também trabalha com a realidade dos profissionais da rede, alguns dentro do grupo de risco da doença pela idade ou existência de comorbidades. O planejamento do calendário de retorno está sendo elaborado considerando diferentes cenários, assim como as normativas legais estabelecidas até o momento”, destacou.
“Somos contra o retorno das aulas, uma vez que nenhuma instituição científica e autorizada como Fiocruz, UFRJ, OMS, deu nenhum sinal de segurança e protocolos ainda seguros para o retorno. E, se for dado algum sinal de retorno por parte do governo municipal, entraremos em greve pela vida e pela saúde. Porque nesse momento a vida é mais importante do que tudo”, alegou o coordenador geral do Sepe-Campos, Edson Braga.

Professores substitutos afastados

Ainda sob a justificativa da pandemia, a Prefeitura de Campos dispensou estagiários remunerados e professores substitutos. A medida foi oficializada por dois decretos do Gabinete do Prefeito, Rafael Diniz, publicadas no Diário Oficial de 6 de maio. Desde então, os profissionais da Educação dispensados vivem uma situação delicada.
“A Prefeitura não demitiu, mas suspendeu os professores contratados, que não têm salário e não podem aderir ao seguro desemprego ou ao auxílio emergencial (benefício oferecido pelo Governo Federal). A única ajuda que tiveram foi a distribuição de 328 sacolões oferecidos pelo Sepe, o que ainda e pouco, mas foi o possível”, destacou Edson Braga, do Sepe.

Em nota enviada ao Jornal Terceira Via, a Secretaria de Educação informou que, “ao contrário de municípios que cancelaram em definitivo contratos, a Prefeitura de Campos optou por suspender, neste momento em que as aulas estão paradas em virtude da pandemia, contratos temporários de profissionais da Educação e de estagiários que atuam junto à administração pública, em secretarias que estão momentaneamente com as atividades suspensas em função do isolamento social. Ao suspender o contrato e, não cancelar, o objetivo da Prefeitura de Campos foi manter estes postos de trabalho após o período de isolamento”.