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A ‘ginástica’ para reabrir academias

Profissionais avaliam propostas de flexibilização para atividades físicas no curso da pandemia da Covid-19

Geral
Por Ocinei Trindade
3 de agosto de 2020 - 0h01

De braços cruzados | Diogo Martins é proprietário de academia e pretende adequar o espaço para reabrir (Carlos Grevi)

Desde março, academias de ginástica e musculação deixaram de funcionar em Campos dos Goytacazes. Por causa da pandemia, governos estadual e municipal determinaram por meio de decretos medidas para conter o contágio pelo novo coronavírus. Iniciativas para flexibilização e reabertura desses espaços ainda geram dúvidas e sensação de insegurança. Empresários e profissionais do setor avaliam os prejuízos e arriscam sobre o futuro das atividades físicas.

A empresária e educadora física Marilza Boynard administra uma academia em Donana há nove anos.

Marilza Boynard (Foto: Divulgação)

Os prejuízos têm sido grandes com despesas gerais.  Ela não demitiu funcionários, mas reduziu os vencimentos, conforme proposta do governo federal.  Para ela, pandemia causou um cenário desolador. Oferecia 15 modalidades, além da musculação.

“É complicado para os alunos e professores. Alguns buscam a atividade física por estética, mas outros focam na prática pela qualidade de vida, para amenizar dores de alguma patologia apontada por um médico que tenha indicado a musculação, a hidroginástica ou o pilates. Nosso maior quantitativo recebe por percentual sobre cada aluno matriculado na respectiva modalidade. Justamente estes, estão sem seus ganhos. Eu e minha sócia seguimos uma planilha para não deixar de pagar contas e, principalmente, funcionários”, diz Marilza.

O empresário Sandro Moura é crítico ao fechamento das academias que, segundo ele, prejudicou a parte financeira. “Nos dois primeiros meses, com a suspensão de contrato, a ajuda do governo federal pagou 100% da folha de funcionários. Mas R$15 mil saiu do meu bolso para pagar encargos trabalhistas, água e luz. Sem atividades, mais de 1500 alunos deixaram de frequentar as duas unidades que administro”, comenta.

Sandro Moura | Ele tem duas academias e fala sobre os prejuízos (Foto: Arquivo/Silvana Rust)

Com 30 anos de experiência no segmento fitness, Sandro Moura se organiza para não demitir ninguém. Ele defende o retorno do funcionamento das academias na cidade com os protocolos determinados por autoridades sanitárias.

“A academia tem 1500 metros quadrados. São protocolos rígidos passados com distanciamento mínimo de aparelhos. Acho muito seguro reabrir porque temos janelas. Nesta época o uso do ar-condicionado é dispensável.  Acho um absurdo não poder abrir as academias. Há gente praticando esporte em praças. Os critérios como ter álcool gel, distanciamento, número de pessoas reduzido, cada um usar sua toalha. Isso é possível. O retorno será complicado, pois nem todos vão querer. A receita tende a cair muito”, observa.

O fisioterapeuta Diogo Martins é autônomo e mantém uma academia há nove anos. Teve rendimento zero por prestar atendimento presencial. Considera difícil calcular o prejuízo. “Tinha rendimento ou lucro de até R$ 12 mil por mês, mas há impostos, encargos, pagamento de aluguel.  Sem o lucro, o prejuízo é grande. Deixei de atender a 400 alunos. Nunca parei um dia de abrir a academia”.

Diogo considera o protocolo do Conselho Regional de Educação Física muito seguro para flexibilizar e garantir o retorno das academias. “O risco de contágio é menor que um banco, um supermercado, um comércio. O aluno poderá vir tranquilo, com risco mínimo de contágio. Creio que funcionará. No retorno, deve haver perda de receita pela redução de alunos. A limitação será por metro quadrado. Vai dar para sobreviver. Não dá para sobreviver com academia fechada, só amargando prejuízo”, afirma.

Aulas on-line

Sandro Moura não promoveu aulas on-line. Ele considera atividades presenciais indispensáveis. “Alguns professores recomendaram alguns exercícios para fazerem em casa, mas para mim o on-line não dá certo como em uma academia. Atividade física na pandemia aumenta a autoestima. Quem teve Covid-19 precisa de reforço muscular, caminhada na esteira. Acho que o psicológico da pessoa é auxiliado com o ambiente diferente e animado contra depressão. A academia é recomendável com segurança e acompanhamento”, diz

Marilza Boynard tem usado as redes sociais como forma de manter contato com os alunos. “Aulas normalmente são cobradas. Nós não cobramos. Mantivemos um cronograma de postagem de treinos pela rede social, elaborados por nós. Os alunos seguem respeitando suas limitações. Esse contato estreitou muito a relação. Estaremos sempre prontos a ajudar a alcançar objetivo que o aluno busca”, comenta.

Futuro das atividades

Marilza Boynard acredita que “as academias já deveriam ter retornado há muito tempo”. Porém, reconhece o desafio de reabertura. “O retorno será diferente, desde as portas de entrada com aferição da temperatura, exigência no uso de máscara, higienização das mãos, uso de tapetes sanitizantes. Cada um levará sua garrafa d’água e toalhinha, além da flexibilização com o distanciamento de pelo menos dois metros;  não revezar aparelhos — que deverão estar higienizados a todo instante e separados com fitas para demarcação do piso. O tempo de permanência será reduzido.  Muitos não voltarão, pelo menos não de imediato. É  indiscutível que  afetará as receitas, como ocorreu e ocorre com outras atividades”.

Diogo Martins se preocupa ainda com a manutenção de empregos. Ele tem dez funcionários registrados.  “Como profissional da área de saúde, afirmo que há pessoas que não podem deixar de fazer atividades físicas. É um local onde tem aparelho e profissional especializado para acompanhar quem tem problemas de saúde. Sem exercícios preventivos, vejo pessoas correrem risco. Algumas doenças podem se agravar sem o acompanhamento profissional. A parte econômica é importante, mas o benefício da saúde é muito maior”, afirma.

A prefeitura de Campos foi questionada sobre a liberação das academias para funcionamento, mas não deu detalhes nem prazo para colocar em prática a flexibilização. Por nota, informou que “a Vigilância em Saúde, em conjunto com o Gabinete de Crise, vem mantendo a avaliação dos seus indicadores e, desta forma, analisando as possibilidades de abertura de cada setor com responsabilidade, de acordo com os dados técnicos apresentados. Com relação às academias, o município mantém diálogo com o segmento e, inclusive, já se reuniu com representantes do Conselho Regional de Educação Física”.