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‘FALTOU DIZER’, sobre o pós-pandemia; e mortes pela Covid em Campos

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
26 de julho de 2020 - 0h01

‘FALTOU DIZER’, sobre o pós-pandemia; e mortes pela Covid em Campos

De 17 a 24 de julho houve aumento de mortes em relação ao mesmo período no mês passado (*Infográfico)

A matéria de domingo passado colocou ressalvas sobre observação que vem sendo repetida, de que o pós-pandemia fará emergir uma sociedade diferente, qual seja mais justa, fraternal e acolhedora.

Saindo do terreno idealista para o realista, considerou-se como mais provável que as mudanças se restrinjam a novos  hábitos, a cuidados higiênicos mais rígidos e na maior prevenção contra futuras doenças infecciosas. Mas, com pouco entusiasmo quanto a transformações institucionais de maior profundidade.

Assim, para aclarar qualquer eventual confusão, registre-se dois pontos:

1– Preliminarmente, o referido texto alertou que falar em pós-pandemia neste momento traz forte inclinação ‘antecipatória’, visto que a doença não dava mostras de estar na reta final. Como tal, confirmou-se, infelizmente, nos dias seguintes à publicação: maior número de óbitos em 24 horas das últimas quatro semanas (1.367 mortes na terça-feira, 21) e, tanto mais grave, o recorde no número de pessoas infectadas ao longo de toda a pandemia (65.339 casos positivos em 22 de julho).

2– Ao se especular que passado este período de fragilidade é possível que o emotivo discurso da solidariedade fique para trás junto com a Covid, não se fez uma afirmação, mas mera reflexão de cunho pessoal, acompanhada da ponderação de que talvez fosse uma visão pessimista.

Torcida à parte – ainda que escorada nos píncaros do otimismo – de que superada a pandemia surja um novo mundo, o presente texto, relativamente complementar ao anterior, amplia o ceticismo invocado, trazendo exemplos que a sociedade, com raras exceções e ‘noves fora’ discursos vazios, caminha de braços dados com a intolerância, com o preconceito e com a desigualdade, dando pouca importância ao que está fora de sua linha de interesse.

O sonho de uma nova sociedade no Brasil  

Quando se fala em “novo normal”, vê-se alinhado o pensamento de que a carga de sofrimento resultado da maior pandemia do nosso tempo deixe como legado uma espécie de poder transformador, que faça a sociedade enxergar que o flagelo alheio precisa ser reconhecido e combatido.

Que todos percebam o quanto somos frágeis, que podemos adoecer e morrer independente de classe social. Mais ainda, que o infortúnio imposto aos vulneráveis, carentes e desassistidos – todos os que vivem abaixo da linha da pobreza – não pode continuar sendo ignorado pelo Estado brasileiro, a quem cabe, prioritariamente, cuidar de sua gente mais sofrida. E, por extensão, que cada um assuma sua responsabilidade social de amparar quem precisa.

Tudo rigorosamente correto, mas, infelizmente, precisando vencer a barreira de que da teoria à prática vai uma grande distância.

Ideal & desconfiança – Evidente, todos torcemos para que a partir de período tão difícil, as mudanças aconteçam particularmente em favor dos necessitados. Mas fica difícil apostar em transformação quando se rouba descaradamente, inclusive, durante a pandemia. Quando a propina, o desvio de dinheiro público e o superfaturamento seguem ‘comendo solto’ ao mesmo tempo que as pessoas morrem, em grande parte, pelo socorro que não chega.

Em uma sociedade elitista, infectada por privilégios, que sempre conviveu ‘passivamente’ com a desigualdade e com a corrupção, é razoável que se desconfie do ‘novo normal’.

Dos três últimos presidentes, Lula da Silva foi condenado e preso; Dilma Rousseff sofreu impeachment e Michel Temer foi preso duas vezes e responde a uma série de processos por corrupção. No Estado do Rio, os quatro últimos governadores passaram períodos em prisões e o atual está em vias de sofrer impeachment.

Os indiciamentos de Geraldo Alckmin e José Serra, a despeito de terem sido citados anteriormente em investigações, não deixam de ser uma grande decepção para o Brasil.

Logo, como não há que se falar em políticas de inclusão e de combate à desigualdade em larga escala sem a presença do poder público, só com grande dose de otimismo para acreditar em mudança radical no agir, no fazer e no realizar. (*Continua)

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Mortes pelo coronavírus em Campos e no Brasil 

O infográfico traz o comparativo do número de mortes entre dois períodos idênticos dos meses de junho e julho, lembrando que os registros retirados do boletim epidemiológico do município vão apenas até o dia 24 de julho.

Campos apresenta queda no número de óbitos nos primeiros 24 dias de julho comparados com o mesmo período do mês passado: 58 contra 64. Contudo, a curva é ascendente em relação aos últimos oito dias: de 17 a 24/julho foram 21 mortes – seis a mais que no mesmo período de junho.

O Brasil ultrapassou as fronteiras de 2 milhões e 300 mil infectados e 85 mil mortes, com média móvel de 1.065 novos óbitos nos últimos 7 dias, até sexta (24).

Observa-se, ainda, que variam a cada dois ou três dias os estágios da doença por estado. Até sexta-feira (24) nove estados apresentavam alta de mortes: PR, RS, SC, GO, MS, AP, RO, TO e PB.

Em estabilidade: Rio, SP, MG, ES, MT, AC, BA, PA, RR, MA, SE, PI e o Distrito Federal.

Em queda, também até o dia 24,  estavam os estados do CE, AL, AM, RN e PE.