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Profissionais reagem à crise econômica

Aumento da procura por obras e reparos em domicílios é observada por alguns segmentos da construção civil

Economia
Por Ocinei Trindade
17 de julho de 2020 - 10h55

Aumento de pedidos | marceneiros afirmam que tiveram aumento de 80% das atividades contratadas

A crise econômica por conta da pandemia do novo coronavírus no país e em todo o mundo não causa dúvidas sobre retração, quedas de faturamento e consumo. As perdas têm sido inevitáveis para o comércio, indústria e prestadores de serviços. O desemprego voltou a ameaçar após uma breve retomada econômica em 2019. Por outro lado, este ano, alguns profissionais passaram a ter bastante procura para a realização de serviços. Em Campos, este cenário é observado. São pedreiros, marceneiros, eletricistas e bombeiros hidráulicos. Especialistas avaliam o período em que demandas de mercado e ofertas de trabalho divergem.

O marceneiro Francisco Carlos diz que não tem do que reclamar nesse período. Apesar de algumas semanas de isolamento social, trabalho não faltou para ele e sua equipe. Há muitas solicitações de mobiliário para orçamentos e entregas. Nos últimos meses, houve aumento de 80% de pedidos de móveis planejados. Com muita gente trabalhando em casa, ele acredita que reformas e reparos deixaram de ser adiados.

Agenda lotada| Gilberto é pedreiro e eletricista “muito trabalho”

De acordo com Jefferson Flausino, projetista de móveis, muitas pessoas viram que o momento é propício para algum tipo de obra. “Tenho observado que eletricistas, gesseiros, pedreiros têm sido procurados por clientes que nos procuram para fazer algum armário. Antes, era só um cômodo. Atualmente, a casa toda tem recebido alguma intervenção por pessoas que querem melhorar a casa”, comenta.

Outro profissional que diz não estar faltando trabalho é o construtor Gilberto Pessanha, com 25 anos de experiência. No momento, ele está reformando um edifício de salas comerciais na Rua Barão do Amazonas, Centro de Campos. “Cheguei a ficar 40 dias parado no início da pandemia. Quando pude voltar a circular, retomei às atividades. Faço serviços de pedreiro, pintor, eletricista e encanador. Não posso reclamar. Para mim, nunca falta trabalho. Quando terminar este prédio, já tenho outro para reformar”, revela.

Jose Eulálio| avalia desempenho

Desemprego na construção civil

De acordo com o presidente do Sindicato da Construção Civil de Campos, José Eulálio, desde o mês de março, cerca de seis mil trabalhadores do setor foram dispensados. A pandemia contribuiu para que fossem interrompidas obras de edifícios residenciais, prédios públicos como escolas e creches, além de revitalização de ruas e calçamentos. “Achávamos que a revitalização do setor se concretizaria, mas o coronavírus interferiu”, disse.

José Eulálio reconhece que muitos profissionais autônomos estão conseguindo driblar a crise neste momento. Ele informou que condomínios e donos de residências devem procurar profissionais da construção civil com alguma qualificação, além de os contratantes atentarem para o cumprimento de legislação e normas de segurança.

“Acho que sem trabalho formal com carteira, cada um dá o seu jeito. O autônomo consegue buscar espaços de atuação. Eles estão sempre à disposição e ajudam a aquecer o setor. Creio que estes profissionais serão ainda mais bem aproveitados após a crise, por causa do desempenho. Há trabalhadores que conseguiram o auxílio emergencial do governo e não se empenharam estar ativos no mercado. É fato que muitas residências e condomínios carecem desses profissionais”, explica.

Economista Alexandre Delvaux (Foto: Carlos Grevi)

Pesquisa de Serviços

O economista Alexandre Delvaux acompanha a Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O desempenho do setor tem sido bastante tímido no Brasil, coincidindo com a crise econômica que se arrasta nos últimos anos” observa. Entre e março e abril de 2020, o tombo foi de 11,7%, depois de uma queda acumulada superior a 8% em janeiro e fevereiro. A pesquisa de maio identificou uma estagnação. “É possível que a curva sofra uma inflexão na sua trajetória, a partir de junho”, arrisca.

Para Delvaux, serviços complementares como a montagem de móveis, redes de computador, adaptações nas residências para o home office, a demanda ficou reprimida por causa das medidas de isolamento levadas a efeito por famílias e empresas em março e abril. Embora a PMS de junho ainda não tenha sido divulgada, é provável que a pesquisa do IBGE conforme a recuperação de parte das perdas.

“É possível que o período prolongado da crise tenha provocado um ajuste na disponibilidade de prestadores de serviços, acarretando no crescimento das encomendas e das contratações dos remanescentes no setor. Os empreendedores e empresas que continuam operando devem buscar aumentar a produtividade e reduzir os custos fixos, pois com a normalização da economia, a tendência é de aumento da competitividade do setor”, conclui.