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Comércio de rua volta e se adapta aos novos tempos

Shoppings da cidade investem em segurança sanitária mas ainda permanecem fechados

Campos
Por Redação
12 de julho de 2020 - 0h01

Michelle Oliveira | Salões de beleza com atendimento individualizado

Por Priscilla Alves e Thiago Gomes

A pandemia do novo coronavírus mudou radicalmente a rotina da população e com o comércio e o setor de serviços não foi diferente. Houve um impacto direto nas relações de consumo. Parte das lojas em Campos voltou a funcionar no dia 1º de julho e, desde então, tanto comerciantes quanto comerciários e consumidores têm tentado se adequar ao “novo normal”. As adaptações exigidas para que os lojistas voltassem a operar demandaram do segmento varejista um custo a mais, no entanto os empresários sequer têm a certeza de que vão continuar de portas abertas nas semanas seguintes, já que isso vai depender da evolução da Covid-19 no município. Por enquanto, a cidade segue no nível três de risco (fase amarela), de acordo o plano de retomada das atividades econômicas fixado em decreto pela prefeitura. Enquanto o comércio de rua opera, os shoppings aguardam autorização para também dar boas-vindas aos clientes afastados desde o dia 22 de março.

O segmento do vestuário, por exemplo, demandou várias adaptações para o retorno às atividades, conforme detalhou a empresária Fátima Vasconcelos. “Nós do setor de vestuário estamos tendo que nos adaptar ao ‘novo normal’. Tomamos todas as medidas de biossegurança, como desinfecção das roupas com o uso de steamer (ferro a vapor), intensificamos o utilização do álcool em gel, facilitando seu uso através de totens colocados nas entradas de todas as nossas lojas juntamente com tapete higienizador. Todas essas medidas nos geraram custos que não serão repassados para nossos clientes”.

A empresária disse que, nesta primeira semana de reabertura do comércio de rua, percebeu um certo receio dos consumidores em irem até a loja. Mas aí entra outra adaptação imposta pela pandemia: Fátima se preocupou em reforçar o serviço de delivery. “Precisamos de nossas lojas abertas, mas de uma maneira responsável, diminuindo o risco, se fazendo necessário a conscientização da população”, pontuou.

Se para os comerciantes a adaptação não está sendo fácil, para os clientes o sentimento é o mesmo. A professora Hermínia Nogueira disse que precisou furar a quarentena, na última quarta-feira (8), para comprar roupa de frio para o filho de 8 anos. “Não foi possível entrar na loja de imediato. Tive que aguardar do lado de fora por cerca de meia hora até conseguir atendimento. A gente entende que é uma medida necessária, mas é algo inconveniente”, comentou.

Ainda sem análise

A Prefeitura de Campos informou que ainda não houve tempo suficiente para avaliar o impacto dessa maior flexibilização em relação aos indicadores que compõem o sistema de pontuação utilizado na avaliação de risco para a COVID-19 na cidade. “Logo, a Vigilância em Saúde segue em atenção para a identificação de mudanças significativas nesses indicadores que podem apontar para o aumento do risco para a doença sobre a população”.

No entanto, segundo dados da Prefeitura, no dia 1º, a cidade registrava 1.941 casos, 114 óbitos confirmados e 860 pacientes recuperados. Uma semana depois (dados do dia 8), eram 2.253 casos, 131 óbitos e 1.448 pacientes recuperados.

Lanchonete | Clientes são atendidos do lado de fora do estabelecimento

Mudanças também nos setores de alimentação e de beleza

O “novo normal” também chegou aos salões de beleza. Não é mais possível fazer cabelo ou as unhas da mesma forma que antes. Proprietária de um espaço no bairro Turf Club, Michelle Oliveira relatou que de uma hora para outra se viu obrigada a rever todos os protocolos de atendimentos às clientes. Ela diminuiu o número de funcionários; montou uma espécie de lounge do lado de fora, para maior conforto de quem espera pelo atendimento; implantou marcação por todo o salão para que as pessoas mantenham o distanciamento, colocou tapete higienizador logo na entrada, entre muitas outras ações.

“Não tem jeito. A gente precisou se adaptar às normas impostas pelos órgãos competentes. Estamos pedindo, inclusive, que as clientes não venham acompanhadas, e elas entram no salão apenas na hora do atendimento”, detalhou Michelle.

E aquele salgado, hambúrguer ou fatia de torta que muita gente não abre mão? Também não estão sendo degustados da mesma forma. As lanchonetes adotaram novos protocolos que impedem que os clientes saboreiem os itens no local. Proprietário de uma lanchonete no Centro, Pedro José da Silva Moço lamenta ter perdido entre 50% e 60% de suas vendas.

“Instalamos uma fita de isolamento logo na entrada e os consumidores sequer entram na lanchonete. São atendidos do lado de fora mesmo. Acho que isso atrapalhou bastante as vendas”, comentou.

Vestuário | roupas desinfetadas

Expectativa para a reabertura dos shoppings

Segundo a Prefeitura, a Diretoria de Vigilância em Saúde está concluindo processo de análise dos protocolos apresentados pelos shoppings e galerias fechadas, e vai apresentar sugestões de maneira que possa ser avaliada a abertura, com rigor e critério, ainda dentro da fase amarela.

Campos Shopping

Situado no Centro da cidade, em área de grande movimento, o Campos Shopping sente o impacto econômico provocado pelo novo coronavírus. São cerca de 130 lojas e, deste total, quase 20% fecharam as portas em definitivo. Ainda assim, segundo o sócio-executivo Maurício Vasconcellos, a expectativa pela reabertura é grande e todas as adequações já foram feitas para receber os funcionários e clientes. Ainda segundo ele, mesmo com tantas restrições, vale à pena manter as lojas abertas.

“Nós já enviamos nosso protocolo de funcionamento para a prefeitura e já fizemos o necessário para reabrir. Infelizmente, tivemos algumas lojas que fecharam neste período, principalmente as do setor de vestuário”, informou Maurício Vasconcellos.

Parquecentro

A administração do Parquecentro Shopping informou que, para a possível reabertura, a prefeitura exigiu que cada shopping e galeria elaborasse seus próprios protocolos de segurança que têm o objetivo de reduzir os riscos de contágio pelo novo coronavírus. Entre os lojistas do local, a expectativa de reabertura é grande.

A administração disse ainda que já elaborou e encaminhou seus protocolos de segurança e também já implementou todas as medidas sugeridas, como disponibilização de álcool em gel nos espaços comuns (já que as lojas são responsáveis pela higienização em seus espaços), instalação de placas deixando claro a obrigatoriedade do uso de máscaras, aferição de temperatura corporal dos clientes, entre outras. Por contar com boa parte dos espaços ao ar livre, os administradores acreditam que isso vai ajudar nas medidas de segurança.

Vips Center

A presidente da Associação dos Lojistas do Vips Center, Maria Cristina Azevedo dos Santos, disse que, apesar dos investimentos necessários para a adaptação às exigências de reabertura impostas pela prefeitura, os comerciantes do local estão contando os dias para voltarem a atender o público. Afinal, todos estão parados desde o dia 20 de março. No local são 35 lojas, além de salas comerciais e escritórios e, segundo Maria Cristina, apenas uma loja fechou as portas neste período de pandemia.

“As exigências para a reabertura impostas aos shoppings são muito maiores que as atribuídas ao comércio de rua. Por isso, os investimentos que fizemos não foram poucos. Ainda assim, acreditamos que valerá a pena abrir. Já estamos preparados para voltar a funcionar”, destacou a presidente da associação.

Guarus Plaza

Já a administração do Guarus Plaza Shopping, destacou que as medidas de prevenção ao coronavírus já foram adotadas. O empreendimento está preparado para reabrir, atendendo as orientações da Associação Nacional dos Shoppings e Ministério da Saúde.

“Já realizamos um trabalho de higienização em todo o shopping. Também já colocamos adesivos em locais estratégicos para orientar os nossos clientes, dicas como o distanciamento recomendado, uso de máscara e higienização das mãos, entre outras medidas” afirmou o empresário Joilson Barcelos, proprietário do Guarus Plaza.

Shoppings | Empresários na expectativa pela reabertura ao público

Boulevard

O Boulevard Shopping é o maior de Campos, com cerca de 200 empreendimentos, informou, por meio de nota, que vem implementando uma série de medidas de suporte ao varejo – como isenção na cobrança do aluguel e do fundo de promoção, além de descontos progressivos nas taxas condominiais. A assessoria do shopping informou ainda que não registrou impacto relevante em rescisões contratuais.

“O empreendimento permanecerá temporariamente fechado, até que seu funcionamento seja liberado pelos órgãos competentes. O shopping está se preparando para o momento de retomada de suas atividades, adotando um rigoroso protocolo para garantir uma operação zelosa, segura e adequada, de forma a preservar o bem-estar de todos”, informou trecho da nota.

Avenida 28

O CEO da MetroMalls, Talles Barreto, que administra o Shopping Avenida 28 disse, que o empreendimento já está preparado para receber clientes e lojistas e que o local já dispõe de todas as medidas de segurança exigidas pelas autoridades de saúde. “Tivemos, sim, lojas que encerraram atividades devido à crise sanitária/financeira, mais especificamente três lojas das 144 que possuímos, porém, mesmo em meio à crise, estamos com duas novas lojas a inaugurarem em breve”, ressaltou.

Talles acreditam que valerá a pena manter as lojas abertas mesmo com tantas restrições. “Faremos esse processo com muita segurança, temos hoje muitos lojistas que precisam de fato reabrir para honrar seus compromissos financeiros com fornecedores. Entendemos que as restrições impostas nos fizeram repensar nossos processos, estamos muito mais criteriosos no acesso e controle do fluxo, priorizaremos qualidade a quantidade, queremos acima de tudo, antes de nos preocuparmos com venda, estarmos convictos que todos voltarão a viver essa experiência mágica de ir ao Shopping, porém de forma segura.

CDL vê crescimento de vendas com cautela

Para a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, foi notório o aumento de 15% nas vendas após a flexibilização maior para o funcionamento do comércio. Porém, ainda não é possível afirmar que esse índice permanecerá. Segundo o presidente José Francisco Rodrigues, como o comércio estava com o funcionamento interrompido há cerca de 100 dias, houve uma demanda reprimida da população – o que pode ter causado esse aumento nas vendas nesta reabertura.

A CDL estima que muitos não vão reabrir. “Estes números ainda estão sendo compilados. Na CDL temos 1.200 associados, mas Campos tem mais de 4 mil comércios. E essa estimativa de 20 a 25% abrange todo o comércio”.

E para os empreendimentos que reabriram, o presidente da CDL garante que está valendo a pena, mesmo com tantas restrições impostas em prol da diminuição dos casos de coronavírus. “A maioria dos clientes gosta do contato presencial, gosta de ir às lojas. Então está havendo essa procura. Apesar disso, um ponto a ser destacado é que o delivery tem aumentado muito e acredito que vai se sustentar. É um contexto novo para todo mundo”, ponderou José Francisco.

Assim como a CDL, a Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic) destaca a necessidade da reabertura do comércio como um todo. A entidade tem 700 associados em média e relatou o fechamento de várias lojas. Porém, também ainda não há um número ou porcentagem de fechamentos.
“Os comerciantes necessitam que suas lojas estejam abertas, pois mesmo com as restrições, somente o delivery não é o suficiente. O retorno gradativo se faz necessário e nós esperamos que todos possam colaborar mais seguindo os protocolos. Caso isso não ocorra, o comércio volta a fechar e outros segmentos também seriam comprometidos, o que causaria o aumento do caos, principalmente com mais desemprego”, afirmou Leonardo Castro de Abreu, presidente da ACIC.