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Boicote aos motoqueiros barulhentos

Não contratar motoboys com motos irregulares tem sido alternativa diante da falha de fiscalização

Campos
Por Redação
12 de julho de 2020 - 0h01

Desrespeito| Má conduta dos motociclistas foi denunciada na edição 193

Por Girlane Rodrigues e Ulli Marques

Desde que o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, proibiu, em 2019, a Polícia Militar de multar e apreender veículos por irregularidades administrativas e de trânsito e atribuir a função exclusivamente ao Detran, está mais visível a quantidade de motocicletas circulando pelas ruas de Campos fora da lei. Essa imprudência e desrespeito foi tema da reportagem especial da última edição do Jornal Terceira Via. Visto a precária fiscalização, nas redes sociais, os leitores atentaram para a responsabilidade dos comerciantes que, segundo eles, deveriam assumir essa postura “fiscalizatória” e não contratarem, por exemplo, serviços de motoboy barulhentos para executarem a entrega domiciliar (delivery).

O que dizem os empresários?

A equipe de reportagem decidiu ouvir os comerciantes e empresários e questioná-los sobre suas responsabilidades diante dessas ”bandalhas” cometidas, muitas vezes, durante a entrega de seus produtos. O serviço delivery tornou-se essencial durante a pandemia, principalmente para entrega de refeições. E foi nesse período que o barulho da descarga de motor tornou-se ainda mais frequente e incômodo.

Breno| responsabiliza empresários

Há mais de 10 anos prestando serviço de entrega domiciliar em seus restaurantes, o empresário Breno Romano concorda que os proprietários dos estabelecimentos também são responsáveis pela má conduta dos entregadores. No caso dele, há uma empresa certificada que executa esse serviço. “Por meio dessa empresa, fazemos uma seleção prévia dos motoboys, de seus documentos e das motocicletas. O que percebo é que, durante a quarentena, muitas pessoas passaram a fazer ‘bico’ com entrega sem ter experiência ou habilitação para isso. E concordo: enquanto houver empresário contratando motociclistas imprudentes e desrespeitosos, o problema vai continuar”, comentou Breno.

O proprietário de um boteco na cidade, Michael Gonçalves, lembra que muitos motoboys utilizam esse “recurso” do “escapamento torbal” por segurança. ”Em Campos, os motoristas são muitos desatentos, não dão seta. Com esse torbal, o motorista percebe que um motociclista está se aproximando. Lógico que tem uns que usam pra ficar fazendo barulho nas ruas e em horário de madrugada e isso eu já acho errado”, declarou ele que, apesar de entendê-los, garantiu não contratar motociclistas que utilizam esse escapamento esportivo.

Michael | entende os motociclistas

Sobre essa prática, nem Polícia Rodoviária Federal, nem Breno concordam. Segundo Breno, a atenção tem que partir dos próprios motociclistas. “Afinal, são eles quem cometem os deslizes, entram na contramão, avançam o sinal… Eles têm que respeitar as leis de trânsito, porque é isso que vai lhes garantir a segurança”, afirmou. Já Iuri Guerra, assessor de comunicação da PRF, disse que uma possível falha de motoristas de carro não justifica falhas cometidas por motoqueiros.

Outra empresária, Letícia Mignot, também disse que toma alguns cuidados quando vai contratar um motoboy para entregar as comidas árabes que faz. “Minha primeira análise é sobre o perfil da pessoa a fim de entender como será o trato desse entregador com o cliente. Mas agora, depois de ouvir pessoas reclamando dos barulhos das motocicletas, passei a perguntar e verificar se o veículo tem esse torbal”, disse ela, que usa o aplicativo “Bee” para contratar os motociclistas. Esse aplicativo exige documentação pessoal e da motocicleta e faz uma triagem desses prestadores de serviço que são, posteriormente, contratados pelos estabelecimentos.

Letícia| contrata motoboys por app

A proprietária de uma padaria tradicional da cidade, Solange Lázaro de Sant’Anna, passou a contratar motoboys terceirizados durante a quarentena. Antes, as entregas eram feitas pelos próprios funcionários, com veículos (carro e moto) da empresa. Mas a seleção desses motociclistas segue a exigência da seleção dos demais colaboradores. “A entrega é a finalização de nosso atendimento e todas as etapas devem ter excelência… Sabemos dos problemas em relação aos entregadores e essas motos alteradas e somos contra essa conduta. Concordamos com os leitores do Terceira Via: o empresário, seja de qual ramo for, que contrata motoboys imprudentes tem que ser responsabilizado, sim”, finalizou.

E a fiscalização?

Até o final de 2018, a Polícia Militar apreendias motos irregulares. Eram pelo menos três grandes operações por semana. Os PMs posicionavam-se em pontos estratégicos e abordavam as motos. O trabalho causou uma sensação de segurança, pois além das irregularidades de trânsito, os policiais evitavam práticas criminosas, como transporte de arma e droga.

Em nota, o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran) informou que as operações estão suspensas em razão da pandemia. “Por determinação do plano de contingenciamento para o combate à covid-19, as operações estão suspensas para evitar aglomerações e avanço da doença. O departamento vem retomando atividades de forma responsável, seguindo as determinações das autoridades sanitárias. Nossa rotina foi adaptada para proteger a vida de funcionários, colaboradores e usuários do departamento”, informou o órgão.

O Detran, no entanto, não informou detalhes de como pretende agir nas ruas da região após a pandemia.