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Opinião | O caçador de pipas

O cerol tornou a linha da pipa uma arma, capaz de degolar pessoas

Editorial
Por Editorial
21 de junho de 2020 - 8h16

(Fotos: Silvana Rust/Arquivo)

Desde sempre, pipas fazem parte da infância, principalmente dos meninos. É uma brincadeira lúdica, que colore os céus, até que os fios de energia elétrica começaram a ser estendidos pela cidade. Ao mesmo tempo, inventaram o cerol, tornando a linha da pipa uma arma, capaz de degolar pessoas.

Tão lúdica que as crianças aprendem que pipa “avoa”, palavra que consta no glossário desta brincadeira. A expressão “pipa solta” é gíria da moda, para definir pessoa livre, mas na verdade pipa solta refere-se a pipa que foi “cortada” no chamado cruzamento, o embate entre dois pipeiros que com habilidades nas mãos, fazem em terra esse duelo no ar.

Fato é que pipa é uma brincadeira entre crianças dos sete aos 17 anos, mas hoje homem feitos, alguns de até 40 anos, se distraem com a atividade e passam para as crianças a mazela do cerol e a competitividade entre eles.

O escritor afegão Khaled Hosseini, emplacou um clássico na literatura contemporânea mundial, com o livro “O caçador de pipas”. Quem o leu sabe que Hosseini elevou a venda do teu livro às nuvens, exatamente por escrever sobre um tema universal, afinal pipas são sonhos e sobre isso ele tratou.

A urbanidade com a chegada da rede elétrica acabou transformando pipas em algo perigoso. Neste sentido, é preciso reeducar as crianças, definindo lugares onde possam brincar livres do perigo dos fios energizados, assim como combater essa prática do cerol, cujo nome é dado até a grupos de extermínio tamanha potencialidade de ferir e matar.

Assim como aconteceu com os até então inofensivos, hoje proibidos balões de São João, que são lindos no céu, mas que quando caem podem provocar tragédias de grandes proporções. Hoje em Campos, nesta época do ano empresas contratam vigilantes noturnos para mirar o céu e com uma vara, impedir que o balão caia sobre ela. Assim como motociclistas, vítimas preferenciais das linhas de cerol, usam uma antena para impedir a degola.

Não queremos ser caçadores das pipas das crianças. Queremos que elas possam ludicamente brincar, pois mesmo em tempos de drones, a pipa continua fazendo sucesso nas mãos das crianças de todas as classes.