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Um legado de pai para filho

Após morte de Gil Vianna por covid-19, Bruno, de 23 anos, é sucessor no comando do PSL regional

Campos
Por Marcos Curvello
15 de junho de 2020 - 6h00

Decisão | Jogador de futebol profissional, Bruno já vinha discutindo com o pai possibilidade de candidatura à Câmara de Vereadores de Campos. (Foto: Carlos Grevi)

Assumir o diretório regional do Partido Social Liberal (PSL) foi uma experiência agridoce para Bruno Vianna, de 23 anos. O jovem jogador de futebol e pré-candidato a vereador foi apontado pelo presidente da representação estadual da legenda, o deputado federal Sargento Gurgel, comandante da sigla em Campos e outros quatro municípios: Quissamã, São Fidélis, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana. Estreante na política, ele chama a escolha de “oportunidade” e “responsabilidade”, mas sua chegada é consequência direta de uma perda pessoal: Bruno sucede o pai, o deputado estadual Gil Vianna, morto no dia 19 de maio, vítima do novo coronavírus.

Bruno conta que o convite para presidir o diretório do PSL surgiu como uma oportunidade de dar “seguimento” ao trabalho que vinha sendo feito na região. “Após o falecimento do meu pai, ficou esse espaço vago. Na semana seguinte, fui ao Rio e tive a oportunidade de conversar com o Sargento Gurgel. Ele foi muito cortês comigo e me deu essa oportunidade, essa honra”, revela.

O anúncio foi feito no dia 26 daquele mesmo mês. Desde então, Bruno vem cumprindo agendas políticas e conhecendo a estrutura do partido na região. “É uma responsabilidade grande, até por causa do tamanho do PSL no cenário político nacional. Campos, talvez seja a maior responsabilidade de todas. Mas, temos, também, os outros municípios. Já conversei com a maioria deles e está tudo bem encaminhado”, fala. “Por conta de a janela partidária já ter se fechado e de todo o suporte anterior que meu pai recebeu, ficou mais fácil trabalhar.”

“Sonho nosso”

Segundo Bruno, porém, sua entrada na política não foi uma decisão repentina. O projeto vinha sendo maturado com o pai nos últimos seis meses. “Era um sonho nosso, sobre o qual conversávamos há algum tempo. Sempre falava com meu pai que queria a oportunidade de representar à população e a ele na Câmara de Campos. Até por conta de pessoas que contavam com ele e que, por conta de estar na Alerj, não conseguia atender 100% aqui na cidade”, diz o jovem, recordando a base eleitoral de Gil, que cumpriu dois mandatos como vereador no município, entre 2008 e 2016.

Contudo, a escolha de refazer os passos do pai, sempre presente em seu discurso, não foi fácil. “Após a morte dele, isso se tornou uma questão para mim. Dar continuidade a um legado, às vezes, pode parecer fácil, mas não é. Convivo com a lembrança diária de meu pai. Onde ando, as pessoas se lembram dele. A comparação é constante; e me honra muito. Mas, ao mesmo tempo, representa uma responsabilidade”.

Exemplo | Gil Vianna é citado pelo filho como modelo a ser seguido. (Foto: Divulgação/Alerj)

Perfil conciliador

Embora se descreva como um “conservador”, Bruno rejeita, para si e para Gil, o rótulo de radical e se diz pronto para dialogar com diferentes setores da sociedade. “Meu pai nunca foi um extremista. Quem convivia com ele, sabe que era um conciliador. E a linha que pretendo seguir, que enxergo como forma mais inteligente de se fazer algo, é você tentar escutar”, confidencia.

Embora se reconheça como herdeiro político de uma família com tradição nos bastidores do Poder regional, Bruno acredita que é capaz de unir velhas e novas ideias. “Enxergo isso como uma junção dessa experiência familiar com novos pensamentos. Ouço muito na rua que jovem não decide eleição, que jovem não participa. Mas, sempre digo que se um jovem se engajar na política, ele vai fazer grande diferença”.

Além de Bruno, Gil Vianna teve mais um filho e duas filhas. A primogênita, Gabriela, morreu em 2010, aos 19 anos. Ela tinha necessidades especiais, o que levou o pai a entrar para a política e assumir a causa das pessoas com deficiências, que defendeu também na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), onde atuou como suplente, entre 2017 e 2018, e como vereador eleito, de 2019 até sua morte. Uma bandeira que o jovem garante que irá manter. “Essa era uma luta prioritária do meu pai e, se eu vou seguir o legado dele, também preciso dar prioridade às pessoas com deficiência”, revela.

Polêmicas

Na confluência entre velho e novo, Bruno promete candidaturas “humanas” e afirma que a política na esfera Municipal afasta o PSL de polêmicas recentes envolvendo a legenda, que chegou ao poder, em 2018, inflada pelo discurso de combate a práticas demeritórias de antigos caciques, mas já se viu envolvida em denúncias de candidaturas laranjas e prática de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, que deixou a sigla.

“Dentro do PSL, temos pensamentos diferentes, como em qualquer legenda. E isso é especialmente verdade na esfera Municipal, em que, muitas vezes, a questão ideológica fica em segundo plano nas escolhas de com quem se vai caminhar. Meu pai escolheu a dedo as pessoas que estão no partido hoje. Sem considerar a questão política, mas no aspecto humano. São pessoas boas, nas quais ele confiava. Então, posso dizer que estou seguro que não teremos problemas”, garante.

Coronavírus

A morte repentina de Gil Vianna, aos 54 anos, após oito dias de internação em um hospital particular de Campos, é uma lembrança que Bruno carregará para sempre. Com a pandemia aparentemente longe do fim, se posiciona a favor do isolamento social.
“Compreendo quem precisa sair, compreendo quem quer ficar em casa. Mas, hoje, não posso falar que concordo com quem deseja quebrar o distanciamento social. Saber que você perdeu um pai saudável, que praticava esportes, para um vírus, é algo que te marca para o resto da vida”, encerra.