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Setor gastronômico em crise

Restaurantes da cidade demitem funcionários e suspendem contratos numa tentativa de sobrevivência

Geral
Por Marcos Curvello
8 de junho de 2020 - 0h01

Breno Romano | Montou cardápios compactos e reduziu equipe

Alguns dos negócios mais impactados economicamente pela pandemia do novo coronavírus, bares e restaurantes de todo o país vêm apostando em gestão rigorosa para se manterem viáveis durante os já quase três meses de isolamento. Em Campos, estabelecimentos precisaram rescindir e suspender contratos de trabalho como parte de estratégias mais amplas de sobrevivência. As demissões atingem, em média, 20% dos funcionários, enquanto as suspensões podem chegar até a totalidade dos trabalhadores.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima que um quinto das empresas do setor não reabrirão. Para evitar o fechamento permanente, empresários campistas se debruçam sobre as contas e redimensionam negócios e se reposicionam no mercado para absorverem a redução da demanda e se adaptarem às particularidades de serviços não presenciais, como delivery e take away.

Breno Romano de Almeida é proprietário dos restaurantes Speciale e Romano. Ele conta que montou cardápios compactos para entrega em domicílio, reduziu a equipe de trabalho e concentrou as atividades de ambos os estabelecimentos em um único local para reduzir custos de operação. No processo, deixou de efetivar 10 funcionários que cumpriam contrato de experiência. Dos 34 que permaneceram, somente seis estão trabalhando com jornadas e salários reduzidos. Os contratos dos demais foram suspensos de acordo com a Medida Provisória (MP) 936/2020.

“Esses seis estão trabalhando de acordo com a MP, com carga horária reduzida em 70%. Todos os demais, estão com suspensão de 100%. Estamos no segundo mês. Vamos entrar no terceiro, quando todos eles vão entrar com carga horária reduzida de 70%”, diz Breno, que também é dono do Empório Romano, que optou por manter fechado durante a vigência das medidas de isolamento.

Movimento e retorno O impacto, avalia Breno, é “gigantesco”. “Nesse setor, necessitamos dessa demanda presencial, além do delivery. Porque é no atendimento, no estabelecimento, que se consegue agregar valor ao ticket médio, vendendo uma entrada, uma água, um vinho, um café, uma sobremesa etc. Quando o cliente pede entrega, ele geralmente quer apenas a pizza ou o prato. Então, o faturamento cai bastante. Se ele gastaria R$ 300 no restaurante, vai gastar R$ 60 ou R$ 70”, calcula.

Marcelo Azevedo | Demitiu 20% dos funcionários e suspendeu contratos

Para o empresário Marcelo Azevedo, o movimento de bares e restaurantes permanece fraco e há pouca “perspectiva de crescimento” para o setor enquanto perdurar a pandemia do novo coronavírus. Proprietário dos restaurantes Sagritos, Antônio e Mexicano, ele não revela o tamanho de sua equipe, mas afirma que precisou demitir 20% dos seus funcionários e que mantém somente metade dos contratados em atividade.

“Desde que começou a pandemia, tive que demitir uma parte dos funcionários, porque fiquei com o funcionamento bem restrito. Demiti 20% dos funcionários, suspendi os contratos de outros 30% e mantive os demais 50% trabalhando”, explica.

Quem não demitiu, pode ter que fazê-lo

Proprietária do Dom, a empresária Eliana Araújo optou por uma estratégia diferente. Assim que as medidas de isolamento social foram anunciadas, ela decidiu suspender as atividades no restaurante e deu férias coletivas aos seus 20 funcionários. Com a renovação dos decretos municipais que mantém fechado o comércio de Campos, ela recorreu à MP e suspendeu os contratos de trabalho de toda a equipe.

“Inicialmente, ainda sem entendermos exatamente o que iria acontecer e quanto tempo durariam as medidas de isolamento social, sendo muito otimistas e achando que seria uma coisa rápida, demos férias, pois precisávamos fechar as casas para atender ao decreto. Quando saiu a MP, suspendemos os contratos de trabalho do pessoal por dois meses. É o que nos dá uma estabilidade nesses 60 dias”, revela.

Embora ainda não tenha dispensado ninguém, Eliana reconhece o impacto do gasto com pessoal sobre seu custo operacional e teme precisar rescindir contratos de trabalho em breve. “Atualmente, nossa maior despesa é com a folha de pagamentos. Até agora, não demiti ninguém, mas estou acreditando que, em um futuro bem próximo, eu tenha que fazê-lo”.

Retomada restrita

De forma geral, empresários tratam com cautela a possibilidade de reabertura de bares e restaurantes e dizem que uma recuperação depende das restrições que serão impostas pelo Poder Público e da forma como os clientes vão se comportar no pós-pandemia, já que o setor sobrevive de atividades essencialmente sociais.

“Acho que o ramo vai demorar muito a voltar à normalidade. Acredito que será um dos últimos, para que os frequentadores tenham segurança. E ainda vamos ter que lidar com uma série de limitações na ocupação e no horário de funcionamento. Vai ser um período bem difícil”, prevê Marcelo.

Breno e Eliana afirmam que os restaurantes devem ter a operação presencial reduzida a um terço da capacidade normal e demonstram preocupação em como manter os negócios funcionando com um fluxo de caixa que encolherá proporcionalmente.

“Pelo que estamos vendo do desenho dessa retomada, haverá restrições a 30% da capacidade de lotação. Então, como absorver todos encargos e custos operacionais fixos com o máximo de faturamento de 30%, mais o delivery? Teremos que viver para ver”, reflete Breno.

“Se eu tenho nove mesas, só vou poder trabalhar com três”, ilustra Eliana. “Aí você entende que, a princípio, isso é um fato. Você vai ter seu faturamento reduzido a 30% e terá que adequar as despesas na mesma medida”.

A empresária qualifica a reabertura como uma “incógnita” e vê os clientes potencialmente divididos entre o temor de sair de casa e o desejo de retomar uma rotina de normalidade em suas vidas.

“As pessoas ficam receosas, a mídia tem apavorado as pessoas. É uma incógnita. Por outro lado, quando a gente vê os países que estão reabrindo, parece que as pessoas estão bem loucas para sair de casa, querendo voltar à vida normal. Não sei se, em função de não ter esse terrorismo todo lá fora, as pessoas estão com vontade de sair”, opina.

Novo normal

Entre as expectativas e incertezas de uma abertura, resta aos empresários a certeza de que as coisas serão diferentes, no que já é chamado de “novo normal”.

“Tomaremos todos os cuidados de higiene e segurança alimentar, que já são preocupações nossas. E temos uma grande área aberta, que vamos aproveitar bastante. Estamos ansiosos para voltar a encontrar pessoas e ver a cidade com aquela alegria, bares e restaurantes cheios, todo mundo confraternizando e feliz”, antecipa.

Breno concorda: “Seguiremos as diretrizes dos órgãos de saúde e da Prefeitura, vamos adequar as mesas ao distanciamento, manter o álcool 70% em espuma e sabonetes bactericidas e bacteriológicos, que já tínhamos antes da pandemia. E vamos esperar que seja positivo, que as pessoas saiam e consumam, que exista uma demanda reprimida de todos esses meses. Até para que a gente não precise demitir funcionários, pois esse nunca é o intuito do empregador, contratar para demitir. A gente sempre contrata para expandir, para crescer, para melhorar”, encerra.