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Fake news afetam campistas

Mentiras espalhadas em redes sociais causam estrago e advogada orienta sobre direitos

Campos
Por Redação
7 de junho de 2020 - 0h01

Esio Paravidino | foi acusado falsamente de estar trabalhando com covid-19

Foi em 2016 que o termo “Fake News” ganhou força e até hoje muitas pessoas ainda compartilham as notícias falsas em redes sociais. Com grande poder de alcance, esse conteúdo muitas vezes é espalhado por muitos que agem de má fé ou até mesmo por quem não têm consciência da gravidade do ato de espalhar uma mentira e dos impactos que isso pode causar para as vítimas

Em Campos, o cantor Dom Américo, que morreu no dia 25 de maio, teve a morte anunciada dias antes por meio destas fake news. E não para por aí, o dono de um supermercado, um idoso de 70 anos, viu as vendas caírem por três dias após pessoas divulgarem nas redes sociais que ele, um funcionário e familiares estariam trabalhando mesmo com Covid-19. Outro caso, também relacionado ao novo coronavírus aconteceu quando pessoas repassaram uma mensagem falsa afirmando que todos os clientes da padaria Pontual poderiam estar infectados pelo novo coronavírus.

“Nossa maior preocupação com a notícia falsa é o que poderia acarretar em relação à credibilidade que temos. Nós fomos para as mídias desmentir o caso e também ganhamos espaço na imprensa, então a situação foi revertida e recebemos muito apoio das pessoas”, contou a empresária Solange Sant’Anna, da padaria Pontual.

O comerciante Esio Paravidino, de 70 anos, também foi vítima destas notícias falsas. No caso dele, que é dono do supermercado Paravidino, no bairro IPS, o impacto foi maior. Ele, um funcionário e familiares foram acusados nas redes sociais de estarem trabalhando mesmo infectados com coronavírus. Até imagens do supermercado foram feitas e expostas em vídeos nas redes sociais. Mesmo o empresário dizendo que não estava com a doença, as pessoas deixaram de frequentar o supermercado e ele precisou fazer e mostrar um exame com resultado negativo para a Covid-19 para provar que estava falando a verdade.

“Cuido do supermercado desde a década de 60 e nunca havíamos passado por isso. No início, eu levei até na brincadeira, mas depois eu vi que o assunto ficou sério. Filmaram o supermercado e falaram para outras pessoas não virem aqui, falaram que eu estava doente e fingindo que estava saudável. Os fregueses ficaram com medo e nos primeiros dias nosso movimento caiu muito”, lamentou o idoso.

Com a grande repercussão do caso, ele e o filho se viram obrigados a fazer o exame para provar que não estavam infectados pelo novo coronavírus. “Agora que provamos que não estamos com a doença, tudo voltou à normalidade. Muitas pessoas nos ajudaram divulgando os resultados dos nossos exames. Ainda não fomos à delegacia, mas meu filho está em conversa com o advogado para analisar como agir”, explicou.

Advogada | Maria Elisabete de Castro

Quando é crime?

Segundo a advogada Maria Elisabete de Castro José, conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Campos, a disseminação de notícias falsas pode ou não configurar crime, o que varia de acordo com o conteúdo disseminado. Ainda assim, quando não constituir crime, o autor ou quem espalha pode ser responsabilizado de Fake news afetam campistas forma civil ou administrativa.

“É considerada ofensa quando o autor atribui à vítima a autoria de um crime sabendo que a vítima é inocente; um fato que ofenda a reputação ou a boa fama da vítima no meio social em que ela vive (mesmo se o fato for verdadeiro); qualificações negativas ou defeitos da vítima. Os tipos de ofensas mais comuns postados na internet e que possuem amparo no Código Penal são ameaça, calúnia, difamação, injúria e falsa identidade”, explicou.

Ainda segundo a advogada, em caso de sofrer ataques de fake news, a vítima, antes de tomar alguma atitude, deve ter o entendimento de qual tipo de ofensa corresponde ao conteúdo compartilhado. “Comentários grosseiros, posts contrários a determinadas opiniões, embora possam causar indignação, podem não ser entendidos pelas autoridades como passíveis de alguma ação prevista na lei”, concluiu.

O que é preciso para denunciar

Na hora de fazer uma denúncia é importante que a vítima reúna todo o tipo de provas que tiver. É recomendável salvar os links das páginas, imprimir as postagens e, se possível, salvar uma cópia da tela, pois o conteúdo pode ser removido pelo autor.

“Após reunir todo o material que comprove as ofensas, é preciso apresentar e registrar um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. É preciso identificar onde o conteúdo está publicado e, se for possível, entrar em contato com o provedor do conteúdo e solicitar a remoção da publicação ofensiva, por meio de carta de solicitação”, explicou.

Além das responsabilidades civis e administrativas, podem ser responsabilizados criminalmente tanto quem divulga como quem compartilha a notícia falsa sem checar a fonte.

Regulamentação de redes sociais contra fake news

Uma pesquisa feita pelo Ibope, por telefone, no final de maio, apontou que 90% dos eleitores brasileiros apoiam a regulamentação de redes sociais para combater as ‘fake news’. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. Foram entrevistadas cerca de mil pessoas com mais de 16 anos de idade, em todos os estados e no Distrito Federal.

A pesquisa aponta ainda que 76% dos entrevistados dizem estar muito preocupados ou um pouco preocupados com relação a notícias falsas e desinformação na internet e em redes sociais.