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Presidente da CDL, José Francisco Rodrigues, afirma que 15% do comércio pode acabar

Empresário assumiu a presidência da entidade em meio à crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus

Entrevista
Por Aloysio Balbi
3 de junho de 2020 - 14h45

José Francisco Rodrigues (Foto: Carlos Grevi)

O empresário José Francisco Rodrigues assumiu a presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos. Assume a entidade que representa o comércio e a sociedade organizada, em meio à maior crise já vista na economia por causa do novo coronavírus. Nesta entrevista, José Francisco fala exatamente sobre a crise, afirmando que o mundo vai ter que se reinventar. Sobre as críticas que a CDL tem recebido no sentido de que poderia fazer mais para que o comércio fosse reaberto, José Francisco diz que a entidade foi ao limite e que a decisão do bloqueio é de responsabilidade dos gestores públicos, seguindo as orientações da área de saúde.

Admitiu que o comércio é o setor mais afetado e que 15% das pequenas empresas terão muita dificuldade para reabrir. O presidente da CDL diz que neste momento a entidade trabalha na elaboração de mais argumentos para a reabertura do comércio e também para os novos tempos que vão exigir mudanças depois da pandemia. Adiantou por exemplo que a entidade está preparando um portal inteligente para que todas as lojas e também serviços possam atender o consumidor de forma remota, ou seja, on-line.

Segundo ele, essa será uma ferramenta de extrema utilidade quando a crise passar e os setores da economia forem retomados. Sobre a saúde financeira do município que perde royalties, José Francisco afirma que os futuros gestores terão que ter disciplina fiscal e trabalhar dentro de um orçamento real, prevendo dificuldades, já que o contribuinte não pode arcar com mais cargas tributárias. Termina com otimismo afirmando que tudo vai passar e que viveremos dias melhores em breve.

Como o senhor avalia esses quase três meses de crise, onde visivelmente o comércio, no âmbito da economia, é o mais afetado pela pandemia?

O comércio está sofrendo o que nunca sofreu, aqui no Brasil e no mundo todo nesta era moderna. Temos que lembrar que é o setor que mais emprega e que mais sofre no momento. Os pequenos comerciantes são os mais afetados. Os empregados sofrem igualmente com muitas inevitáveis, infelizmente, demissões.

Em percentuais, em termos de postos de trabalho, quanto perdemos em Campos?

Mais de 50% da força de trabalho do comércio de Campos está afastada em níveis diferentes. São muitas as demissões, são muitos os acordos para redução de salário com complemento do governo e há uma parcela atuando no padrão home office.

A CDL tem recebido muitas críticas de que poderia ter feito mais pressão para evitar o fechamento das lojas. Como o senhor vê isso?

A CDL fez no curso desta pandemia tudo que poderia ser feito, mas observando as orientações das autoridades sanitárias. Não foi Campos que criou isso, nem o prefeito. Isso aconteceu em todo mundo. Algumas cidades fecharam mais, outras menos. É muito difícil a CDL intervir nesse momento, porque temos que reconhecer que o isolamento social foi necessário e parte da população não colaborou muito. A CDL é integralmente preocupada com o setor e todos, no fundo, sabem disso. Estamos lutando pela flexibilização. De uma maneira ou de outra sobram críticas para todos os lados. Rebatemos algumas e respeitamos outras. Fizemos todo o possível, é o que posso dizer, e estamos preparando novas propostas para pedir a flexibilização.

Quando o prefeito decretou lockdown, você declarou em uma entrevista que esse era um assunto mais ligado a área médica e seus gestores. Mantém essa posição?

Acho que hoje o lockdown, neste momento, já não é mais necessário. Podemos flexibilizar. Acho que chegou a hora disso, depois de uma semana de bloqueio e pelo que soube a Prumo, via Porto do Açu, recuperou mais 12 respiradores de unidades de Campos que estavam com defeito, o que irá permitir que o sistema desafogue um pouco. Assim, acho que chegou a hora de flexibilizar, pois o comércio precisa respirar. Ao mesmo tempo em que temos que fazer o isolamento social para proteger as pessoas, também temos que proteger a nossa economia. Temos sugestões para dar neste momento e elas poderiam ser acatadas ou não. O grande problema é que tudo aconteceu de repente, tudo é muito novo e ninguém tem uma receita de bolo pronta para enfrentar isso no momento. Temos que ir calibrando dia a dia, mas defendo, como sempre defendi, os interesses da economia e acho que a classe empresarial deve ser ouvida sobre cada decisão que a afeta.

O senhor tem uma ideia da extensão das sequelas desta pandemia na economia de Campos? Em percentuais, quantas empresas teriam muita dificuldade para reabrir suas portas?

Mais de 15% das empresas de Campos terão muitas, mas muitas dificuldades mesmo em retomar à normalidade. Não quero fazer um exercício de pessimismo, embora a situação seja gravíssima. É na pós pandemia que a CDL, com toda certeza, vai ter uma atuação muito firme para cobrar projetos que ajudem as empresas. Já estamos trabalhando nisso.

CDL Campos (Foto: Carlos Grevi)

Essa epidemia nunca vivida no mundo moderno, parece que vai prejudicar bem Campos. Se juntarmos seus efeitos com quedas de royalties do petróleo, por exemplo, parece ser o que os americanos chamam de tempestade perfeita. O senhor concorda?

Concordo que vai ser difícil com a soma desses dois fatores, mas precisamos nos reinventar. Reinventar nossas empresas. Campos, o Brasil e o mundo vão mudar. Desaparecerão muitas oportunidades e outras vão surgir. Estamos idealizando na CDL uma plataforma inteligente para seus associados aportarem efetuando vendas online dando visibilidade as suas empresas. Com a queda ou a perda dos royalties, os gestores do município terão que gerir um orçamento real, com a chamada receita própria e não poderão carregar nos impostos porque a população e os segmentos produtivos não poderão pagar toda essa conta. Esses gestores vão precisar de disciplina fiscal.

A CDL, no primeiro momento da crise, criou um cadastro de delivery para seus associados e o comércio em geral em seu site. O resultado foi satisfatório?

Muito. Temos quase 400 empresas neste cadastro de delivery e foi uma ideia criativa. Uma ferramenta importante dentro da urgência. A plataforma será algo bem mais avançada, o prenúncio de que estaremos mesmo nos reinventando. Pode ter certeza de que essa plataforma vai ser o início de muitas mudanças e outras virão a reboque, não tenha a menor dúvida disso.

Como presidente da CDL e também cidadão, o senhor concorda que essa pandemia mostrou a fragilidade do sistema público de saúde?

O sistema SUS, assim como todos os demais, nem aqui nem no mundo, estavam preparados para enfrentar essa tragédia. Ninguém estava. Os gestores públicos em geral não tiveram preocupação com o setor. Uma política de saúde equivocada nos últimos tempos. A CPMF que foi criada para a Saúde, um imposto a mais, teve o dinheiro desviado para outras finalidades.

O que seria uma política equivocada?

Primeiramente não sou médico, mas tenho experiência em gestão. Agora mesmo estamos cometendo um equívoco. O governo estadual está montando um hospital de campanha em Campos que já deveria estar funcionando e agora a inauguração foi adiada para 12 de junho. Em temos de economia, poderíamos montar esse hospital de campanha em dois andares da Santa Casa, por exemplo, e deixarmos isso como legado para Campos. Esse é um claro exemplo de equívoco.

Para fechar a reinvenção de tudo é mesmo o grande desafio?

Sem dúvida, o maior de todos os tempos desde a depressão dos anos 20, observando que essa tragédia é pior. Naquela, contamos prejuízos e nesta estamos contando mortos. Quando você falou de royalties, quero frisar aqui a importância que o Porto do Açu terá para a região nesta reinvenção da atividade econômica. Teremos que ser disciplinados, criativos e unidos. Pode melhorar, mas ainda viveremos, se Deus quiser, dias melhores.