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Nascido para dançar

José Fernando Rodrigues planeja livro e usa a dança para superar depressão e preconceitos

Cultura
Por Ocinei Trindade
30 de maio de 2020 - 7h00

Historiador e dançarino, José Fernando Rodrigues com bailarinos (Fotos:Carlos Grevi)

O historiador e bailarino José Fernando Rodrigues é autor do livro “As origens da modern dance”, publicado pela Editora Annablume em 2007, 2009 e 2012. Após o período de isolamento social por conta do novo coronavírus, um relançamento da obra está sendo planejado. O profissional reúne também um farto material sobre o ensino e a prática da dança como forma de terapia e tratamento contra a depressão, doença que ele conheceu bem de perto nos últimos anos. Atualmente, dedica-se a palestras e instruções de dança pela internet.

Seu livro, que deve ser relançado em breve, discute o rompimento dos paradigmas estabelecidos pelo ballet  clássico  no início do século passado, nos EUA. “É um entendimento básico para um apaixonado por dança contemporânea brasileira. Pude conhecer, in loco, metodologias  várias: Graham,  Horton, A. Nicolai, e trazê-las para a contemporaneidade. Tenho escrito sobre dança e saúde mental/física, estudos de casos”, revela.

Capa de seu livro que deverá ser reeditado em breve (Reprodução)

Há 37 anos, José Fernando Rodrigues se divide entre o magistério e a dança. Aos 54 anos de idade, o bailarino e coreógrafo vive uma fase de recomeços e voluntariado. Ele tem participação em mais de 100 espetáculos. O artista não esconde seu entusiasmo pelas possibilidades do corpo. Desde 2018,  ensina dança gratuitamente a pacientes da Unidade Básica de Saúde do Parque Imperial  e a estudantes de pedagogia do Isepam.

José Fernando não abandonou o magistério, mas deixou para trás o excesso, quotas e  metas do setor privado, onde fez carreira. “Voltarei logo ao espaço público. Atualmente, trabalho voluntariamente com pacientes mentais da UBS e alunos do ISEPAM, além de dois estúdios privados e orientação de mestrado e doutorado. Optei por retribuir muito do que a dança me deu: disciplina,  equilíbrio, ainda que tênue entre saúde mental e  física, e um olhar  generosamente pautado  pela alteridade”, diz.

Depressão e dança

Houve um momento em que a depressão trouxe dificuldades ao bailarino. Após a perda da mãe, foi levado por uma amiga até a UBS, onde passou a ser acompanhado pela equipe do programa de saúde mental.  “Ofereci meu trabalho de dança, posteriormente, e, fui aceito.  Me esforço de forma espartana, todos os dias  para  ter saúde mental e física, além da vestimenta  básica: ser grato.  A palavra é ressignificar”, considera.

Depressão e preconceitos são abordados pelo dançarino contemporâneo

Antes mesmo dos problemas de saúde, José Fernando Rodrigues sempre encarou a dança como algo terapêutico.  “Ela cura, salva, devolve eixo e autoestima! Dança educa, regra, vivifica.   Sem usar a linguagem oral, a dança permite eixos generosos de conexão, fala , representatividade, estimula e distribui afetos. Falaram que  eu estava esquizofrênico, e se fosse?  Pratico dança de segunda à sexta. O suposto hobby é hoje razão de uma vida financeiramente menos estável, mas feliz”, afirma.

A UBS do Parque Imperial concentra atendimento para saúde mental  em Campos. Ali, o coreógrafo trabalha com jovens entre 15 e 30 anos.  “Sou um ” facilitador ” como aprendi com Gabriela Alvarenga, chefe da psicologia local”, destaca. No Isepam,  atua com  alunos entre 20 e 50 anos do curso de pedagogia. “São estudantes do ensino público, desprovidos de recursos financeiros. Eles se permitem aprender com a prática! Ali, também aprendo muito com a coordenadora do curso, Josete Soares”, elogia.

 

 

Volta aos palcos

O preconceito de homens na dança ainda existe, segundo José Fernando. “Às vezes, é segregação. Não podemos fingir para agradar um padrão  de  família ou sociedade. Quando  criança, quis fazer aula de piano. Ouvi de minha grande apoiadora, minha  mãe: “calma, vai  acontecer”. A música veio pela dança”, conta.

Além de auxiliar academias de dança, José Fernando é voluntário em várias instituições de Campos

José Fernando sente falta dos palcos, para onde pretende sempre voltar. Em 2019, fez três  apresentações no ginásio  do Isepam  com seus alunos. Este ano conta com duas turmas. “Fiz uma apresentação  na UBS do Imperial com Paola Rangel, minha aluna, anjo de  luz  em minha vida. Faremos mais depois da fase de pandemia do novo coronavírus”, planeja.

”É uma vasta vivência. Creio que não preferi a dança contemporânea.  Ela me escolheu. Aceito esse chamamento, cabe em mim. Danço desde os meus 17 anos. Amo o palco e ainda extrair o melhor das pessoas. Luz para todos, sem exceção. Dança tem que ser inclusiva”, finaliza.