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Enfermeira que se curou da Covid-19 faz relato emocionante

Rita Paes atua no Hospital Geral Dr. Beda, trata de vários pacientes, mas também precisou de acompanhamento médico

Tudo sobre coronavírus
Por Ocinei Trindade
13 de maio de 2020 - 14h41

Rita Paes é especialista em terapia intensiva e venceu o Covid-19 (Foto: Acervo Pessoal)

Na semana em que se comemora o Dia do Enfermeiro, Rita Paes tem vários motivos para celebrar. Especialista em terapia intensiva, ela é coordenadora da UTI do terceiro andar do Hospital Geral Dr. Beda, em Campos. Rita escreveu um depoimento comovente sobre como foi enfrentar a Covid-19, além de dar suporte a vários pacientes, como o aposentado Cláudio Martins, que também superou a doença, e que recebeu alta hospitalar na última segunda-feira (11). O Jornal Terceira Via publica na íntegra o texto assinado por Rita Paes que fala de sua rotina de enfermeira em meio à pandemia do novo coronavírus.

Vencemos a Covid-19

Quando tudo começou por aqui, encaramos reuniões, estatísticas, gráficos, palestras… e eu saía imaginando se estaríamos preparados profissional e psicologicamente para essa luta. A cada dia, era um novo enfrentamento, um novo protocolo, uma nova notícia, um novo sintoma, um novo paciente, tudo muito novo. Toda pessoa que chega precisando de cuidados, sempre é um ser único, ímpar, carregando uma história e entregando-se à sua fé, à ciência e também a cada um de nós, aos nossos cuidados profissionais, mas mesmo de forma não expressa, cuidados psicológicos, uma vez que, sob a máscara, sempre procuramos projetar esperança e humanidade aos que por nós passam.

E numa dessas situações, presenciamos algo que poderia ser destacado, quando a gravidade de um dos pacientes mais simpáticos, falantes e carismáticos começou a evoluir. Foi decidido, diante do quadro e conforme o protocolo, que seria necessária a sua intubação orotraqueal. Naquele momento, quando questionado se gostaria de dizer algo, ele pediu à equipe que alguém lesse uma carta que sua esposa havia escrito. Ninguém sabia da existência dessa correspondência e quando foi lida, conforme a sua vontade, foi impossível ficarmos indiferentes! Tamanha foi a emoção que todos os olhos, única parte visível de nós, encheram-se de lágrimas! Ele ainda acrescentou que caso não voltasse, gostaria que disséssemos à esposa que os melhores anos de sua vida foram os vividos junto a ela.

Após essa ocorrência, comecei, alguns dias depois, com sintomas da Covid-19. Afastei-me, fiz exames e veio o resultado mais temido: positivo! Passei a ser paciente! Senti na pele muito de tudo que presenciei no CTI. Tive de receber cuidados médicos, afastar-me de minha família, de meus amigos, de meu trabalho, de meus pacientes que tanto precisavam de meus cuidados. Confesso, não foi fácil. Tive medo também, como qualquer ser humano em situação semelhante.

Então, resolvi lembrar-me daqueles olhares sob as máscaras, daquela esperança que sempre tentamos irradiar para cada um deles quando nos olham. Resolvi que me cuidaria e sairia curada, pois muitos ainda precisavam de mim, de meus cuidados e daquele olhar. Então, quando tudo passou, olhei-me no espelho e falei para mim mesma: Venci a Covid-19! Voltei a trabalhar, e hoje veio a grande e maravilhosa notícia de que aquele paciente, o da carta, depois de ficar curado, recebeu alta e voltou para os braços de sua família e de sua querida esposa. Para nós, toda a equipe multidisciplinar, não há recompensa maior que essa; cuidar de alguém e saber que contribuímos com a recuperação de um paciente, que cuidamos e tocamos a vida do outro de forma tão especial. É nesse momento em que, mesmo em silêncio, e sem a necessidade de usar palavras, podemos dizer: Vencemos a Covid-19″.