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Campista vítima de coronavírus fala sobre impacto na saúde, medo de morrer e superação

Dentista de 49 anos conversou com exclusividade com o Jornal Terceira Via e relatou detalhes de como sofreu o impacto da doença

Saúde
Por Redação
30 de abril de 2020 - 19h39

Paciente recebe alta após tratamento hospitalar contra o coronavírus

Nesta semana, o vídeo da saída do hospital do paciente Gerson Figueiredo Júnior, de 49 anos, após tratamento hospitalar contra o coronavírus emocionou muitas pessoas dentro e fora do Hospital Dr. Beda. Foram oito dias de internação no isolamento do hospital e uma pneumonia severa causada pelo vírus. Já em casa, nesta quinta-feira (30), o dentista conversou por telefone com exclusividade a reportagem do Terceira Via e contou detalhes impressionantes sobre os impactos da Covid-19. Ele, que tem um histórico de atleta, pratica musculação, ciclismo, corrida e outros esportes, disse que chegou a pensar que não fosse vencer a doença.

Os primeiros sintomas
Segundo o dentista, os sintomas surgiram há cerca de 15 dias. No início, ele sentiu dores de cabeça, dor no corpo e febre. Como atua na área médica da rede municipal de saúde, o dentista suspeitou estar com coronavírus e, seguindo as orientações das autoridades de saúde, ficou isolado em casa. Após uma semana, os sintomas pioraram e ele começou a sentir dificuldade para respirar. Foi quando buscou ajuda médica.

“Quando eu comecei a sentir os sintomas, eu já sabia que eles, neste período, eram sinais ruins de que não seria uma gripe comum. A febre estava acabando comigo. Meu caso foi progressivo e foi piorando. Eu estava esperando que sumisse rápido, mas não aconteceu isso. Não acabava. Foi piorando e comprometendo cada vez mais minha parte respiratória até que eu resolvi buscar ajuda porque percebi que eu não ia conseguir sozinho”, lembrou.

“Logo que cheguei ao Hospital Dr. Beda, passei por exames e já me internaram. Comecei a tomar a medicação e a receber oxigênio via cateter. Porém, eu tive pneumonia e meu quadro se agravou. A minha febre era constante”, contou.

O pior momento
Segundo o dentista, o pior momento foi no 10º dia, que é quando o vírus se torna mais agressivo.

“Esse foi o dia que o vírus prejudicou meu pulmão de uma forma muito incisiva. É como se fosse a potência máxima da agressão no meu corpo. Eu estava isolado dentro do quarto sentindo dores, falta de ar, sem conseguir respirar. A respiração fica curta e a sensação é como se a gente estivesse morrendo ‘afogado no ar’, parece que a gente está sendo sufocado pelo peso do próprio corpo”, lembrou.

Foi neste dia que Gerson sentiu que poderia não resistir à doença. “Chegou uma hora que eu achei que não fosse mais aguentar isso. Eu já estava há dias consumido pela febre, então o corpo fica cansado. É uma sensação de morte e tortura, de não conseguir respirar, de não conseguir manter essa sensação vital. Só então a gente vê o quão agressivo é o vírus, o quão séria é essa doença”.

Além da dor física, o dentista contou ainda sobre o sentimento de medo, mesmo com o apoio profissional que recebia. “O psicológico vai embora. É uma sensação muito forte de medo, de solidão. Foram cerca de 15 dias sofrendo com uma doença que é desconhecida ainda e que mata tanto jovem quanto idoso. Até os medicamentos são uma tentativa, porque a ciência ainda não descobriu o remédio que atua 100% contra o vírus, então isso deixa a gente apavorado”.

Gerson tem hábitos saudáveis (Foto: Arquivo pessoal)

Histórico de atleta, ausência de comorbidades e alerta
Embora relate todos os impactos sofridos durante o tratamento, Gerson não faz parte do grupo de risco. Além de não ter nenhuma comorbidade, ele ainda leva uma rotina de alimentação saudável, sem vícios e com prática constante de exercícios físicos.

“Eu não tenho problemas de saúde. Malho em academia, sempre pratiquei esporte, faço parte de equipe de corrida, pedalo em grupos de ciclismo, pratico surf… Sou totalmente voltado aos esportes, nunca usei drogas, não sou fumante e nunca tive vícios. Ainda assim fui muito impactado com essa doença”.

O dentista fez ainda um alerta para que as pessoas se protejam e não coloquem suas vidas e as dos outros em risco. “É uma doença inesperada. Não dá pra saber o que ela vai fazer, se vai ser agressiva em você ou não. Cada organismo reage de um jeito, é como se fosse uma roleta russa. Não adianta a pessoa ser esportista, ter saúde exemplar, não adianta nada disso, o vírus pode te consumir vivo e você pode não aguentar. As pessoas precisam seguir todas as orientações de isolamento e higiene e levar a sério até que algum cientista descubra a vacina”, pediu.

Além de corrida, dentista também surfa, faz musculação e pedala (Foto: Arquivo pessoal)

O início da recuperação
Após dias ‘apanhando’ para o vírus, como descreveu, a melhora veio de forma repentina logo em seguida deste décimo dia, que Gerson afirma ter sido a potência máxima do impacto em sua saúde. “A febre parou de repente. Amanheci um dia e não tive febre mais. Voltei a me alimentar melhor e senti que meu corpo começava a dar sinais de que eu estava vivo. Eu conseguia respirar. Parecia que o vírus desistiu de me machucar e eu estava renascendo novo”, lembrou entusiasmado.

Agradecimento
Após os dias de internação e fora do período mais crítico, Gerson agora continua o tratamento em casa, onde segue em isolamento. Na próxima semana, ele será submetido a um novo exame para saber se está livre da Covid-19. Agora, além dos cuidados, Gerson destaca a gratidão pelos dias em que esteve internado.

“Eu sabia que estava com uma equipe de profissionais capacitados e experientes. Eu só tenho que elogiar e dedicar minha vida, em primeiro lugar a Deus e depois a todos os profissionais que cuidaram de mim de alguma forma os garçons, o pessoal da limpeza, os médicos, enfermeiros, todos. Estas pessoas que estão na linha de frente têm que ser muito valorizadas, porque o risco que elas correm é muito grande e lidar com uma doença dessa é muito difícil”, concluiu.